Capítulo único

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O garoto pálido encarava o espelho, e os olhos castanho escuros refletidos no vidro o encaravam de volta.

Quem era ele?

tinha feito essa pergunta para si mesmo inúmeras vezes desde o que aconteceu há alguns meses atrás. E sempre tinha a mesma resposta.

Stiles, eu sou o Stiles.

E sempre sentia a mentira em suas palavras.

Sim, ele era Stiles, mas era só Stiles? Ele era apenas Stiles, o garoto humano sarcástico e ansioso? Um dia, uma voz na sua cabeça respondeu a essa pergunta: ele não era só o Stiles, e sabia disso.

Ele também era a nogitsune.

Mas depois de um tempo, ele finamente entendeu: ele não era a nogitsune, a nogitsune fazia parte dele.

Sim, ele era apenas o Stiles. Mas o vazio fazia parte de Stiles também.

E todo dia, desde o que aconteceu há alguns meses atrás, ele lavava as mãos incansavelmente para tirar o sangue que as banhava, mas o vermelho não saía.

Todo dia, desde alguns meses atrás, ele tentava mentir para si mesmo e dizer que não, não era culpa dele que Alisson tenha morrido, não era culpa dele que tudo aquilo tenha acontecido.

Não foi ele que causou.

Foi a nogitsune.

O problema é que ele nunca acreditava nessas mentiras.

Porque, mesmo estando possuído, mesmo sem controlar seu corpo, ele sentia. Ele sentia o prazer, a diversão, o caos. Ele sentiu quando enfiou aquela espada nas entranhas de Scott, quando a girou, e quando a empurrou mais fundo. Ele sentiu quando bateu a cabeça de Kira contra a mesa, ele sentiu quando cheirou o medo de Lydia no ar, e saboreou cada parte disso. Ele sentiu o pânico da garota ruiva quando Alisson morreu.

Ele sentiu quando Alisson foi morta.

Não só a culpa ou a dor - que vieram avassaladoras e o atingiram nas profundezas de sua mente - mas ele também sentiu o sabor do caos. E amou cada parte disso.

Ele sentiu tudo, mas por isso ele não se culpava, porque isso ele não podia controlar.

Ele se culpava por ter gostado.

Espíritos malignos e demônios não possuem qualquer um, eles possuem aqueles que se parecem com eles.

A nogitsune foi embora, a nogitsune morreu. Foi isso que Stiles, Lydia e Scott viram na noite em que a derrotaram. Mas era mentira.

A nogitsune vivia. Ela estava dentro dele, em seu cérebro, em seu coração, correndo pelas suas veias. O caos, a violência, a dor... Stiles ainda conseguia sentir o gosto deles na sua boca.

Ele era o único "humano" entre seus amigos próximos, o único que não tinha poderes e capacidades sobrenaturais.

De fato, ele não era sobrenatural.

Ele era um monstro.

Olhou para seu reflexo no espelho, procurando desesperadamente por qualquer traço que comprovasse que a nogitsune ainda estava lá. Como sempre, não achou nada: não achou as olheiras avermelhadas, a escuridão no olhar ou a pele assustadoramente pálida. E parte dele se aliviou.

Mas então seu reflexo sorriu; um sorriso monstruoso, sublime e obscuro.

Mischief.

E foi assim que ele teve certeza: o vazio nunca saiu de si.

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