Introdução ao Meu mundo

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     Foi o meu primeiro dia na aula de ballet e lá estavam elas, jogadas no chão, seus vestidos manchados com a morte e meu rosto transparecia aquela sensação desconhecida novamente.

Eu não conhecia ninguém naquele estúdio, era nova na cidade, a professora, a Srta. Rosa; uma mulher alta, aparentemente perto dos quarenta, com cabelos louros ondulados e voz rouca, havia pedido para que me exercitasse longe das outras garotas e foi o que fiz, apenas fiquei lá, alongando meu corpo e observando o ensaio das garotas mais velhas. Eu era a mais nova, com apenas onze anos, entre garotas de quatorze a dezesseis anos. Elas me olhavam estranho, talvez por causa do meu tutu. Todas elas estavam usando Tutu branco, enquanto eu, bem estava com meu velho preto e elas devem ter achado isso engraçado e idiota, mas acho que isso também se dar o fato de está com tranças bem alinhadas na cabeça, pelas mãos da minha mãe e sem falar da maquiagem, ela me maquiava como uma verdadeira boneca.

  Algum tempo depois de se acostumarem com a minha presença, elas foram descansar, aproveitei para usar o espaço para ensaiar por conta própria. Comecei a cantarolar uma musiquinha. sentia-me livre, estava voando, sentia-me leve como uma pena. Estava dançando o tempo todo com os olhos fechados, não os abri por nenhum momento, não podia deixar que aquela sensação escapasse quando os abrisse e voltasse para esse mundo feio. Por um momento eu tive alguns flash, como imagens passando diante dos meus olhos e nelas estava o estúdio, mas muito diferente de agora. Foi nesse momento que eu tropecei e cai. Talvez nem tenha demorando para acontecer, mas eu pude ouvir ao longe ecoando dentro da minha cabeça, as vozes e risadas das garotas dentro do estúdio e a imagem novamente, mas agora estava bem mais clara e lá estavam as garotas, a Srta. Rosa e uma outra garota menor de Tutu preto igual ao meu. Aquela imagem me deixou muito confusa. Eu acordei, mas estava sozinha, deitada no chão do estúdio, eu tentei levantar e perguntar se havia alguém ali, mas assim que gritei, as vozes voltaram, novamente as vozes das garotas rindo de mim e xingando, simplesmente voltaram. Elas não paravam, gritavam sem parar, eu não suportava, estavam me enlouquecendo por dentro, eu precisava fazer parar de alguma forma. Olhei para a grande janela na minha frente e em um piscar de olhos, o pensamento tomou conta de mim, não pensei duas vezes, corri em direção e pulei em direção a ela ignorando o grande vidro. Enquanto ele quebrava, pude ver tudo em câmera lenta e em poucos segundos eu tive memórias. 

Elas riam de mim, todos os dias me batiam com a ajuda Srta. Rosa. Faziam coisas terríveis comigo. Levei uma faca de casa dentro da bolsa e quando cheguei lá, tranquei a porta e uma a uma, as vi caindo no chão. O sangue agora fazia poças em todos os pontos do salão. Eu sentei, enfiei a faca toda na minha barriga e deitei, tudo que enxergo agora é uma escuridão.

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