Sozinha

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     Quando John foi embora eu me vi sozinha.

Ok, talvez não tão sozinha. Vários funcionários já falaram comigo e no restante da estrutura, havia mais uma centena de adolescentes com quais eu poderia socializar. Mas mesmo assim minhas pernas ainda tremiam e algumas lágrimas involuntárias deixavam um rastro molhado sob minhas bochechas.

     Irmã Jules me levou até a secretaria, onde conheci a srta. Vannini, uma mulher animada de 34 anos, com um sotaque do Texas. Ela fez meu registro e me entregou papéis, neles contendo as regras, horários e outras informações extras, além de nomes que eu poderia procurar caso precisasse de ajuda.

     Enquanto esperava alguém para me levar aos dormitórios – como me disseram, acomodei-me no banco de madeira do outro lado da sala, com a cabeça abaixada e o olhar preso no chão, pensando o que seria da minha vida agora que consegui estragar tudo. Eu queria era ser um problema menor.

— Claire Allen, estou certa? – uma menina se aproximou de mim, falando com uma voz doce. Levantei e olhei para a mesma, surpreendendo-me com sua aparência inesperada.

Assenti sem dizer nada, apenas movimentando a nuca para cima e para baixo.

— Vejamos... – ela conferiu sua prancheta. — Você vai ser encaixada no quarto 23, isso é bom, as garotas são bem acolhedoras e compreensivas lá.

     Não me lembro bem, mas acho que murmurei algo como "bom" ou "tudo bem" para prosseguir com todo o resto. Eu comecei a segui-la por um imenso corredor, observando bem cada característica dos lugares por onde passávamos.

     Ela provavelmente era um ou dois anos mais velha que eu e era de uma beleza rara. Com sua pele extremamente branca e o cabelo branco escorrido pelas costas e para não dizer que havia algo comum nela, até os olhos se destacavam, com um tom violeta.

Enquanto eu analisava a firmeza e a calma presentes em seu andar, ela deu uma espreitada em meu rosto e então sorriu boba, como quem acaba de lembrar de algo.

— Desculpe por não me apresentar. – parou próxima à uma janela, a luz amarelada falhava acima de nós. — Isabela.

— O quê? – deixei escapar, com timbre fraco.

— Meu nome. – respondeu como se fosse óbvio, mas não em uma entoação grossa ou arrogante.

— Ah, claro. – com a cabeça baixa, dei um sorriso, que saiu mais triste do que eu desejava.

— Ei... sei que é complicado, mas pode contar conosco, sabe? – em uma ação automática, Isabela suavemente levantou meu queixo, olhando-me com ternura. — Quero dizer, com as freiras e os outros órfãos. Talvez não tenha passado isso pela sua mente, mas somos como uma grande família.

     Continuamos andando – sem comentar mais nada desta vez; tentava ao máximo gravar o caminho, me perder naquelas retas extensas não seria nada bom... passamos por uma ou duas alas até chegarmos em um corredor onde as salas eram separadas de um só jeito: do lado direito estavam os números pares, do esquerdo estavam os ímpares.

— Quarto 23. – Isabela disse para mim e em seguida apontou para a porta. — Essa é sua casa agora, seria bom se você se comportasse como tal.

     Eu me aproximei e girei a maçaneta, dentro estava cheio de gente, – quero dizer, para o tamanho do quarto, haviam umas 9 pessoas lá – apenas meninas.

Isabela não entrou, mas cumprimentou as pessoas dentro do dormitório e recebeu calorosos "boa tarde, representante!" como troco.

— Então já que está tudo bem – não estava. — Eu acho que vou indo, vejo todas vocês no jantar.

     Fiquei de pé entre o quarto e o corredor enquanto ouvia os passos da representante sendo abafados pelas gotas d'chuva que caiam lá fora, do lado de dentro do dormitório as garotas me analisavam cuidadosamente.

     Uma delas se levantou, projetou-se perto da passagem em uma questão de segundos, seu cabelo louro escuro esvoaçava atrás dela. Olhou-me mais de perto, aqueles grandes olhos cor-de-mel que demonstravam um leve toque de doçura e inocência.

— Certo... Vá em frente, nós não mordemos. – deu uma risada nasal.

— Diga por si mesma. – uma voz firme murmurou, vinha de uma morena de cabelos cacheados, que permanecia encostada em uma parede no fundo da sala, demonstrando desinteresse em tudo que acontecia à sua volta.

     Passei pela porta, quase tropeçando em meus próprios pés, fazendo papel de trouxa. Céus, o que está acontecendo com a minha coordenação motora? Eu não sou assim. Ouvi algumas risadinhas das mais novas, ninguém disse nada, – é claro – mas eu pude sentir seus olhares agravando-se sobre mim.

— Você pode ficar com aquela cama ali. – a garota de cabelos louros falou, apontando para um lugarzinho próximo a janela, que foi onde eu me sentei e permaneci muito tempo calada.

     Elas eram estranhas, quero dizer, nãoestranhas no geral e sim afobadas. Peguei-as encarando-me e cochichando entresi por várias vezes e conforme o tempo passava, o silêncio estabelecido nocômodo se tornava cada vez mais sufocante para mim, talvez para ambos os lados.

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⏰ Última atualização: Jan 04, 2021 ⏰

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