Refém da Obsessão
O preço da vida eterna é a submissão.
"— Sempre será querido para mim, Fera. Sou sua amiga de verdade. Mas acho que
jamais serei capaz de me casar com você.
— Você é minha única alegria — disse a Fera. — Sem você, morreria. Prometa-me,
ao menos, que nunca irá embora.”
A Bela e a Fera, Madame Leprince de BeaumontSUMÁRIO
PARTE UM
I
LONDRES
Estávamos quase chegando no Victoria and Albert Museum quando vimos
uma multidão saindo da porta de entrada e atravessando a Rua Cromwell,
f orçando nosso táxi a parar no meio do caminho. O motorista virou-se e deu de
ombros para mim e Luke, como se quisesse dizer que não poderíamos ir além
dali, uma vez que centenas de pessoas se enf ileiravam em direção à entrada
arqueada em uma mancha de cor e movimento, como um cardume. Todos
estavam lá para ver minha exposição.
Sem conseguir esperar nem mais um segundo, saí do táxi, e meu olhar f oi
atraído pelo cartaz pendurado na parte de cima da construção. Dizia: Tesouros
Perdidos do Século 19 – a letra escura sobressaía sobre o f undo laranja brilhante.
Sob as palavras havia a imagem de um leque f eminino aberto, para mostrar o
cetim branco esticado sobre a armação de ossos de baleia e a corrente,
conf eccionada com um cordão de seda com um pingente curvado para cima f eito
o rabo de um tigre. Mais especiais do que os lírios e as rosas douradas pintadas
na f rente do leque, eram aquelas palavras escritas à mão sobre o f orro:
“ Para o homem, o amor é algo à parte; para a mulher, é a sua própria
existência.” — Byron
O museu escolhera esse objeto pequeno e íntimo como a joia da coroa da
coleção e o apresentara no cartaz e nas propagandas, ignorando trabalhos de
mestres artesãos e artistas, bem como de antiguidades étnicas raras da Rota da
Seda. Conseguia imaginar a empolgação do f uncionário do museu ao encontrar
as palavras e a assinatura de George Gordon Noel, o lorde Byron, no f orro
daquele pequeno e misterioso leque.
O leque era muito precioso para mim, nunca quis me separar dele. Mas,
quando estávamos empacotando as caixas para enviá-las anonimamente ao V&A
(despachadas através do meu advogado, para que não soubessem que me
pertenciam), eu o separei e o coloquei de volta em seu lugar na prateleira; mas
Luke o empacotou, pensando ter sobrado das pilhas empoeiradas das lembrançasa serem jogadas f ora. Quis pegá-lo de volta, mas era tarde demais: não
conseguíamos pensar em uma maneira de pedir ao museu para devolvê-lo sem
abrir as portas para questionamentos.