Ela caiu do céu

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Totem ainda estava no Vale.

Não tinha para onde ir. Afinal, para onde mais iria? Não faria sentido ir para qualquer outro lugar - Não que houvesse algum -, principalmente agora que Ida estava feliz.

Ela havia completado sua missão.

Ela relembrou quem era, e voltou a ser a princesa de seu povo.

Totem sentia orgulho de sua amiga. E sentia orgulho de si mesmo, também.

Afinal, ela nunca teria conseguido sem a ajuda dele... Não é?

Ele observava alguns pássaros voarem pelo céu entre as montanhas, e sentia a grama entre seus dedos enquanto sentava-se no topo de um pequeno morro, com uma árvore fazendo sombra para ele.

Já fazia tempo.

Então, ele percebeu que um dos pássaros que observava era diferente.

Porque ele estava... Caindo?

Ao perceber que o pássaro iria cair perto de onde estava, ele correu ao seu resgate. Como era um homem alto, subiu a árvore, pulou de um dos galhos e agarrou firmemente o "pássaro".

Mas então ele percebeu que não era um pássaro.

Era um anjo.

Era... Era Ida.

Ida retornou. Ela havia retornado ao vale!

Totem então, encheu-se de felicidade, mas então percebeu que a amiga tinha uma das asas sangrando. Então, ele correu até um rio que havia ali perto, para lavar o ferimento e ver com mais clareza o quão profundo o corte era.

Já a beira do rio, Totem cuidadosamente posiciona Ida no chão, sua cabeça recostada em uma pedra e seu sangue manchando a grama verde que havia abaixo dela.

Ele começa a jogar água na asa ferida dela, pouco a pouco, limpando-a. Quando teve certeza de que estava limpo, ele observou o ferimento.

Como ele temia, era um corte profundo. Parecia que uma espada havia sido cravada em sua belíssima asa branca.

Ele, então, procurou por algumas ervas que haviam perto dali. Ele as esmagou e passou um pouco na ferida.

Ela mexeu um pouco as asas, mostrando que doeu ao seu toque.

Ele acaricia a amiga, que, mesmo inconsciente, parecia entender o que ele dizia.

"Acalme-se." - Era o que ele queria dizer.

Ela manteve-se imóvel após esse carinho. Ele aproveitou e terminou de cobrir a ferida com o "remédio".

Então, ele retira a bandana de sua cabeça e começa a enfaixar seu ferimento.

Depois de cuidar dela, ele começa a observá-la.

Ele via a pequena mulher inconsciente, mas mesmo assim, ainda exalava inocência em sua aura.

Era bonita. E branco era a cor perfeita nela. Ele mexeu um pouco nos cabelos dela. Um pouco encaracolados, castanhos, belíssimos.

Ele queria que ela acordasse. Queria abraçá-la e queria saber o que aconteceu. Mesmo que ela não falasse, eles se comunicavam por meio de seus olhares, e eles nunca confundiram uma única palavra dita por seus olhares e gestos.

Ele fazia carinho em seu rosto, tocando a bochecha dela.

"Acorde." Ele implorava com seus toques.

Mas ela não mexia um músculo sequer.

Ele a segurou no colo e encostou sua testa na dela.

"Por favor, acorde. Preciso de você." Disse outra vez.

Ela ainda não reagia.

"..."

Ele queria acordá-la. Queria fazer com que ela voasse novamente.

Afinal, o lugar de um anjo é no céu, não no buraco onde ele vivia.

Queria ela por perto, sem dúvida, mas não aguentaria vê-la assim. Não queria que ela ficasse com ele se ela ficasse mas fosse infeliz.

Preferiria deixá-la ir.

Ele a abraçou.

"Cuidarei de você." Disse.

Desta vez, Ida finalmente acordou.

Ela, em vez de abrir os olhos, abraçou-o de volta.

"Agradeço." Ela respondeu.

Ele, ao notar que ela havia acordado, abriu um grande sorriso.

"Você retornou!" Disse com o olhar.

"Sim, meu amigo. Retornei por você."

"Por... Mim?" Perguntou, surpreso.

"Eu passei bastante tempo com meu povo. Eram seres bonitos, gentis e ótimos de conviver. Mas faltava alguém. E esse alguém é você, Totem." Ela disse, desta vez com a ajuda de gestos.

"Mas Ida, você é um anjo. Como poderia eu ajudá-la, se eu apenas prenderia você ao chão?"

"Farei você voar também."

"Como?"

"Com a ajuda do Vale, você voará comigo, e ficará sempre ao meu lado. E... Se o Vale não puder nos ajudar, eu e meu povo ficaremos aqui embaixo, com você."

"Mas porquê?" Ele parecia tão confuso.

Ele não conseguiu ler seus olhos.

Ela notou isso, então decidiu falar a ele de outra maneira.

Ela aproximou-se de Totem e, de uma maneira apaixonada, juntou seus lábios.

Totem ainda não compreendia.

Sua amiga, sua única amiga, estava o beijando, e a sensação era maravilhosa. Ele sentia os pequenos e macios lábios dela movendo-se junto aos dele, numa dança inovadora e inusitada.

Ele acariciava os cabelos dela enquanto ela envolvia suas mãos no pescoço dele, movendo para cima e para baixo, fazendo-lhe cócegas.

Mas então, somente quando ela separou seus lábios dos dele, ele entendeu o que ela havia lhe dito:

"Eu te amo."

Então os dois ficaram ali, deitados na grama, observando pássaros e borboletas voarem e as formas que as nuvens faziam, e sentindo a grama fazendo cócegas em sua pele.

Eles pensavam no futuro, enquanto Totem pensava consigo:

"Ela caiu do céu."

Amor SilenciosoOnde histórias criam vida. Descubra agora