Bryan
Abri os olhos vagarosamente, e antes mesmo de ter a minha visão preenchida pela claridade da manhã, aquele incômodo na região craniana começou a ganhar intensidade, então me lembrei exatamente por que em manhãs como essa eu sempre prometia nunca mais beber.
Garrafas vazias espalhadas pelo chão, corpo dolorosamente pesado, roupas jogadas pelos cantos e uma Sabrina completamente nua em minha cama indicavam que sim, apesar de só ter vagas lembranças e uma dor persistente em minha cabeça, mais uma vez eu extrapolei.
Cambaleante, fui ao banheiro tentando não fazer barulho e me joguei debaixo de uma ducha fria com a esperança de ter uma trégua da enxaqueca que parecia disposta a persistir por todo o dia. Água fria ajudava, mas não trazia o alívio que no momento eu rogava os céus para alcançar.
Ainda com cara de ressaca, me enxuguei de frente para o espelho, ciente que era apenas mais uma segunda-feira com a manhã ensolarada que eu precisava encarar. Me vesti rapidamente e, depois de deixar Sabrina desmaiada em minha cama, com um trânsito lento de merda pela frente, segui para editora. Quando finalmente estacionei meu carro, mentalizei que era só mais um dia, e, como todos os outros, ao final dele eu estaria bem novamente.
Respirei fundo e me esquivei das promessas que fiz em não exagerar aos domingos, mas, como em todas as outras vezes, sempre as quebrava. Como dizia Erika, eu era movido por motivos, não por promessas, porque, segundo meus amigos, não era capaz de cumprir nenhuma delas. E eles tinham razão. E por isso, antes de perder tempo fazendo outra, saí do carro ciente de que aquele, mais do que qualquer outro, eu precisava de um café forte para tentar aplacar a dor incômoda na minha cabeça.
Um novo mês se iniciava, novos projetos para analisar e eu, novamente, de ressaca. Uma realidade tão batida que se tornou ultrapassada, em se tratando das segundas. Mas ao contrário da maioria das pessoas, eu gostava de previsibilidade. Após um breve sorriso para Cibelly, minha recepcionista que conhecia bem essa minha cara, chegue à minha sala. Mas naquele dia, além do copo com o líquido que se tornava mágico em manhãs como aquela, me deparei com a última edição da revista Focco em cima da minha mesa, que trazia novamente a Angelina Paytron como matéria de capa.
O nó na garganta se formou antes mesmo de qualquer pensamento. Respirando fundo, eu me perguntei se um dia seria agraciado ao olhar para uma foto dela e não sentir nada.
Nada.
Uma palavra que representava bem o que significávamos na vida um do outro.
Relaxe, Bryan, tem dois meses. O jogo acabou e ela novamente venceu, não vai mais voltar.
A frase girava por minha cabeça, mais como uma prece do que um mantra, enquanto meu olhar traidor se mantinha fixo em sua foto de capa. Maquiagem marcante, uma pose sensual exibida em um look tão atrevido quanto convidativo. Se eu já não conhecesse bem a pessoa por trás daquele rosto estupidamente perfeito, teria sentimentos bem mais generosos e sexuais ao me deparar com cada nova foto exposta nas páginas da revista.
Mas eu sabia como ela era, e por esse motivo lamentava por um dia tê-la conhecido, enquanto meus olhos vagavam por páginas que exaltavam seus grandes feitos na carreira e por ganhar novamente o título de modelo do ano. Eu sabia e parecia estúpido admitir naquele momento, sendo que, há apenas alguns meses, minha boca estava na dela. E indo além, teria bem menos arrependimento se fosse só a boca, mas eu merecia passar por tudo isso. Porque depois de tudo, de todas as merdas, ainda fui capaz de permitir que ela se aproximasse novamente.
O preço é alto quando apostamos na ilusão. E em se tratando de Angelina, meu coração parecia quase implorar para se iludir.
Continuei a folhear a matéria sem me render, tudo que meu cérebro processava era que eu precisava manter uma distância segura. Porque ela era boa, não só em foder na cama, mas com a porra da minha vida também.
