O vento forte fazia meu cabelo bagunçar enquanto eu corria pela rua atrás dele. As vestes pesadas protegiam meu corpo e meu rosto do frio, mas não me protegiam do aperto que eu sentia no peito. Não tinha nenhuma certeza de que estava no caminho certo, mas algo em mim dizia que sim. Uma espécie de radar interno fazia com que eu seguisse sempre em frente.
Onde você está?
Havia horas que ele tinha sumido com aquela promessa de que nunca mais voltaria. Obviamente não pensei que estivesse falando sério, mas depois de tanto tempo, meu cérebro vagava por caminhos estranhos e obscuros. Estaria vivo? Ele não tinha levado uma blusa, e a temperatura havia caído de maneira absurda. Eu teria sentido se alguma coisa ruim tivesse acontecido com ele? O que me restava era torcer para que tudo estivesse bem.
Peguei o celular no bolso e disquei mais uma vez o número que eu havia memorizado há tanto tempo, dentro do ônibus, quando nos encontramos pela primeira vez. Vamos, Valério, atende. Já devia ser a milésima vez que eu ligava, mas não obtinha nenhuma resposta.
Continuei correndo, já tinha revirado quase toda aquela parte da cidade sem encontrar nenhum vestígio. Lembrei de nossa última noite de amor, quando ele prometeu que ficaria comigo até a eternidade. Mas tudo isso foi antes, quando as coisas estavam boas, quando não sabia que seu irmão havia morrido de maneira tão trágica. Não era sua culpa que ele tivesse se metido em uma confusão com a polícia, mas Valério ainda se martirizava.
— Ele só entrou nessa vida criminosa por minha causa, Martin — ele disse para mim.
— Você é um bom policial, não tem culpa se ele escolheu o caminho errado — tentei argumentar.
— Não seja ingênuo, Martin, sabe muito bem que eu nem sempre fui essa pessoa que você conhece. Eu até ajudei o Beija-Flor a conseguir o dinheiro e fugir quando ele sequestrou aquele garoto.
— Eu sei disso, mas você também sabe que nada demais aconteceu, o garoto está bem, continua rico, e o nosso amigo Beija-Flor vai ficar por um bom tempo no escuro agora, sem fazer nada muito extravagante.
— Não dá mais, o Léo está morto, eu preciso sair dessa casa, preciso me afastar de você — disse Valério.
— Sai um pouco, vai tomar um ar fresco, ajuda a espairecer.
— Eu vou sair, mas eu não vou voltar mais, Martin. Nunca mais. Não posso ser feliz com você, devo isso ao meu irmão.
Valério saiu de casa e esperei por um tempo, pensando que ele só estava um pouco deprimido, que precisava descansar. Talvez estivesse achando minha presença sufocante, ou quisesse apenas ficar sozinho e chorar. Mas as horas passaram e ele não voltou. Agora eu corria pelas ruas da cidade, carregando seu casaco preferido, tentando encontrá-lo antes que fizesse alguma besteira e decidisse se juntar ao caçula.
Os dois se davam muito bem quando eram menores, mas foi difícil para Léo aceitar a sexualidade do irmão. Quando Valério entrou para a polícia e se afastou um pouco das más influências, Léo disse que não seria um "policial veadinho" igual ao irmão e entrou para o mundo do crime. A única pessoa daquela época que continuou na vida de Valério foi Beija-Flor, por quem ele era apaixonado quando mais novo. No início, senti ciúmes, mas merda, até eu fiquei balançado quando vi Beija-Flor pela primeira vez. Aquele não é o tipo de homem que você encontra quando vai ao mercado, ele tem uma presença que marca qualquer um. Mas não era ele que eu amava e também tinha certeza de que Valério já não pensava mais em Beija-Flor daquela forma. Agora os dois estavam ligados pela perda de um irmão.
Lembrei-me do parque onde Léo costumava ir para andar de skate e corri naquela direção. Talvez Valério estivesse lá, aquele era o local onde sempre ia primeiro quando queria encontrar o irmão. Não estava longe, então logo cheguei. Procurei pela pista, olhei em volta, perto das árvores, mas não havia nada.
