PRÓLOGO

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Sabe quando sua vida começa a dar certo? Era isso que estava acontecendo com a minha vida. Depois de mais de dois anos de faculdade de jornalismo, um estágio em uma revista, até que enfim eu e meu irmão Rodrigo conseguimos dar entrada em um apartamento perto da universidade.

Rodrigo é dois anos mais velho que eu, nós perdemos nossa mãe muito cedo. Eu tinha apenas três anos e Rodrigo cinco, fomos criados pelo nosso pai Jorge e a irmã dele, nossa tia Luiza no interior de Porto Alegre.

A ideia de mudar para capital começou quando Rodrigo decidiu cursar direito e agora com vinte quatro anos ele está no indo para o quarto ano de faculdade. Depois de um ano que meu irmão se mudou, decidi abandonar a vida no interior e ir atrás do meu sonho, cursar jornalismo em Porto Alegre.

Naquela noite de verão, nós dois estávamos se arrumando para ir à festa de despedida de Guilherme Medeiros. Amigo de Rodrigo, que eu nunca tive a oportunidade de conhecer, porém sabia que era um gato, ele estava indo passar seis meses na Europa para fazer intercâmbio.

__ Anda Manu, estamos atrasados. __ Rodrigo gritou da sala.

__ Se você tivesse me ajudado a terminar de arrumar a mudança eu não estaria atrasada. __ rebati aparecendo na sala com as sandálias de salto na mão.

__ Eu estava ocupado. __ Rodrigo disse sem tirar os olhos do celular.

__ Comprando bebida para a festa do seu amiguinho. __ sentei no sofá para calçar a sandália.

__ Sim, estava garantindo que a festa seria um sucesso. __ Rodrigo desviou o olhar do celular somente para sorrir para a irmã.

__ Não é a bebida que faz a festa ser um sucesso.

__ Isso por que você não bebe. __ ele me encarou impaciente. __ Anda logo com essas sandálias.

__ Bebida é horrível.

__ Já falei que você é adotada?

__ E eu que você foi trocado na maternidade? __ mostrei a língua para ele, nós éramos como duas crianças __ Estou pronta.

Rodrigo se levantou indo até a porta, enquanto eu pegava a minha bolsa no sofá. Comecei a lembrar como meu irmão me obrigou ir à festa, eu era muito caseira, um filme e uma pipoca já me deixavam feliz. Rodrigo ficou dias falando de como eu deveria sair de casa e que se continuasse na frente da televisão ligaria para nosso pai alegando que eu estava doente. Isso significaria que a tia Luiza e o senhor Jorge passariam quase um mês na cidade me obrigando comer coisas horríveis.

__ Meu celular está tocando. __ disse pegando o aparelho da bolsa __ Alô!

__ Manuela Santana? __ uma voz grave falou do outro lado da linha.

__ Sim, sou eu.

__ Conhece Jorge Santana? __ meu coração se apertou.

__ É um pai. __ Rodrigo ficou alerta nesse momento.

__ O seu pai, sofreu um acidente há poucos instantes. O seu número era o último das chamadas...

Meu coração parou de bater, não consegui terminar de escutar, deixei celular escorregar até o chão e cai sentada no sofá. Arrepios e um péssimo pressentimento estavam tomando conta do meu corpo. Rodrigo pegou o celular e começou a conversar com a pessoa do outro lado da linha, eu não conseguia prestar atenção, estava focando na parede branca na minha frente, mas minha mente estava na última lembrança do meu pai há algumas semanas atrás.

Rodrigo desligou o celular e começou a passar as mãos no cabelo em sinal de desespero, as lágrimas escorriam pelo seu rosto, só de vê-lo eu já sabia o que ele me falaria, mas eu balançava a cabeça negando que poderia ser verdade. Lágrimas escorriam pelo meu rosto quando Rodrigo se agachou na minha frente para dizer as palavras mais dolorosas:

__ Ele se foi.

Idas e Vindas - RepostandoOnde histórias criam vida. Descubra agora