Entre páginas e goles de café, tudo parecia seguir seu curso. Talvez fosse a porra da enxaqueca, mas sorri de canto ao me certificar que finalmente Evelyn, minha nova assistente, havia acertado na escolha do machiado — cinquenta por cento café com uma mancha de leite cremoso no topo. Mesmo sem entender o porquê de a revista estar em minha mesa e ignorando essa contradição de sentimentos — a bagunça que ela sempre deixava para trás —, continuei, sabe-se lá por que diabos, até chegar à foto que prendeu minha atenção. Nós dois juntos no evento de lançamento do livro.
Merda!
Como ela pôde?
Angelina Paytron anuncia pausa na carreira para se dedicar aos preparativos do casamento. Apesar de o mundo da moda ser pego de surpresa, a modelo mais bem paga do ramo se diz realizada, não apenas na carreira, mas em tudo que conquistou, e mediante a isso, agora quer cuidar do coração. Confessando inclusive, que ela e seu noivo, Bryan Martin Claret, muito apaixonados, acreditam ser esse o momento certo para a união.
DOIS MESES!
Dois meses sem a porra de uma notícia, uma única satisfação ou um mero pedido de desculpas. Dois meses sem uma tentativa de contato, sem explicações, saudades, brigas, nada... dois meses sem uma palavra dela. Depois de tudo, ela faz uma merda dessa?
Precisei ler três vezes para ter certeza de que era o meu nome escrito ali. Antes que eu pudesse assimilar a notícia, meu celular chamou a minha atenção ao vibrar em meu bolso, só então notei que ele estava no silencioso e eu tinha várias chamadas perdidas. Fui direto às mensagens, e ao ver a última senti meu coração bater descontroladamente.
Parabéns, bebê, espero que esteja tão feliz quanto eu pelo nosso casamento.
É assim que você passa a viver no inferno, ou, no meu caso, volta a ele? Que porra essa louca estava armando agora?
Puto, peguei o telefone e liguei para Angelina, mas caiu direto na caixa postal. Em seguida, tentei de novo, e de novo e de novo, mas nada, sempre caixa postal.
Alguns minutos depois, Evelyn entrou toda sorridente na minha sala e me olhou de um jeito que beirava à bizarrice.
— Parabéns pelo casamento com a srta. Paytron. Sou uma grande fã dela, ela é magnifica, sem contar como é linda... — Devo ter feito uma cara tão feia, que minha assistente tentou se justificar rapidamente. — Desculpe, não queria parecer invasiva, mas o senhor está em vários sites de fofocas e...
— O quê? — praticamente gritei. — Como assim?
Ela se aproximou e me mostrou a tela do celular, e lá estavam fotos minha ao lado de Angelina no lançamento do livro. Vários sites anunciando o suposto casamento.
— Evelyn, isso é mentira!
— Não é não, a assessoria dela confirmou, está tudo aqui. — Minha assistente apontou para a matéria.
— É mentira, estou dizendo que é mentira.
Um tanto constrangida e confusa, ela me encarou.
— Me desculpe, senhor, mas está em todos os sites, então achei que fosse verd...
Antes que ela pudesse terminar a frase, levantei minha mão para atender meu telefone que começou a vibrar. Era Mike.
— Como que o “bem-sucedido empresário” do ramo literário vai se casar e não comunicou aos amigos? — Ele frisou o bem-sucedido empresário, claramente debochando.
De todos os caras da turma, eu era considerado o menos bem-sucedido, e não era mentira, mas eu pouco me importava com isso. A maioria deles priorizava dinheiro, enquanto eu apenas queria viver, aproveitar o presente.
— O quê?
— Abri o Celebridades e o vi na primeira página com a manchete: Angelina Paytron comunica seu casamento com o bem-sucedido empresário do ramo literário, Bryan Martin Claret. Apaixonados, eles não querem mais adiar. — Ele continuou lendo a matéria e cada vez que mencionava o bem-sucedido empresário, Mike caía na risada. Merda!
— Vai à merda, Mike. Você sabe que isso é mentira, não perca seu tempo com isso.
Estava para encerrar a ligação quando sua voz soou do outro lado da linha.
— Não é, não. Além de vocês estarem em primeiro lugar no trending topics do Twitter, a assessoria dela está confirmando tudo, cara.
— Foda-se a assessoria dela, ou o Twitter eu estou dizendo que é mentira! — afirmei em um tom tão alterado, que Evelyn pareceu se assustar.
