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                                                                                     PARTE 1

                                                             '' Imagine que não há paraíso

                                                                        É fácil se você tentar

                                                            Nenhum inferno abaixo de nós

                                                                Acima de nós apenas o céu

                                                                 Imagine todas as pessoas

                                                                      Vivendo para o hoje''

                                                                                             - Imagine, John Lennon



O abraço que dei em minha mãe foi longo e apertado porque seria o último e eu precisava senti-lo completamente. Quando nos afastamos, meu rosto foi posto entre suas duas mãos enquanto ela o acariciava. Seus olhos negros estavam marejados e seu queixo tremia.

– Fique bem, meu filho – ela sussurrou e por um momento eu considerei não partir.

– Vamos, Biel – Dennis estava a porta e seu sorriso tentava me encorajar a segui-lo.

Então eu me dirigi à porta e somente quando eu a cruzei, ousei olhar para trás. Minha mãe agora desabava em lágrimas e aquela visão me destruiu. Eu sabia que ela ficaria bem, a igreja não deixaria que ela passasse fome, mas ela ficaria solitária daquele dia em diante.

Ainda parado, tirei a mochila surrada das costas e a coloquei no chão. Me agachei e movi o zíper. Eu sabia que não esquecia de nada, porém tentava retardar o máximo possível minha fuga. Era minha mãe quem eu deixava ali, e eu queria aproveitar os últimos segundos com ela.

– Não falta nada. Eu mesmo arrumei sua bolsa – Dennis curvou as costas para sussurrar ao meu ouvido. – Vamos logo.

Olhei rapidamente para dentro da mochila e vi lá o que precisava: Uma lanterna amarela, duas garrafas pet cheias de água, algumas maçãs, uma faca e uma muda de roupa. Realmente tudo estava lá. Fechei o zíper e olhei para minha mãe uma última vez. Duraram cinco segundos exatos até o braço branco do Dennis passar por cima da minha cabeça e puxar o trinco da porta de madeira, destruindo a visão abatida que tinha de mamãe em sua camisola furada em dois lugares. E então me rendi ao choro.

– Hey, não fique assim. Sei que é difícil deixa-la, mas... eu estou com você.

Levantei a vista para meu namorado e vi a mão que ele estendia para me ajudar a ficar de pé. Dennis também tinha uma mochila nas costas. Sem dúvidas na dele havia mais suprimentos, afinal a família de Dennis era mais ligada à igreja. Com certeza foi mais fácil para a mãe dele na despedida. Dennis tinha três irmãos, já eu era filho único.

– Eu sei – limpei minhas lágrimas com as costas da mão esquerda e segurei firme na mão dele com a outra até ser puxado. – Como vamos passar pelos Filhos Abençoados?

2035Where stories live. Discover now