Capítulo 1

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Me olho no espelho e aliso único vestido preto que tenho pela última vez antes de pegar as chaves na mesa.
Entro no carro e respiro fundo.
Meus pulmões queimam com o perfume de rosas dela que ainda mora ali.
Sorrio ao lembrar que mamãe amava me ver de vestido.
"Você se parece tanto comigo quando se veste assim."
Ela tinha um senso de moda magnífico, o que a fazia abominar minhas camisas masculinas largas e o meu velho all star azul.
Tento evitar me olhar no retrovisor enquanto dirigo, porém é impossível.
É estanho me olhar depois de tanto tempo. Os ossos da minha clavícula estão tão visíveis que quase machucam a pele.
Odeio me sentir fraca, não posso me dar ao luxo de fracassar, não agora com tudo encaminhado.
Observo a calma que permeia a pista com pouco carros e agradeço aos céus por não estar chovendo.
Chego ao cemitério sem grandes transtornos.
- Feliz aniversário, menina. - Seu Pedro, o coveiro, cantarola assim que passo pela porta. Ele sorri quando fazemos contanto visual e abaixa o rádio que tocava Forever Young do Alphaville.
- Bom dia, seu Pedro. Obrigada. - Sorrio. É bom sabe que ainda sou capaz de sorrir.
- Quais os planos pra hoje? Coloquei flores novas para eles hoje. Não se preocupe. - Ele diz.
- Obrigada mesmo. O senhor é um anjo. Vou jantar com meu tio hoje. Não se preocupe, não vou ficar em casa chorando.- Afirmo.
- Já faz um ano, menina. Eles não iam gostar de te ver nesse estado.
- Luto não é uma escolha, seu Pedro.
É uma necessidade da alma.- Suspiro e ando em direção ao túmulo de Daniel.
Há flores coloridas por toda parte.
- Oi, Dan. - Sinto um nó surgir automaticamente em minha garganta.
A mera menção do nome dele quebra cada pedaço de mim.
- Hoje é meu aniversário... - As lágrimas escorrem livremente em meio aos soluços. Me ajoelho diante de Dan e abraço o meu corpo.
- Mãe... Sin- sinto tanto a sua falta que-que- que mal consigo respirar. - Engasgo entre os soluços.
- Pai, por que você não me deixou ir junto? Você devia ter me deixado ir, porra! Eu queria ir! - Grito, chutando as flores estúpidas.
- Eu sinto muito, Clara! Era pra eu ter ido no seu lugar. Clara, volta! - Caio diante do túmulo da minha irmã.
- Por favor, voltem! Eu morri junto com vocês! Eu não posso mais faz isso!- Meu peito está um caos. De olhos fechados só sei que estou gritando a plenos pulmões.
- Eu vou matar cada filho da puta que estava lá. Eu prometo, Clara!
Clara, por favor, me perdoa! - Não tenho noção do espaço-tempo. Estou destruindo todas as flores, com as mãos e o corpo totalmente coberto de terra.
- Para! Para com isso. Você está destruindo o patrimônio o público! Se chamarem a polícia, você já era! - Uma voz masculina soa longe e mãos agarram minha cintura.
- Me larga! Filho da puta, me larga agora ou eu juro que quebro a sua boca! -Grito, arranhado-o com minhas unhas.
-Você quer morrer?! É isso? Tudo bem! Vamos lá, olha pra mim! - Ele me vira e saio do transe ao ouvir sua ameaça. Quem esse idiota pensa que é? Dono do cemitério?
- Você tá maluco? Isso é uma ameaça? Quem é você, seu filho da puta?! - Ao olhar em seus olhos, sinto meu chão sumir. Negros como a noite, seus cabelos caem sobre a testa. O homem de olhos orientais me dá um sorriso cínico e levanta meu queixo com o indicador.
- Meu nome é Suga, mas pode me chamar de morte, soa mais verdadeiro, você não acha, Nirvana?

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⏰ Last updated: Jan 24, 2018 ⏰

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MY DARK DESTINYWhere stories live. Discover now