Pedro

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Era uma vez um pão de alho que queria ser um k-idol. Queria ter multidões gritando seu nome, o amando, confiando nele e torcendo pelo mesmo. Queria fazer alvoroço ao chegar num aeroporto. Mas toda vez que pão de alho, vulgo Pedro, se olhava no espelho, um desespero tomava conta de seu pobre coração cheio de alho e queijo. Ele era um pão de alho afinal, e seu único destino era virar suco estomacal de alguém.

                Pedro continuava treinando apesar de tudo, escondido no fundo do freezer do supermercado. Cantava todos os dias, e dançava por algumas horas. Porém, sempre chorava ao lembrar que, mesmo que tentasse duro e desse o seu melhor, seus sonhos nunca se realizariam, porque ele era um pão de alho há quilômetros da Coreia.

                Pedro suava no fundo do freezer quando alguma mão estranha o pegou, pondo-o dentro de uma embalagem de isopor junto de mais nove pães de alho. Ele gritou alto, mas ninguém o escutou. Os outros pães o olharam como se se perguntassem "o que ele está fazendo?". Alguns chegaram a até mesmo pronunciar essas palavras, mas tudo o que Pedro podia ouvir era o som de seus sonhos sendo destruídos lentamente e alguma voz estranha masculina gritando "turn up!".

                Oh, era só a música que estava dançando.                                            

                Colocaram-no em outro freezer, com outros pães dentro de embalagens como as que ele se encontrava no momento. Pedro só conseguia chorar, era como se estivesse sendo consumido numa velocidade absurdamente rápida pela realidade atual.

                Não demorou muito para que algum cliente o pegasse e colocasse dentro do carrinho de compras. O pão de alho estava verdadeiramente desesperado, e tentou furar o plástico que envolvia sua embalagem, mas não tinha dedos para fazê-lo. Restava chorar e esperar que fosse assado e comido.

                Depois de torturantes momentos de calor, fora de qualquer freezer e espremido entre companheiros da mesma espécie, Pedro acabou desmaiando tamanho choque.

                Quando acordou, já se encontrava dentro de uma geladeira desconhecida. Olhou ao redor. Todos os outros pães conversavam animadamente entre si, ansiosos para serem consumidos (alguns, amedrontados, tremiam), mas Pedro só conseguia pensar na multidão à sua frente, a multidão que nunca seria sua e nunca gritaria seu nome. A vontade de chorar o atingiu de novo, mas ele a segurou com força, respirando com certa dificuldade.

                Não existia a possibilidade de se matar, porque pães de alho não podiam cometer suicídio. Ele não queria ser assado e morrer no fogo, mas o que restava a não ser isso?

                Gritou quando a luz artificial invadiu seus olhos. O plástico havia sido rasgado. Antes que pudesse tentar fugir, porém, uma mão ligeiramente pequena o envolveu em segurança entre seus dedos gordos de humano. Ele nunca quis chorar tão forte. Havia chegado sua hora. Os outros pães acenavam para ele, nervosos, excitados, mas ele só queria vomitar. O fez na mão do humano, mas tal pôs o recheio dentro de Pedro tudo de volta.

                Sentia a brasa se aproximando, cada vez mais calor e calor. Tentou pensar em algo, mas não conseguia, sua mente estava em branco.

                A última coisa que visualizou foi a multidão que tanto havia imaginado, antes de ser posto para assar.

Pão de AlhoWhere stories live. Discover now