— Cara, saiu na Focco, a maior revista de moda, e sei que ela tem credibilidade no mercado. Amigo, entre a Focco e você... sinto muito, meu caro, mas acredito neles — provocou e caiu na gargalhada.
— É problema seu, então, Mike. Agora não posso mais perder tempo com isso, tenho problemas de verdade para resolver. Preciso desligar — disse, irritado.
Antes de encerrar a ligação, o nome de Adryan apareceu na tela em outra chamada.
Puta que pariu! Merda dupla!
— Ainda somos amigos? — ele perguntou em seu habitual tom sério, enquanto eu pensava em como justificar essa mentira. — Cara, você está na Focco, virou celebridade agora.
Então ouvi ao fundo a risada de Mike e Priscila, ou melhor, a gargalhada deles.
— Está faltando serviço aí, hein? — pontuei, me sentindo sufocado.
— Não, Bryan, agora é sério. O almoço ainda está de pé ou temos que confirmar com a sua assessoria? — ele insistiu, arrancando novas gargalhadas.
— Dá um tempo, vai — disse, mais frustrado ainda.
— Ei, cara, que isso? Mas, me diz uma coisa, agora é sério. — Ele fez uma pausa. — Quando o empresário bem-sucedido do ramo literário vai se casar? Não somos celebridades, mas somos seus amigos e queremos estar presentes — concluiu e caiu na gargalhada. Os idiotas pareciam estar se divertindo a minha custa.
— Adryan, pare de andar com o Mike. Você costumava ser o chato da turma, não o palhaço. E só para te lembrar, Amy se apaixonou pelo chato, e só tem uns dez por cento dessa cara aí em você, então, para o bem do seu casamento, volte a ser ele.
Ao perceber o quanto eu estava irritado, ele parou de rir.
— O.k. Chega de brincadeira. Mike e Priscila, podem voltar a trabalhar — Adryan disse e logo voltou a sua atenção para a ligação. — Agora me fala, você sabe por que ela fez isso? A Focco é uma revista renomada, de credibilidade, ela não ia inventar uma história dessas. Vocês estão juntos? — Havia curiosidade em seu tom, diria até certa malícia.
— Não, e fico surpreso por você achar isso. — Ele não disse nada, então concluí: — A última vez que a vi foi no evento de lançamento do livro. Não sei o que esse demônio pretende com isso, ou aonde quer chegar. Fiquei sabendo dessa loucura como todos vocês, pela revista. Tentei ligar para aquela maluca, mas só deu caixa postal, também estou no escuro, sem entender nada.
— Bryan, Angie sempre foi muito dedicada ao trabalho, ela não usaria uma matéria de uma revista importante para disseminar mentiras. Pode ser só uma jogada de marketing com o lançamento do livro... expandir os negócios, dar visibilidade — ele sugeriu, parecendo chegar a essa conclusão.
— Adryan, em se tratando da Angelina está perguntando para a pessoa errada. Eu não sei nada sobre ela, não sei o porquê ou qual a intenção dela com essa merda. Mas, cá entre nós, ela nunca foi muito racional, então não me surpreende essa loucura, seja lá o motivo.
— Se quiser, posso te passar o telefone do empresário dela, assim vocês podem conversar e tirar essa história a limpo, já que seu nome está envolvido.
— Me envie por mensagem, mais tarde eu ligo para ele ou, pensando bem, você poderia ligar, já que se preocupa e tem mais intimidade que eu. — Soou ríspido, eu sabia, mas queria deixar claro que queria encerrar o assunto, e tinha certeza de que ele percebeu.
— Entendo, depois nos falamos.
Um dia de merda, foi isso que eu tive. Com essa mentira, Angelina conseguiu fazer o meu dia na editora ser a porra de uma confusão. Telefone tocando a cada segundo, revistas de fofoca querendo fazer entrevistas, ou apenas uma confirmação. De repente, meu mundo virou do avesso por conta de uma mentira publicada em uma revista.
Até Sabrina me ligou indignada, gritando que eu era um filho da puta, safado. Pensei em protestar, mas quando ela disse que estava tudo acabado entre nós, decidi ficar quieto, os nossos encontros estavam começando a ficar recorrentes, então aproveitei a oportunidade para colocar um fim em algo que estava começando só na cabeça dela, pois sempre deixei claro que era somente sexo.