Estava quase indo embora, quando reparei em algo caído no chão. Era uma foto do irmão que ele carregava na carteira. Definitivamente havia ido até ali, mas talvez eu tivesse chegado tarde demais, talvez ele até estivesse voltando para casa por outro caminho. Olhei em volta mais uma vez, para confirmar, quando vi seus tênis caídos perto de um prédio que ficava ao lado, abaixo da escada de incêndio. Corri até lá e vi seus pés perdurados na beirada, bem no alto do prédio, completamente imóveis.
Não, ele não podia estar morto!
Esqueci completamente do medo que tinha de alturas, e subi correndo, dois degraus de cada vez. Quando cheguei ao alto, encontrei Valério deitado no chão, de olhos fechados, estático. Sua pele estava pálida de maneira preocupante, seu peito não parecia fazer movimentos de respiração e ele estava completamente gelado.
— Valério, por favor, acorda! — eu disse sacudindo seu corpo.
Não obtive resposta.
— Por favor, meu amor! Não faz isso comigo!
Lentamente, senti um movimento em seus olhos, que foram se abrindo.
— Martin? — disse com dificuldade.
— Ah, graças a deus você está vivo!
Peguei o casaco que carregava e vesti em seu corpo frio. Também tirai a minha própria blusa e coloquei sobre ele, abraçando-o bem forte, para que se esquentasse com a temperatura do meu corpo. Aos poucos, foi recuperando a consciência e a cor foi voltando à sua pele. Foi então que ele começou a chorar.
— Desculpa, desculpa — ele disse.
— Não precisa se desculpar, o que importa é que você está bem.
— Não, eu ia pular, subi aqui para isso, mas eu não consegui, não tive coragem. Eu não podia, não podia fazer isso com você.
— Fico feliz que não tenha feito — disse com lágrimas nos olhos.
— Eu só fiquei deitado, mas começou a esfriar e acho que acabei dormindo em algum momento.
— Você podia ter morrido congelado, ainda bem que te encontrei, vai ficar tudo bem agora.
— Como me achou aqui?
— Não sei bem, eu apenas segui meu coração. Procurei por você por muito tempo.
— Está anoitecendo — ele disse.
Olhei para o céu e percebi que já estava quase que totalmente escuro. As estrelas brilhavam, sua luz atravessando o ar gelado que cobria a cidade. Estava abraçado com meu amor, olhando para o céu, quando vimos uma estrela cadente.
— Faça um pedido — disse para ele.
Fechei os olhos, fiquei concentrado e pedi também. Queria que Valério ficasse bem, que superasse aquele trauma, que pudesse voltar a ser feliz como era antes. Quando ia abrindo, ele colou seus lábios aos meus, dando um beijo suave e doce.
— O que pediu? — perguntei quando nos separamos.
— É segredo — ele disse.
— Tem medo de não realizar?
— Não, eu tô brincando, vou te falar. Pedi que quando a gente chegar em casa, eu coloque minha farda de policial e que a gente brinque de polícia e ladrão de um jeito bem sexy. O que acha de algemas?
— Safado, você já está bem! — falei rindo. — Mas tá bom, eu aceito.
— Então vamos logo, que o cassetete já está preparado aqui.
Descemos a escada rindo e fomos para casa, onde fizemos amor por um longo tempo. Valério ainda não estava completamente recuperado, mas eu sabia que não ia me dar um susto daqueles de novo. Se dependesse de mim, ele seria o homem mais feliz do mundo, mesmo que nem ele acreditasse que isso era possível.
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Oi, amigos!
Esse é o conto do policial que é contato do Beija-Flor. O que acharam? Querem que esse casal apareça em mais contos aqui? São vocês que mandam, se quiserem saber mais sobre eles, eu escrevo!
Não deixem de comentar, votar, me seguir. Sei que é chato eu ficar pedindo toda hora, mas é assim que vocês ficam sabendo se eu postar coisa nova!
Espero que tenham curtido o conto e em breve tem mais!
Ah, e só para deixá-los curiosos, no próximo conto teremos o Luiz narrando uma noite de muito sexo. Aguardem.
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Voando perto das estrelas (livro gay)
Teen FictionQuem é o amigo de Beija-Flor na polícia? Como foi a noite de sexo do segurança Luiz com seu amigo gay? Como vivem os amigos de faculdade do Príncipe? Como era a relação de Beija-Flor com o irmão, Lipe? O que o time de seguranças faz para proteger a...