P R Ó L O G O

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Era tudo tão colorido e inocente.

Tão puro e fácil.

Os problemas eram murmúrios pequenos, distantes e sem sentido, que somente os adultos sabiam como solucionar, ainda que nem mesmo eles soubessem o que fazer. Mas o pensamento continuava firme, eu acreditava que funcionava assim. Acreditava que por trás de todos aqueles sorrisos, existiam pessoas felizes de verdade. Pessoas que sabiam viver.

Minha pequena cabeça, desprotegida e cheia de fantasias, acreditava ingenuamente nas oportunidades que seriam abertas quando eu crescesse; seria diferente, pois eu iria sorrir como todas aquelas pessoas. Então, eu cresci. E compreendi, naquele momento, que as oportunidades, no plural, não existiam para mim. Ou eu era invisível para elas.

Uma única oportunidade é dada igualmente a todos, que é o direito de distinção, o livre árbitro de poder escolher. E o que fazem com essa oportunidade é o que os levam para a vida. É o que nos faz ser diferentes. Cada escolha é impulsionada por nossas vontades, desejos e até mesmo de um sonho. E, mesmo capazes de trazer mudanças, nenhum possui força suficiente para apontar a direção certa. Nenhum possui poder para realizar o que queremos caso não seja dado recursos para isso. Talvez seja somente uma escolha ilusória que nos dão.

Desejos são somente desejos quando não se tem a oportunidade de realizá-los.

Sonhos não tem asas se estão presos na cabeça.

As ruas gritam por igualdade, mas, pobre, é somente uma palavra quando se trata de oportunidade. É na base do esforço, do suor descendo na testa e as lágrimas queimando o rosto. É a depressão se tornando comum e o cansaço consumindo a esperança.

As pessoas têm o poder sobre si para escolherem o que querem, para distinguir as possibilidades que serão viáveis a ela. Para o pobre não existe estudar ou trabalhar, existe lutar pelos dois ou sofrer tentando um deles; não existe ficar ou ir, sendo que estamos andando em círculos e, tudo o que vai, volta; não existe fácil, quando tudo o que aprendemos é baseado nas dificuldades que teremos que enfrentar, seja ela qual for.

Nossas escolhas são incógnitas, muitas vezes dolorosas.

São as emoções e os sentimentos que dão sentindo a tudo. São eles em uma batalha com os caminhos racionais e sonhadores da nossa própria cabeça. Emocionalmente, somos atraídos por nossas próprias criações; e, no instante seguinte, somos esmagados pela força da realidade, onde tudo parece tão decepcionante e sem cor.

A realidade é como a expectativa, e ela sempre termina em frustração.

É quando nos tornamos adultos.

É quando sabemos que nem todos os problemas têm soluções.

O ser humano está inclinado ao erro. Inclinado à praticidade, ao que é fácil. Existe uma fase na vida que todos devemos passar pelas escolhas difíceis e, muitas vezes, a escolha é errada, pois somos atraídos pelos resultados, nunca pelos processos. Não paramos para nos dedicar ao momento quando estamos muito felizes pensando no final.

Eu pensava muito no final, em ser adulta e resolver os problemas. Em conquistar o mundo. Então o próprio mundo me derrubou. Ou eu simplesmente abri os olhos.

Onde estão as oportunidades que tanto fantasiei?

Onde estão os sorrisos de verdade?

Acreditei que tudo era a base do trabalho duro, suado e conquistado arduamente. E que isso era suficiente. Que isso bastava. Foi quando vi homens e mulheres usando diversos tipos de drogas pelas ruas, dispostos a tudo para suprir o vício consecutivamente, então pensei: "por que eles não procuram um trabalho?" ou "por que escolheram essa vida?".

Porque as soluções fáceis são sempre as mais procuradas.

Quando pessoas passam por necessidades, depois de algum tempo sem conseguir emprego, quando as tentativas são sempre falhas, no tempo em que o desespero está batendo na porta sem cessar, as conclusões dessas pessoas é a prostituição e o roubo, se afundar nas drogas ou em um mundo sem controle, as medidas do desespero.

Eu sabia que estava errada em julgar.

Eu sabia que não devia as olhar diferente.

Eu me questionava sobre aquelas pessoas, sobre as oportunidades, tentando entender o porquê da desistência e a entrega fácil que algumas tinham ao vício, à intolerância, ao ódio. Em como desistiam antes de tentar. Ou pelo menos achava que elas não tentavam. Até chegar o dia em que passei pela pele de cada uma delas.

Paguei a minha língua.

E é como dizem: você só sabe o que o outro passa quando estiver no lugar dele.



VENDIDA AO TRÁFICOOnde histórias criam vida. Descubra agora