No almoço, encontrei com Mike e Adryan e, obviamente, as piadas continuaram. Quando finalmente encerrei o expediente, passei na casa dos meus pais e fiquei grato por eles não acompanharem esse mundo de celebridades. Agora eles vinham se dedicando à jardinagem, isso estava ajudando bastante na terapia da minha mãe contra a depressão.
Estava tão dominado pelo ódio, que se Angelina aparecesse na minha frente, eu nem saberia dizer o que seria capaz de fazer com ela.
Antes de chegar à minha casa, Erika me ligou, mas diferente de Adryan, Mike e todos os outros desocupados que se intitulavam meus amigos que tiraram uma com a minha cara o dia todo, ela não fez nenhuma piada. Eu só tinha duas pessoas que poderia conversar e realmente me abrir — ela e Amy —, no entanto, Amy estava na reta final da gestação e seu foco era o nascimento da Bia, então achei melhor não a preocupar com mais esse problema.
— Bryan, por que ela fez isso? — Erika e seu imediatismo nato.
— Não sei. E eu tinha a esperança de que essa desgraçada havia me esquecido.
— E o que pretende fazer?
— Desmentir.
— Mas é uma mentira mundial, sabe que será mais complicado.
— Erika, você é a única dos meus amigos que sabe como Angelina foi um demônio comigo, infernizou a minha vida. Não sei como ela vai fazer, mas ela vai ter que acabar com essa merda!
— Por que ela fez isso? Caramba, essa mulher é uma pessoa pública, uma celebridade. Notícia falsa não é algo bom para alguém com a credibilidade dela. Então, por que agora?
— Não faço a mínima ideia. Passei o dia questionando a sua sanidade, tentei entrar em contato com ela, mas não consegui. Tentei o empresário, mas ele não me atendeu. Sinceramente, não estou entendendo nada. Ela é assessorada, e muito bem, para deixarem que merdas como essa criem asas. Então, por que eles não fazem nada?
— Bryan, será que tem alguma coisa a ver com aquela cláusula do contrato? — ela perguntou com receio.
— Não — respirei fundo, derrotado —, quer dizer, é a porra de uma multa milionária, não um casamento.
— Sim. Mas se ela decidir cobrar, o que você vai fazer?
Agora o ar pareceu ficar preso nos meus pulmões.
— Vou ficar na merda — finalmente confessei. — Me diz por que fui assinar aquela porra de contrato?
— O problema é que você confiou na Amy, o que não te exime da culpa, claro. Você deveria ter lido, no entanto, sabemos que estava ocupado demais comendo a modelo para notar isso. — Ela jogou essa verdade na minha cara.
Algo ruim de alguém saber tudo sobre você é justamente poder jogar na cara as merdas que faz.
— Erika, só pra saber, você está do meu lado?
— Claro que estou, mas pensar com o pau só te mete em confusão. Sabrina é outra que anda fazendo planos para se casar com você.
— Alguma coisa me diz que ela já desistiu. — Nós dois rimos. — Merda, que estresse arrumei para a minha vida.
Apesar de tudo, Erika tinha razão, sempre teve. E se eu a tivesse escutado antes, não teria me metido em um problema desses.
Sem ter o que questionar e com a cabeça fervendo, me despedi dela e acabei desligando. Abri o portão e estranhei ao ver uma luz acesa na casa. Devo ter esquecido, provavelmente.
Assim que entrei em casa, levei um susto do caralho. O demônio estava sentado no meu sofá. Acho que demorei alguns minutos para me recuperar. Me questionei como ela conseguiu entrar, uma vez que troquei a porra da senha de acesso, mas entre todos os meus problemas, esse era o menor deles.
Precisando de respostas, corri em sua direção e a puxei pelo braço.
— É com você mesmo que eu quero falar. Que porra é essa, Angelina? Que merda está aprontando?
Seu sorriso surgiu, e ainda que eu estivesse claramente puto, ele continuou intacto em seus lábios.
— Bebê, eu também estava com saudade, mas não precisa ser tão viril. Você está me machucando. — Olhei para ela, mal acreditando em suas palavras. — Pode me soltar? Precisamos conversar.
Soltei-a, mesmo sem querer.
— Angelina, por que inventou aquela mentira? — perguntei, irritado.
