Parte 2

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Eu jamais poderia ter negado a ajuda de um desconhecido tão gentil, até porque, não é de se estranhar que tenha feito isso por não estar raciocinando muito bem desde que coloquei os pés dentro do avião essa manhã.

Enquanto o cara sem nome pede algo que eu não faço ideia do que seja a uma atendente da cafeteria, me forço a desviar o pensamento da sensação que queima em minha lombar por ter tido, minutos antes, uma manzorra apoiando-me amigavelmente até uma mesa vazia do lugar.

Eu estava mesmo nervosa demais para me atentar a intimidade que o gesto nos levava, e o repelir. E... Bem... Talvez um pouquinho dopada de remédios, ou simplesmente não o quisera fazer afinal.

Ainda estou me concentrando nessa difícil missão quando percebo o cara bonito posicionar o copo com água à minha frente.

— Beba tudo — ordena como se eu fosse uma garotinha malcriada, mas ainda assim, não posso deixar de destacar o quanto toda a sua atuação para o momento o faz soar fofo.

Viro todo o conteúdo do líquido goela abaixo e não evito uma careta ao sentir o gosto exageradamente doce em meu paladar. Aquilo certamente elevaria a um nível máximo a diabetes que eu não tinha.

— Obrigada — agradeço — eu precisava muito disso — acrescento num sorriso forçado.

Ele concorda com um leve aceno de cabeça olhando-me profundamente nos olhos desde o momento em que me entregou o copo. Tudo nele me deixa desconfortável e ao mesmo tempo curiosa.

Seus cotovelos estão apoiados na mesa e suas mãos ligadas sustentam o queixo. Uma porção de pelos faciais cor de fogo adornam o maxilar bem demarcado, um charme a parte que eu me permito apreciar sem modéstia.

Olhando agora mais de perto, ele serviria facilmente como modelo para compor uma das capas dos livros de romance da Brittainy C. Cherry.

Quando ele desvia o olhar para o aparelho celular que vibra em cima da mesa e o inspeciona, são os últimos segundos que tenho para apreciar sua beleza até que ele, sem graça com minha admiração descarada, se volta em minha direção cortando o silêncio desconcertante que eu acabo de proporcionar.

— E então... — começa e logo em seguida pausa.

Sei que essa deixa é para que eu preencha a lacuna com o que ainda não foi dito por nenhum de nós dois; nossos nomes.

— Debora — digo com um sorriso amistoso — Meu nome é Debora.

— É um nome muito bonito — comenta casualmente antes de prosseguir com a ideia inicial — E então Deb, o que a traz a São Paulo?

Meu rosto sem vergonha aquece e eu torço para que a repentina e estúpida timidez não reflita em minhas bochechas. A informalidade com que se dirige a mim não colabora muito com essa sensação, pior, trava uma batalha com algo que gela e revira meu estômago.

— Ah, não, não! — digo apoiando o rosto em uma das mãos — Meu destino final é Vitória. Parei aqui numa conexão de emergência.

Seu rosto toma uma forma engraçada e estranhamente empática.

— O que foi? — pergunto quando ele reprime um sorriso — O que eu disse de errado? — questiono empertigando-me no assento.

— Você está aqui em uma conexão? — pergunta retoricamente — Certo! Certo!

— Humm... — era a vez dele de se apresentar.

— Gus.

— Nome legal — digo sentindo uma pontinha de raiva a medida que seu sorriso se alargava e uma quantidade incontável de dentes era exibida de forma atrevida na minha cara.

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⏰ Última atualização: Apr 21, 2020 ⏰

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