Depois de uma bela noite de sono e de algumas horas a arranjar o apartamento, fui trabalhar no dia seguinte às 8:00 em ponto e fui até ao gabinete do Diretor da HelpIn para me apresentar ao trabalho. Fui recebida por um homem já um pouco velho, na casa dos 50, mas charmoso na verdade, que me cumprimentou com um aperto de mão social:
- Bom dia Dra. Klein, é um prazer tê-la connosco e seja bem-vinda desde já há HelpIn. Existem algumas considerações a fazer antes de começar a trabalhar. A HelpIn tem pacientes um pouco fervorosos, o que resulta às vezes numa má conduta por parte destes e se precisar de algum tipo de ajuda carregue no botão da sua secretária para chamar os seguranças, que será enviada ajuda imediatamente. O seu salário está presente no seu contrato tal como o seu subsídio de transporte, alimentação, férias e Natal. Se tiver alguma dúvida venha falar comigo. E por fim, por favor seja pontual no seu horário, se há coisas que aqui não são toleradas são atrasos, basta por um pé em risco que há muitas pessoas que gostariam de estar no seu lugar neste exato momento. Se for cumpridora do seu horário, nós seremos cumpridores do nosso.
- Claro Sr. Kirby, farei o meu melhor para não o desiludir, nem a si, nem a mim.
- É esse tipo de entusiasmo e motivação que aprecio. Tenha um bom dia de trabalho e espero que se dê perfeitamente nesta empresa, se tiver algum problema com algum funcionário ou colega não hesite em falar comigo.
- Sim Sr. Kirby, obrigada por esta oportunidade.
- Tenho a sensação que não me vai desiludir Scarlett.
Acenei afirmativamente para o Sr. Kirby e pedi licença para sair do seu gabinete e dirigi-me ao meu.
Entrei e deparei-me com um escritório moderno em madeira, confortável e acolhedor, mas como já não tinha tempo para ficar a aprecia-lo pois o meu primeiro cliente era às 8:45, comecei a preparar a secretária e a por tudo à minha maneira, a ligar o computador fixo e a iniciar a sessão, bebi um café da máquina e sentei-me a analisar o relatório do meu primeiro paciente. Pelo que li este paciente alega que começou a ver a sua mulher desde que esta faleceu na queda de um avião que matou 332 passageiros. O paciente alega que a mulher fala e canta para ele, mas ele veio aqui não por não acreditar que a vê, mas sim para saber se eu o posso ajudar a que ele consiga tocar-lhe, pegar-lhe na mão e ter os gestos de carinho que ele tinha com ela antes de falecer. Sou interrompida pelos meus pensamentos com um bater de porta:
-Sim?
- Posso entrar Dra. Klein?
- Com certeza, sente-se Sr. Truman. Então como está a correr o seu dia? Alguma coisa de estranho?
- Não muito, hoje a minha bela mulher Elena acordou-me, ela beijou a minha cara mas eu não senti nada. Acha isto normal? Será que estou a ficar realmente maluco?
- Diga-me Bruce, quantas vezes fala com a sua mulher por dia?
- Eu falo com ela todo o dia sabe? Ela até está sentada nessa cadeira que tem ali ao fundo, a olhar para si. Ela está meia irrequieta por eu estar a falar consigo e não com ela, ela diz que eu nem deveria estar aqui porque ela realmente está presente.
- E o Bruce não acha estranho a sua mulher conseguir falar consigo? Conseguir comunicar?
- Não diga isso! Não conhece o temperamento de Elena! Acredite em mim, não a queira irritar.
- Não era de todo a minha intenção, apenas estou a tentar perceber melhor para o tentar ajudar. Já tentou um médium?
- Scarlett, posso trata-la assim? (aceno afirmativamente) Eu só preciso realmente de saber se a Scarlett me consegue ajudar a tocar novamente na minha mulher, eu sinto saudades! Eu nunca me pude despedir dela, sabe o quanto isso custa? Amar uma pessoa e nunca ter tido uma despedida? Para mim isto significa fracasso! Que nunca a valorizei e nunca mostrei o quanto a amava, e agora tenho esta segunda oportunidade! Ajude-me por favor.
- Muito bem Sr. Truman, eu vou ajudá-lo. Tome estes medicamentos e na próxima semana venha ca e veja se teve melhorias.
Passei uma receita ao pobre homem, que ele olhou para aquilo com curiosidade:
- Para que serve isto dra.?
- Tome duas vezes ao dia e depois vê Bruce. Tenha um bom dia.
- Igualmente Scarlett.O Bruce foi embora e fiquei a pensar no seu caso enquanto esperava pelo meu próximo paciente. Gostava que um dia alguém me amasse tanto como o Bruce ama a sua mulher mesmo depois da morte, que foi uma coisa que nunca o separou da sua mulher, ele continua a querer acreditar que ela continua aqui, a olhar por ele, e não em paz onde ela realmente está. É incrível o que um puro amor consegue fazer, muda completamente a nossa vida e nós nem o percebemos.
Consegui atender mais 2 pacientes antes de entrar na hora de almoço às 14h, e por isso fui almoçar. Estava solitária a apreciar o meu almoço quando dou por mim a observar um casal numa mesa ao lado. Nesse tal casal, o rapaz parecia totalmente tonto pela rapariga, mas ela parecia mais nervosa que outra coisa. Pouso os talheres e tento ouvir a conversa entre eles:
- Só me apetece arrebentar-te toda aqui e agora Kim..
- Peter!! Não podemos, os amigos do meu namorado podem ver... Vamos para o meu carro.
