Capítulo I - Ponte Edwards

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               Tudo que se referia aquela ponte possuía um tom diferenciado. O vento que ali rodeava era de certa forma mais gelado e agonizante, as plantas que ali viviam quase nunca floresciam quando chegava à primavera e apesar daquele local possuir uma bela vista para os principais centros turísticos da cidade, ela nunca ficava cheia em momento algum. Na verdade, todas as pessoas sendo de fora ou não, pareciam evitar aquele lugar e sua verdade a qualquer custo, inventando inúmeros boatos sobre o porquê de muitas pessoas se suicidarem ali, ou apenas alegando que quando esteve lá sentiu a presença de fantasmas ou algo parecido. Se você quer saber minha opinião, tudo isso é besteira, provavelmente o único fato que fazer as pessoas se matarem ali é por ser o local mais belo e longe da nossa "querida cidade", onde provavelmente não haveria nenhuma vizinha espionando a vida alheia procurando uma nova fofoca para contar para suas amigas em um almoço de domingo de tarde.

             Pessoalmente criei um apelido para as frustradas pessoas que pulavam da Ponte Edwards e desde então para mim, ficaram conhecidos como os rebeldes suicidas, pois as maiorias das pessoas que lá se mataram não se encaixavam bem no tradicional modelo de jovem do interior, onde todos os adolescentes crescem sendo reprimidos até que finalmente assassinam sua própria personalidade e se tornam os repressores, matando as únicas esperanças dessa cidade melhorar e assim criando um ciclo de ignorância sem fim. Além do mais, todos os rebeldes, puseram um fim em sua vida sem ao menos se preocupar no que as senhoras iriam falar sobre isso quando se encontrarem no meio da rua, ou seja, eles têm meu respeito, mesmo fazendo essa escolha estúpida.

              A verdade é que quando você vive em uma cidade pequena, todo a sua vida já é determinada, você nunca pode se atrever a sair do padrão, se não você é meio que "isolado" da sociedade, não é chamado para as festas das pessoas populares nem é bem visto pela maior parte da população. Eu sei isso pode parecer ruim, porém isso tem suas vantagens, como por exemplo, não ser chamado para ser o representante da turma no final do ano ou a escolhida para responder alguma questão.

             Sinceramente não ligo muito para o que as pessoas pensam de mim, ainda mais as pessoas daqui, que aparentemente não possuem uma boa visão de mundo. Em suma, a maioria das pessoas aqui é uma droga, achar alguém legal neste lugar para variar é a mesma coisa que achar uma agulha num palheiro, ou melhor, num vasto oceano de palha, mas ainda assim essas pessoas existem, um exemplo delas é a minha psicóloga, a Rosie, que tem me ajudado muito de uns tempos para cá a colocar minha cabeça no lugar. Ela é um daqueles indivíduos que no momento em que conhece já sabe que a quer manter sempre por perto. E assim como meus pais, ela também é meio isolada da cidade, até hoje nem sei por que, na verdade, ela não tem motivo algum, nem tem uma filha considerada um caso perdido ou algo assim. Mas é como eu estou te dizendo, essa cidade não é de abraçar pessoas legais, prefere estragá-las ao invés disso.

              Outra pessoa que também não é ignorante igual o resto da cidade, é o marido de Rosie, o Tomas, um sujeito muito interessante de conversar, ainda mais quando toma uma taça extra de vinho. Antigamente, ele e sua esposa jantavam lá em casa toda sexta-feira e quando isso ocorria, meus pais não me expulsavam da mesa após terminar de jantar como a maioria faria, eles pediam para mim permanecer no meu assento, pois minha presença era importante para a conversa. Lembro que me sentia tão adulta quando isso acontecia, nem sei por que, mas sei que me sentia tão bem quando isso ocorria.

              Meus pais são um daqueles tipos de pessoas que sempre estão usando óculos e carregando um livro na mão, discutindo de forma amigável sobre o que era preciso ser feito para melhorar a economia ou algo assim, normalmente nunca prestava atenção, pois sabia exatamente como esse debate iria terminar no final meus pais acabavam juntando suas idéias e decidindo que ambos tinham razão, achava engraçado, mesmo um não concordando com o outro, sempre permaneciam no mesmo lado. Só Deus sabe como sinto falta deles. 

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⏰ Last updated: Jan 14, 2018 ⏰

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Os Frustados Pensamentos de Katherine CartherWhere stories live. Discover now