— Qual? — Ela deu uma de desentendida. — Se está falando do nosso casamento... Vai ser um grande evento, bebê, merece toda essa atenção.
— Você é louca?! — gritei. — Que porra de casamento?
— Ah, bebê, você sabe que somos destinados a ficar juntos. Eu te amo e você me ama. Você me prometeu isso quando me entreguei a você, eu acreditei em cada palavra. Com o passar dos anos achei que isso nunca aconteceria, mas bastou uma noite juntos para que eu percebesse que você só precisava de uma ajudinha para cumprir a sua promessa. Amor, estou mais do que disposta a te ajudar.
Porra, ela estava louca, não tinha outra explicação. Angelina continuou sorrindo, e esse sorriso me irritava pra caralho. Tentando manter o controle, apontei para a porta.
— Angelina, isso não vai acontecer nunca. Saia daqui e chame a sua assessoria para desmentir essa merda.
Aquele sorriso endiabrado apareceu novamente em seu rosto, como um exímio jogador que sabia que a porra do jogo já estava ganho.
— Ah vai, vai sim. E vou te contar um segredinho — sussurrou ao se aproximar do meu ouvido. — Em menos de um mês, vamos estar casados. Desculpa, bebê, eu também achei que tinha te superado — ela tocou o meu rosto —, mas descobri que quero te dar outra chance, sei que só seremos felizes juntos — ela disse com tanta convicção, que acabei rindo.
— Vai me dar uma chance? Em que mundo você vive para achar que eu, depois de toda a merda que você fez naquele evento, que gerou consequências graves, iria me casar com você? Angelina, você expôs Amy, Adryan e eu de uma forma mesquinha e vil. Fez da vida da Amy um inferno, quase a perdemos e...
— Ah, por favor, Bryan, por acaso era eu quem estava dirigindo o carro que a atropelou? Ou a empurrei? Não seja ridículo. O acidente aconteceu bem depois e, querido, se acha que podemos culpar os outros pelos nossos erros, está enganado. Mas olhe pelo lado bom, era amor verdadeiro, afinal, estão juntos e felizes, como nós também iremos ficar.
— Deus, você é perturbada mesmo. E o pior é que fez merda e sequer é capaz de admitir. Para não continuar alimentando essa loucura, vou ser bem sincero com você. Não vai acontecer nem aqui nem no inferno, eu te garanto. Agora vá embora e me esqueça.
— Vai sim, bebê. — Ela riu novamente e desviou o olhar. — Some o valor de mercado da sua editora, mais a sua casa, a dos seus pais e a casa de campo. — Angelina agora ria com soberba, revelando suas cartas. E para a minha merda de sorte, eu sabia exatamente aonde ela queria chegar. E ficou evidente pelo meu olhar assustado. — Então, bebê, some tudo, tudinho, pode incluir os carros também, vai ajudar. E, adivinha? Esse valor não paga a multa da cláusula penal. — Ela voltou a rir.
Frustrado, desviei o olhar.
Que merda!
Porra!
Caralho!
Eu não conseguia acreditar que tinha escutado isso.
— Você jogou sujo, Angelina. Falou para a Amy que todos os seus contratos eram celebrados daquela forma...
Ela riu, agora com mais malícia.
— Eu não menti. No entanto, todos com quem costumo negociar, além de terem como arcar, sabem cumprir o contrato.
— Pelo amor de Deus, Angelina, isso é ridículo. Não está fazendo isso por tiragem de livros. Você garantiu que era o suficiente.
— Essa garantia está no contrato? Acho que não. — Sorriu novamente. — Bebê, o plano é observar esses pequenos detalhes, porque uma coisa que você precisa aprender é que a vitória está neles.
— Não tenho que pagar de uma só vez, posso fazer isso aos...
Ela levantou o dedo indicador e o moveu de um lado para o outro, negando, enquanto continuava com aquele mesmo olhar endiabrado.
— Bebê, cláusula penal é para que nenhuma parte saia lesada. E como eu sou a parte que está sendo lesada, enquanto aguardo meus advogados, vim aqui te notificar pessoalmente. Normalmente, dá-se um prazo improrrogável para o cumprimento, sob pena de medidas judiciais, ou seja, se não cumpriu, eu vou entrar com a ação. E meus advogados vão fungar no seu cangote, todos atrás dos seus bens. E não pague para ver, porque ao contrário de mim, eles não são bonzinhos.
