Prólogo

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Observei o prédio branco com alguns detalhes laranja em minha frente e suspirei. Você não pode desistir, disse a mim mesma, fechando os olhos firmemente. As letras ID estavam até que discretas para o prédio de seis andares em Boston, longe do centro. Afinal, nenhum prédio de assessoria gostaria de ser um ponto no meio da cidade com luzes neons apontando para ele com a frase "estou aqui", para quem tivesse o interesse de ir lá e encher o saco de alguns dos astros e empresas mais famosas e lucrativas da atualidade.

Verifiquei o horário em meu relógio e como sempre, estava quinze minutos adiantada. Conferi em minha mão a pasta transparente com alguns de meus releases mais novos, um portfólio e também algumas cópias atualizadas do meu currículo. Chequei se todos os botões da minha blusa social branca estavam fechados e se a calça social preta não possuía nenhum resquício do meu almoço. Meus saltos pretos estavam ajeitados e meu rabo de cavalo não aparentava ter nenhum fio arrepiado saindo dele. Suspirei, dez minutos. Hora de entrar.

As portas se abriram assim que coloquei o pé mais próximo a ela, sentindo o ar gelado em comparação ao quente de Boston naquela segunda-feira à tarde. Obriguei meus pés a andar até o balcão da recepcionista, apoiei levemente a pasta que estava em minhas mãos e recebi um sorriso simpático da ruiva com sardas no rosto.

- Olá, posso te ajudar? – Ela falou com a maior simplicidade do mundo, mantendo o sorriso branco em seu rosto.

- Eu tenho uma entrevista às 14 horas com Kelly Novak. – Falei tentando manter a confiança em meu peito, mas minhas pernas pareciam uma gelatina e estavam prontas a despencar, e, devido a minha altura, não seria uma queda muito pequena.

- Claro, Felícia, certo? – Confirmei com a cabeça, mantenha-se sorrindo, sorria. – Irei chamá-la, fique à vontade!

Virei meu corpo de lado e vi que dos dois lados da porta havia sofás de couro branco vazios, só eu estava lá. Andei calmamente até um dos sofás e me sentei, apoiando a pasta em meu colo e a bolsa por cima.

- Senhorita Carvalho? – Ergui meu rosto, dando de cara com uma mulher com os cabelos bem curtos e loiros, possuía um sorriso gracioso e um terninho executivo berinjela em seu corpo, não deveria ter mais de 55 anos.

- Sou eu! – Ela abriu um sorriso estendendo a mão para mim, fiquei um pouco confusa se eu me levantava, apertava a mão dela, ou se pegava minhas coisas. Escolhi por apertar sua mão e depois levantar.

- Me acompanhe, por favor!

A segui passando pelos detectores de metais, pelos seguranças e por alguns olhos curiosos que eu tinha certeza que pensavam que eu era um peixe fora d'água e que realmente não deveria estar ali, confiança, Lícia, confiança. Fui levada para uma sala com um ar condicionado mais forte ainda e agradeci mentalmente por ter escolhido uma blusa de manga comprida, só espero que eu não esteja suando pelo pouco tempo que fiquei lá fora.

- Fique à vontade! – Ela apontou para uma das cadeiras na ponta da mesa e eu me sentei, vendo-a fazer o mesmo do lado contrário. Apoiei a pasta na mesa de mogno escuro e minha bolsa se manteve em meu colo.

- Então, Felícia... Conte-me um pouco de você, o que uma brasileira faz perdida em Boston3? – Achei a pergunta até que engraçada, pois Boston é um dos lugares com maior foco de brasileiros no mundo, mas não deixei me abalar. Senti meus ombros relaxarem e tentei fazer com que minha voz saísse o mais normal possível.

A conversa fluiu, dei graças a Deus pelo meu inglês não falhar ou que ela pudesse fazer alguma pergunta que confundisse as palavras e desse algum vexame. Me mantive calma... Até ela fazer a última pergunta.

- Porque eu devo contratar você, uma jornalista, e não os RPs que eu entrevistei essa manhã? – Eu não sabia me vender, e também não estava esperando por aquela pergunta. Suspirei, e tentei me lembrar das aulas de assessoria na faculdade, onde a discussão Jornalista x Relações Públicas eram constantes. Minha voz saiu calmamente, minha descendência italiana descansou, fazendo com que minhas mãos não se mexessem tanto e pude formular com calma a resposta que estava guardada há uns nove anos em minha boca. Ela sorriu.

Steps to a Life Together | Chris EvansOnde histórias criam vida. Descubra agora