A IGREJA

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  O asfalto estava úmido. Havia acabado de cair a pior chuva do mês de julho. As ruas estavam vazias, preenchidas por um silêncio profundo e aterrador. Mas a igreja, uma simples que se localizava no final de uma rua escura, continuava aberta e com luzes acesas. Em plena madrugada. De lá não se saía nenhum som, parecia não haver ninguém lá dentro, mas aquela construção antiga e assustadora, com um crucifixo no topo, de alguma maneira continha vida. As paredes pareciam poder falar, e talvez contar histórias. Nada de finais felizes. E foi nesta noite chuvosa de julho, que Agnes adentrou a igreja do final da rua.

  Ela estava ensopada pela água fria da chuva. Com poucas roupas, apenas uma regata e um shorts apertado que desenhava todo o seu quadril. O interior da igreja era mais frio ainda. As paredes e pisos de mármore, o teto extremamente alto causava sensação de vertigem e havia um púlpito na frente de toda a igreja, com vários vasos repletos de flores com cores chamativas em sua volta. Mas Agnes não parava de se impulsionar para frente, tropeçava em meio aos próprios passos, mas tentava seguir em frente. Caiu no mármore e não conseguiu se reerguer, então se arrastou, até que enfim chegasse perto do púlpito. Perto do crucifixo. Era tudo o que ela queria.

  Um homem, com uma batina larga e preta apareceu, ao abrir uma porta do lado esquerdo em relação ao púlpito. Ele se deparou com aquela cena, de uma mulher com sua pele do rosto manchada de rímel, olhos lacrimejantes e cabelo molhado, se arrastando pelo chão da igreja. Semelhante a um demônio.

  O padre logo se dirigiu a mulher, se pondo a ajuda-la sem pensar duas vezes. A ergueu, segurando os braços dela com firmeza e cuidado. A colocou sentada em uma das inúmeras cadeiras da igreja e se sentou ao lado, a olhando com surpresa e espanto. A observando com um olhar penetrante. Ele pegou um lenço no bolso de sua batina e começou a limpar o rosto de Agnes. A limpar o rímel borrado, as suas lágrimas e o suor em sua testa.

  - Você está bem? – Ele perguntou em seguida – Não, você não está bem. – Ele mesmo respondeu à mesma pergunta que fez – O que aconteceu?

  Agnes não olhava para outro lugar ao não ser o chão. Não havia dirigido seu olhar para aquele padre uma vez sequer desde que havia chego. Estava descalça, com seus pés molhados e sujos pela lama da rua. Estava fedendo e completamente perdida. O padre sentia pena daquela mulher.

  - Por que tanto olha para o chão? Por que gosta tanto dele? – O padre replicou seus questionamentos – Mesmo que esteja neste estado, eu ainda consigo ver beleza em você. O que uma mulher tão bonita como você esconde?

  - Eu não escondo. Basta me olhar, basta virar seus olhos para mim, que verá tudo o que eu sou. – Agnes respondeu ainda olhando para o chão.

  - E o que você é?

  - O que você vê? – Ela ergueu sua cabeça, mas agora olhava para o crucifixo.

  - Vejo alguém que precisa de ajuda. Que merece ajuda. – Ele colocou sua mão esquerda sobre as costas de Agnes, mas no mesmo instante sentiu um peso enorme em suas costelas e tronco. – Está pesando, não é? Garota, você já carrega tanto.

  - Como assim? – Ela olhou para o rosto do padre pela primeira vez. Havia marcas de queimadura, de cortes de faca e outras cicatrizes indecifráveis. Ele tinha o rosto mutilado, totalmente cicatrizado e marcado. – Apenas... será que o senhor pode... tirar sua mão de cima de mim?

  - Ah claro que sim, o seu fardo já pesa o bastante não é mesmo?

  - Você está me deixando desconfortável, senhor. Eu apenas queria chegar perto do púlpito e ficar sozinha, por isso escolhi essa igreja, porque ela sempre parece vazia. Então se puder, eu apenas quero me ajoelhar em frente ao crucifixo e rezar, rezar por mim, pela minha vida e por soluções. – Agnes disse com voz firme, não parecia mais aquela mulher que estava se arrastando no chão da igreja.

A Igreja - ContoWhere stories live. Discover now