Fiquei chocada com a conversa e vi o "casal" a ir pagar a conta e a sair apressados, e senti-me surpreendida por esta geração estar assim tão má, quem pode trair um namorado mesmo à descarada? Sendo eu psicóloga, ou o namorado da rapariga a trata muito mal e abusa dela ou ela apenas está a fingir sentimentos para seu próprio interesse, são as duas únicas opções a que consigo chegar. Mas não os posso julgar muito, não sei a sua verdadeira história, mas é algo que eu realmente não consigo evitar. Tendo este emprego tornou-se muito mais fácil avaliar carater, e hoje em dia faço-o em qualquer parte e em qualquer hora, estou sempre alerta de expressões faciais, gestos, tudo o que possa caracterizar uma pessoa. Já é uma parte de mim que não consigo mudar.
Acabei de almoçar, paguei, e dirigi-me até ao meu trabalho para acabar o meu turno.
3h depois e mais 2 clientes, chamei um táxi e fui cansada para casa. Quando estava a tentar abrir a porta aparece-me uma criança ao meu lado, a puxar pelo meu braço:
- Oláá, eu chamo-me Tim, e tu? - eu fiquei a olhar para ele com cara de extraterrestre - Então, não tens nome?
- Tim!! Pára de importunar a rapariga, anda embora. Desculpe pelo meu filho, mas ele está sempre a fugir e volta e meia não sei onde ele anda.
- Não há mal nenhum, o seu filho é muito simpático, só fui apanhada de surpresa. - Viro-me para o garoto - Chamo-me Scarlett, prazer em conhecer-te Tim.
- Queres vir brincar?
- Tim deixa-te disso, anda para casa! Desculpe, a sério, não sei o que se está a passar com ele.
- Tudo bem, não se preocupe. A que queres brincar ?
- Sabes jogar playstation? Aposto que uma miúda nem sabe o que isso é.
- Por acaso até tenho uma X-box em casa com monteeeees de jogos, queres vir jogar? Se a tua mãe não se importar claro.
- Mãmã, deixa-me por favor!
- Eu nem me apresentei, peço imensas desculpas, o meu nome é Caroline Johnson, prazer - aperta-me a mão delicadamente.
- Eu chamo-me Scarlett Klein, prazer em conhece-la a si e ao seu filho. Será que ele pode vir brincar para minha casa?
- Claro, eu sou a sua vizinha do andar de baixo, eu andava à procura do seu vizinho para tomar conta dele, mas parece que ele não está por cá. Ele é que costuma fazer de babysitter, mas agora anda mais ocupado por causa da sua carreira. Conhece-lo?
Fiquei um pouco confusa ao que respondi:
- Não sei mesmo de quem fala, nem sabia que tínhamos um famoso no apartamento!
- Pois, eu agora não me lembro do nome dele, o meu marido é que às vezes pede a esse tal jovem para tomar conta do Tim, mas ele é tão ocupado.. Não sei se é abusar da sua boa vontade, mas será que gostaria de fazer de babysitter ao sábado e ao domingo? Não tenho ninguém para tomar conta do meu pequeno, e eu pago-lhe, não é muito, mas dá para alguma coisa acho.
- Não é abusar, eu teria o maior gosto em tomar conta dele, e não precisa de me pagar, faço de boa vontade.
- Oh não Scarlett, isso já é abusar da boa fé.
- Eu insisto.
- Tem a certeza?
- Nada me daria maior prazer.
- Não sabe o peso dos ombros que me tirou. Não sei como agradecer, talvez aceite jantar comigo e com o Tim hoje na nossa casa? Eu agora tenho de ir tratar de assuntos, mas o jantar está pronto às 20:30 se não se importar.
- Oh, não é preciso, não quero incomodar.
- Eu insisto, não é nenhum incómodo.
- Então eu agradeço, às 20:30 eu e o Tim estaremos lá, não é Tim?
- Já podemos ir brincar?
- Vão lá e divirtam-se. Juízo Tim!
- Xau mãe.
- Até já Caroline.
- Até já Scarlett.
Entrei no apartamento acompanhada pelo Tim e fui montar a X-box na sala e preparei um lanche para comermos enquanto jogamos. O Tim veio para a minha cama e jogamos Need for Speed até às 20, e foi um jogo muito renhido na verdade. Para uma criança de 9 anos o miúdo joga muito bem.
- Vá Tim, temos de ir mais cedo para a casa da tua mãe para a ajudar, temos de meter a mesa e tu também ajudas.
- Oh que seca Scar!
Este foi o apelido fofo que ele decidiu dar-me enquanto jogávamos. Chegou a hora do jantar e com muita revolta por parte Tim, fomos para a habitação dos seus pais.
(...)
- O jantar estava ótimo Caroline, mesmo. O frango estava absolutamente divinal!
- Obrigada Scarlett, já não sabia o que era alguém elogiar os meus cozinhados! - Rimo-nos as duas e durante o resto da noite falamos sobre as nossas vidas, e enquanto isso o Tim foi dormir pois amanha tem escola.
- Bem, obrigada pelo jantar Caroline, foi uma ótima companhia, neste momento estaria a jantar acompanhada pela minha televisão num jantar nem um pouco romântico.
- Ahahah não sejas tola, vais ver que um dia encontras um homem que te ame tanto que um dia já nem o suportas!Hum... duvido mesmo disso
- Esperemos nós que sim.
- Brindemos a isso!Brindamos as duas e pouco depois fui para casa que já estava a ficar tarde, e quando cheguei à minha habitação voltei a aterrar, estes primeiros dias têm sido exaustivos.
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Pursuit
RomanceScarlett muda-se para a América, pois ofereceram-lhe uma proposta irrecusável numa das maiores clínicas psiquiátricas do país. Sempre teve tudo na vida, pois trabalhou arduamente para alcançar os seus objetivos, mas falta qualquer coisa, ela nunca d...