Se está lendo, é porque eu morri mas venci

1 0 3
                                    

Não aguento mais. NÃO DÁ!  Vivo em um mundo que os relógios não giram mais, as pessoas estão paralisadas. Nada mais se movimenta em lugar nenhum do planeta, somente eu, Victória Simões de Oliveira uma garota de 16 anos. Meu nome demonstra muita ironia quanto ao acontecimento. Eu nn suporto a idéia de eu ter causado tudo isso. É tudo culpa minha. TUDO.
Se você estiver lendo isso, é porque eu consegui resolver esse problema, porém não estou mais aqui para contar a historia eu mesma. Estou me dedicando a consertar as coisas, cada segundo do resto da minha vida tentando desfazer algo que eu fiz, com  medo de dar extremamente errado.
  Todos os dias vou para a minha casa, vejo os meus pais tomando café. Minha mãe, Janette Simões de Oliveira, esquentando a água para o café de meu pai, Antônio de Oliveira, que está sentado sorrindo para ela com amor como se fosse um garoto apaixonado pela garota mais bonita da escola. E meus irmãos, Penélope e Lucas brincando de esconde-esconde, ela escondida dentro do guarda-roupa e ele contando com  o rosto apoiado na parede. Quando saiu na rua, vejo a minha vizinha da frente abraçando sua filinha, vejo também crianças brincando na rua de diversas coisas: pulando corda, jogando futebol, correndo, fazendo bolhas. Vou no supermercado pegar algo pra comer e tenho que quebrar o vidro para poder entrar (aquela porta era automática e tudo estava parado, obviamente não tinha chance de abrir aquilo sozinha) vejo que o Sr. Rollinston estava no caixa a espera de por seu trabalho em dia sempre com um sorriso no rosto. Resumindo: eu vejo o mundo parado e saber que sou a única sobrevivente desse desastre sem mortes me machuca muito. Tenho todos as meu redor, mas ainda continuo sozinha com aquela sensação de vazio e culpa. Sinto que a minha vida perdeu o sentido no instante em que eu derrubei aquele relógio. Eu não dava valor a aquele pequeno objeto e era tão descrente nas histórias do vovô que jamais pensei que isso algum dia fosse acontecer.
  Na noite anterior do problema ter surgido, ele me contou uma das suas histórias favoritas. Nem precisou pegar o livro, já sabia ela de cabeça e nunca me perguntei se essa história estava nos contos daquele livrinho com milhões de histórias. Ele olhou nos meus olhos e disse
"Hoje irei lhe contar uma história, mas não como a da Cinderela ou a de Aladin. Não.  É uma história muito especial. É sobre esse relógio"
Ele pegou um relógio de ouro com o fundo preto e onde deveriam estar nossos números normais, estavam números romanos. Se fundo era preto com alguns pontos brancos  que eu até poderia considerar que fossem pequenos cristais . Suas bordas eram finas mas cheias de detalhes. Era incrivelmente elegante, mas não gostava de ser controlada pelos horários que a sociedade implanta em cada um de nós. Eu senti meus olhos brilharem quando ele colocou aquela obra-prima nas minhas mãos e disse:
  "Esse relógio pulou a geração de seu pai, assumo que jamais fui muito próximo a ele, ele hoje sei que meu filho tem milhões de relógio a sua disposição- ele lembra e abre um sorriso.- Por esse motivo estou te dando. MAS CUIDADO, ele aparenta ter vida própria, até parece que realmente controla o tempo. Mas vamos começar antes que que a sua mãe venha e me dê uma bronca: Era uma vez um pequeno garoto que andava no bosque perto de sua casa. Ele caminhou, caminhou,  caminhou... ATÉ QUE pisou em algo. Ele deu um grande salto com medo de ser uma armadilha.  Quando voltou a olhar para o lugar onde tinha pisado, viu algo que brilhava no chão. Era esse relógio- ele apontou para para a minha mão- ele passou de casa em casa daquela pequena cidadezinha que tinha acabado de ter se tornado independente perante a lei. Mas ninguém confirmou,  então acabou ficando com  o relógio pra si. Mas no caminho de volta pra casa..."
  De repente, ele é interrompido por alguém que bate na porta. Nós dois viramos e percebemos que era só a minha mãe o apressando-o já que havia passado a hora de dormir.
  "Acho que não vou poder terminar a história hoje meu docinho"
   " MAS VOVÔ, EU PRECISO SABER O FINAL. PRECISO!  POR FAVOR, TERMINA"
   "Sinto muito amor, só me prometa uma coisa, você cuidará bem desse relógio"
    Ele logo ele saiu. Naquele momento fiquei extremamente chateada. Não queria o relógio, seria mais uma promessa para cumprir, mais um responsabilidade a ter. Mas o que eu fiz quando acordei não foi proposital, foi um acidente. Deixei ele cair no momento em que fui desligar o meu despertador as 08:48 em plena quinta-feira,  dois de julho de dois mil e quatorze. E pensar que nesse momento são 23:29, quinta-feira no dia dezoito de janeiro de dois mil e dezoito.
  EU SÓ PRECISAVA TER MAIS CUIDADO! EU SÓ NÃO PODIA TER DEIXADO O RELÓGIO CAIR! A ÚNICA  COISA QUE EU DEVERIA FAZER ERA ISSO É NÃO FIZ DIREITO! SERÁ QUE EU TENHO QUE FAZER SEMPRE TUDO ERRADO? O QUE  CUSTAVA FALAR "EU PROMETO" MESMO SE ELE NÃO ESCUTASSE? Agora eu sou a culpada por todos estarem assim.
De repente me pego pensando neles: será que eles estão vendo o que está acontecendo? Será que quando eles acordarem, vão saber que o tempo passou? Ou será que eles ainda vão pensar que o tempo não passou? Talvez eu não consiga consertar o relógio. Tenho pego toneladas de livros para ler e aprender ao concertar aquele negócio que só me trouxe dor de cabeça. Eu espero resolver logo esse problema. Tudo o que eu mais quero é dar um abraço na minha família e consertar tudo. Afinal, fui eu que causei todo esse problema...

A Garota E O Relógio Onde histórias criam vida. Descubra agora