Respirei fundo, agora mais do que nunca ciente da merda que fiz.
— Isso é ridículo, uma nova tiragem já está em produção e deve...
Ela riu.
— Depois de dois meses? Acho que nenhum juiz vai levar em consideração.
— Merda! Angelina, por que está fazendo isso? São meus pais, sabe que não tenho condições de pagar a multa, não de uma vez. Mas olha, a nova tiragem sai em um mês, e se quiser paro com todas as outras publicações e todo o investimento da editora será direcionado apenas para o seu livro, eu...
— Não, bebê, calma. Eu não quero fazer isso com você ou com os seus pais. Não, isso seria demais para eles. Seria horrível que eles vissem que você perdeu tudo o que eles construíram — ela falou com deboche, e eu odiei ouvir as palavras dessa mulher. — Por isso que estou aqui, aceitando me casar com você.
— O quê?! — disse, me afastando para não fazer merda. — Por que quer se casar comigo? Angelina, se está assim por Adryan ter se casado, ou, sei lá, porque eles vão ter um bebê... eu entendo. Entendo mesmo, mas não precisa ir por esse lado. Essas coisas acontecem, dá para superar sem agir feito louca, entende?
— Ah, bebê, acha mesmo que isso é pelo Adryan, ou que me importo com ele e com a sonsa? — Ela tocou meu rosto. — Eu já disse, isso é sobre nós dois. Fico emocionada ao ver o seu entusiasmo. — Ela mordeu os lábios, segurando o riso.
Definitivamente, eu odiava essa mulher.
— Merda! Você não pode querer se casar comigo, eu te odeio — afirmei, olhando em seus olhos verdes intensos.
— Tudo bem, eu aceito isso. Eu sei que o ódio nada mais é do que o amor mal correspondido, carente de atenção. Eu estou aqui para corresponder, consertar isso, sei que vamos ser muito felizes juntos.
— Angelina — respirei fundo, querendo controlar a raiva —, eu vou te pagar. Vou vender essa casa, meu carro, pego o que tenho no banco e...
— Bebê — ela me encarou de maneira maldosa —, você não tem nada no banco. Na verdade, você não tem nada. No mundo em que vivo, o seu dinheiro não é nada. Mas não se preocupe, eu vou te fazer chegar lá. Querido, eu vou te mostrar o que é fazer dinheiro, sua conta bancária vai ter tantos dígitos, que até mesmo seus amigos vão ter inveja de você.
— Puta que pariu, você realmente é louca!
Naquele momento, eu sentia ódio dela e de mim. Que merda eu fiz com a minha vida ao jogar com esse demônio. Me sentei no sofá, minha cabeça agora explodia, pensamento acelerado, sangue quente, mãos trêmulas, a razão me implorando para manter a calma.
— Amorzinho, eu comprei a nossa casa, sei que você vai amar. Estou sabendo dos problemas que está passando com a sua mãe, acho que um cruzeiro pela Grécia irá fazer bem aos dois, até comprei as passagens e...
— Você o quê?! — perguntei, não querendo acreditar nas palavras dela.
Adryan tinha razão, uma pessoa em seu estado normal não agiria dessa maneira.
— Comprei, bebê. Vai ser logo depois do nosso casamento. Você vai querer uma cerimônia mais íntima na Itália, ou Paris? O que acha? Tem algo em mente?
Levei as mãos à cabeça e apoiei os cotovelos nas pernas. Frustração era pouco para o que eu sentia no momento.
— Eu não entendo... por que está fazendo isso? Angelina, não precisa ser assim. Se acha que temos uma chance, vamos pelo caminho certo.
— Bryan, não. — Arqueou a sobrancelha, provocando. — Eu sei como funciona o jeito certo para você e, adivinha, não funciona porra nenhuma! Já nos conhecemos há tempos, nos amamos e vamos nos casar. Chega! Acabou a discussão. O mais difícil você já conseguiu, eu aceito.
Ela me fez rir. Merda. Me fez gargalhar a ponto de quase chorar. Angelina não ia desistir, não importava que porra eu falasse, ela não abandonaria essa ideia. Ela se aproximou, se agachando à minha frente.
