E assim você vinha, daquela sua forma meio distraída e complicada, meio turva e desajeitada. Vinha sorrindo á toa e me fazendo sorrir também. Me diz meu amor, como é que nos transformamos em tão pouco tempo, tudo o que somos hoje? Pois eu me lembro amor, me lembro de tudo. Me lembro de cor e salteado, e até de trás para frente, de todas as vezes que você disse me odiar e dois segundos depois dizia me amar, me lembro também de todas as flores que você roubou do vizinho só para me dar. E não pense que aquelas vezes que você deixava a louça para mim lavar, vão sair em branco, você pode me compensar com uns beijinhos e eu juro não me importar. Eu me lembro muito bem de quantas vezes você me acordou de madrugada para pegar um cobertor, ou como era completamente constrangedor você me fazer passar vergonha na frente dos meus pais. Tenho até hoje os filmes que você comprou e as fotos que a gente tirou naquela tarde de verão. E pode até parecer besteira, mas eu ainda tenho aquele medo de te perder para a sua vizinha atirada que vive dando em cima de você, mesmo já tendo te perdido a muito tempo atrás. Lembro direitinho daquela sua carinha emburrada quando eu bagunçava o seu cabelo e saia correndo para não acabar com o meu penteado desarrumado. Me lembro também de como eu era completamente chatinha quando ficava com ciúmes e de quando você dizia que eu ficava linda nervosa, mesmo sabendo que não ficava coisa nenhuma. Lembro daquele nosso primeiro encontro que na verdade pode servir de legenda para "desastre". Eu me lembro direitinho. De tudo. E talvez seja esse o problema meu amor, eu lembro de algo que não devo e me prendo no passado quando na verdade estou perdendo o meu futuro. Eu me lembro demais do que é para esquecer, e coloco virgulas na onde deveria ter colocado um ponto final. Mas fazer o que se eu planejei o meu futuro todo ao seu lado, e no final nada acabou como eu imaginei?