Tomás Holanda

7 1 0
                                    

- Cara, já falamos mil vezes que esse não é o tom da música! Você não entende? - diz  Lucas, desvencilhando a alça do seu baixo de si e se jogando no sofá do estúdio com o instrumento no colo.

- Você não vê que estou nervoso com isso tudo? Não vê que eu nunca participei de algo grande assim? Vocês são pioneiros e eu sou um mero nada nesse universo. Me ajudar seria melhor que me julgar.

E lá vou eu tentar "separar" a briga dos dois. Lucas não se entende com Daniel desde que ele chegou na banda e quase roubou seu título de baixista. Na real, as brigas eram sempre deles com eles, o resto dos caras só riam ou diziam que atrapalhavam e eu sobrava para separá-los. Acho que no fundo eles se dão muito bem.

- Vamos recomeçar, simples. Tom de Sol, Daniel. "A luz e a Sombra".

Lucas levantou irritado, mas voltou para onde seu pedal estava. O outro concordou ao lembrar do tom. Os dois não se olharam mais.

O baterista fez a característica contagem e começamos, ignorando qualquer pequeno erro e provocações vindo dos Causadores de Problemas.

Às vezes uns declives na afinação, um botão errado no pedal, uma palheta caída, uma baqueta mal segurada. Mesmo assim, éramos considerados uma grande banda e sabíamos muito mais disso ao sermos comparados e estarmos lado a lado de sons e melodias incríveis de bandas espetaculares. Ficávamos muito orgulhosos disso.

Surgimos como uma típica bandinha de garagem. Nada muito sério, além de uma brincadeira de amigos adolescentes com um simples objetivo de sermos melhores que Aquelas Bandinhas de Colégio que víamos algumas apresentações. Realmente, ficávamos intrigados pelos dedos frouxos nos trastes e palhetas vacilantes nas cordas. Conseguíamos mais que isso.

Hoje em dia, se não tivéssemos nos desafiado a isso, se essa pequena provocação não tivesse acontecido, acho que não estaríamos onde estamos. Além do instinto competitivo e talvez a "auto-estima" baixa da banda, isso também ajudou. Sempre que os caras duvidavam da nossa capacidade, eu estava lá pra dizer-lhes o contrário, mesmo que eu também duvidasse um pouco. Aquele era meu trabalho, de qualquer forma.

Sobre nosso estilo pessoal: de tudo um pouco. Desde um Indie, Clássico, Blues e Jazz, Rap ou Reagge, tudo dependia do momento e do nosso "mood". Porém, nosso estilo musical mesmo é o Rock. Vamos confessar que, com toda essa globalização e influências de um tanto de estilos diferentes de vários países, o Rock (o de verdade, mas com o tal toque contemporâneo) ficou meio ofuscado, tendo só aparições em bandas de cover. Vamos combinar, o povo gosta mesmo de coisa autoral. E é o que tentamos fazer, sempre nos entregando à coisas novas, nothing to fear.

Nossas músicas variam de críticas sociais, desabafos e sonhos. Nada muito sobre amor, até porquê eu que escrevo/tenho a inspiração para muitas delas, e eu não estou ativado nesse modo por agora. Na verdade, nem sei se estou aberto à isso. Em geral, concluímos as músicas juntos. Letra e melodia.

Finalizamos a música e fiquei imensamente aliviado e feliz como resultado. Talvez por tantas tentativas "falhas" e pelas horas e horas de ensaio. Tinha acabado por hoje.

- E aí, vamos comemorar o ensaio bem sucedido? - Diz Leo, meu irmão, guitarrista assim como eu.

- Bem sucedido só se for pra você, né. -  Lucas, relembrando das briguinhas. Tirando isso, ele se deu muito bem hoje. - Sempre fazemos isso, já é rotina. Estou cansadão... Deixa pra amanhã, belê?

Cada um guardando seu instrumento ou vendo notificações no celular, alguns sorrisos bobos. Confirmamos o horário do ensaio do dia seguinte, o mesmo do de hoje, como foi o mesmo de ontem e anteontem e...

Pegamos tudo carregável do estúdio (a bateria ficava lá, temos consciência do difícil transporte e como seria difícil montar todos os dias, claro) e saímos conversando sobre qualquer coisa e rindo de outras. Somos amigos acima de tudo, o que faz a banda ser mais pra uma brincadeira do que um trabalho massante. Combinamos que iriamos separar a setlist do festival e o assunto banda se encerra assim que nos despedimos. Ideias e qualquer coisa relacionada a isso sempre conversamos em grupo.

- Brother, - disse Leo, entrando no carro, fechando a porta e girando a chave, logo após botar sua guitarra no banco de trás, ao lado da minha. - o que você acharia se eu raspasse minha barba?

Fiquei surpreso com a pergunta. A barba grande de Leo fazia parte do seu estilo há muito tempo. Era incrivelmente maneiro.

- Bom, eu acharia meu irmão gêmeo perdido.

Ele é três anos mais velho, eu sou tantos centímetros mais alto. Por idade e altura (cor do cabelo também, apesar de nem afetar tanto), estamos longes de ser gêmeos, mas nos nossos "traços faciais" é difícil achar uma grande diferença. Deve ser por isso que Leo usa aquela barba, para se diferenciar de mim e porque ouviu dizer anos atrás que homens com barba são mais atraentes. O segundo ponto ele usa em horas mais descontraídas.

- Nossa família está quase criando um abaixo assinado para ela deixar de existir.  

- E os caras? - É impressionante como mencionamos eles sempre, mesmo o assunto nao sendo nada musical.

- Não falei com eles ainda, mas acho que eles não concordariam. Alex tem a barba tao grande quanto a minha.

Comecei a falar vários artistas barbudos e passamos o trajeto até casa falando disso. Também falei o quanto ele ficaria "gatão" sem ela... Acima de tudo, apoiei sua opinião. Ele se espelhava no Santa Claus.

No final, ele acabou decidindo apenas aparar.

__________________❤___________________

Obrigada por acompanhar mais um capítulo de apresentação um pouco mais curto que o anterior heueueueue
Dessa vez com o personagem da nossa Lúcia ( princesa, amores ) com o Tomás  ( crushzao )
Espero que tenham curtido, os próximos capítulos prometem

BEIJINHOS

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Jan 03, 2018 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

EntrelaçosOnde histórias criam vida. Descubra agora