— Confie em mim, você precisa de mim. E isso não é ego, bebê. — Ela sorriu. — Você vai ser muito grande, farei isso acontecer. — Acabei rindo. — Por que você acha que todos enlouquecem para fechar contratos comigo? Vou te introduzir no mercado, e os grandes escritores irão correr para publicar livros com você.
— Meu Deus, o pior é que você acredita nessa loucura, não é?
— O amor nos torna um pouco loucos, pode acreditar. Vou te enlouquecer também.
— Já faz isso na força do ódio — desabafei. — Você claramente não está bem, Angelina, esse casamento não tem chance alguma de dar certo.
— Interessante... Acha mesmo que tem a possibilidade de não sermos felizes juntos? Você tem pouca fé no amor, precisa melhorar isso.
— Não, eu não acho, estou apenas englobando as possibilidades, afinal, somos apaixonados, não é? — ironizei.
— Vamos nos casar em um mês. — Ela me deu um sorriso vitorioso. — Está decidido.
— Angelina, você realmente não está bem. Não sei se está fazendo tratamento com um psiquiatra, mas precisa. Ter uma transa boa, ou no nosso caso, algumas, não significa que temos que nos casar, caso contrário, eu estaria casado há anos. — Sua expressão se tornou séria ao me escutar. — Não estou falando do passado, aquilo acabou há muito tempo, falo da última vez que ficamos. Foi bom, muito bom, admito, mas não passa disso. Eu nem mesmo sou um cara fiel, e você merece bem mais do que alguém como eu — disse, tentando de alguma forma fazê-la raciocinar.
— Bebê, eu sei que no início pode ser complicado para você, mas estou disposta a lutar por nós. Não se preocupe, eu não vou desistir, não importa o que você faça. Vai dar certo, eu te prometo.
— Você não está sendo racional, isso nunca vai dar certo. Casamento algum pode ficar bem se uma das partes está sendo forçada.
— Bryan, eu já decidi. Só precisamos de uma chance, e eu vou te dar...
— QUE PORRA, ANGELINA! — gritei. — É loucura! Não vamos ser felizes juntos, não vamos voltar no tempo em que fomos apaixonados. Aquilo que vivemos morreu lá, entende? Você seguiu a sua vida, eu segui a minha. Esquece essa merda e vá viver, porra! — O mais louco era que ela parecia fascinada por me ver perder a cabeça.
— Bebê, bebê... O.k., eu já disse que aceito me casar com você. Estou decidida a não deixar nada nos atrapalhar, nada me fará desistir de nós.
— Se você me obrigar a entrar nessa merda, eu juro que vou fazer da sua vida um inferno — ameacei com grosseria, e a praga riu. Somente riu.
— Já é sem você, por isso estou nos dando uma chance. Quero sair dele e só você pode fazer isso por mim.
— Eu não vou mudar a minha vida por sua causa.
— Vai querer mudar, tenho certeza disso. Agora eu preciso ir, tenho um casamento para organizar, que por acaso é o nosso. Você pode até opinar se quiser, estou aberta a sugestões.
Eu permaneci em silêncio, apenas esperando acordar desse pesadelo, ciente de que tudo não passava disso. Um pesadelo.
Angelina se levantou, soprou um beijo para mim e simplesmente saiu.
Minha noite foi uma merda.
No dia seguinte, cheguei à editora às seis e fui direto pegar o contrato. Ao ler a cláusula novamente, dei um murro em minha mesa. Respirei fundo e liguei para Erika, como boa advogada que ela era, apesar de já ter deixado claro que me meti em problemas, poderia me ajudar. Ela conseguiria uma saída provisória, talvez recorrer... não sabia. Mas Erika me ajudaria.
Falei com ela e contei tudo que Angelina tinha me falado na noite anterior, até sobre as ameaças. Como estava de saída para uma audiência, ela sugeriu que almoçássemos juntos e que eu levasse a merda do contrato para que ela pudesse analisar melhor as possibilidades.
Estava decidido, se Angelina queria fazer da minha vida um inferno, eu também estava disposto a fazer o mesmo com a dela.
***
Comente por favor quem vai acompanhar se eu postar o livro aqui, por favor.
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Implacável Destino
ChickLitUm amor esquecido no tempo. Um intenso desejo por vingança. Um casamento por contrato.