Oito meses depois

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Havia doído bastante, a verdade era que Tony não achou que fosse sair do buraco onde havia caído com a morte de Steve, os primeiros três meses haviam sido regados a bebida. De repente estava sozinho novamente, e um homem tão jovem, que tinha uma vida inteira pela frente, estava sendo enterrado. Apesar de ter se despedido no ano anterior, no dia do enterro, não sentira que havia sido uma despedida.

- Precisa de ajuda, senhor? - indagou um senhor simpático, empurrando um carrinho de mão com diversos vasos de flores, uns secos, outros cheios de vida. - Cuido do cemitério, caso esteja procurando alguém...

- Obrigado, eu sei exatamente onde está. - certo, era uma mentira. No dia do enterro de Steve, não fazia ideia de como carregara o caixão, muito menos sabia onde ele havia sido enterrado. Mas havia pego informações na recepção do cemitério, e preferia procurar sozinho. - Com licença. - ele saiu caminhando, um buquê de rosas nos braços, seguindo as direções que lhe haviam sido apontadas.

Era um dia quente de outono, no entanto as árvores e o vento que soprava deveria deixar o ar menos carregado. Por qual motivo começou a sentir-se tão sufocado então? Conforme caminhava em meio às lápides, observando os nomes, logo uma se fez familiar.

Steven Grant Rogers
Filho amado
1994 - 2017

Estava bem cuidada, ou o homem fazia um bom serviço, ou os pais dele iam até ali com frequência. Sem cerimônias, ele se sentou na frente da lápide, pousando o buquê de flores  na frente da lápide.

- Sei que demorei a vir, desculpe Capitão. - sorriu fraco, o aperto em seu peito aumentou, mas sabia que teria de encarar aquilo de uma forma ou de outra. - Sei que rosas são clichês demais, mas a florista insistiu que se era para alguém especial, deveriam ser rosas, embora eu não tenha dito que viria aqui.

Havia tanta coisa a ser dita, haviam tantas palavras que haviam sido deixadas para trás. Filho amado. Ele era filho de duas pessoas maravilhosas, que haviam lhe contatado diversas vezes, ou tentado, depois que Tony havia entregado algumas roupas e desenhos de Steve, claro que cópias apenas, para eles. Eles então disseram que sabiam o quanto ele e Steve eram amigos.

- Sabe, acho que seus pais não teriam surtado tanto se soubessem da gente, apesar de católicos. - sorriu divertido, na verdade escândalos vindo de si não surpreendia ninguém. - Eu devia ter ido com você, aproveitado e ter te pedido oficialmente em namoro. Mas eu fiquei com ciúmes do Bucky ir, e deixei a chance passar... - aquilo havia acontecido duas semanas antes do acidente, parecia tão bobo agora.  - Mas deixe pra lá, eu não deveria estar remoendo o passado.

"Sei que é tarde demais, mas eu queria te dizer o quanto eu te amo. - continuou Tony, observando a lápide. - Mesmo depois de você ter partido, não tem um dia que eu não sinta sua falta, ou não veja seu fantasma no meu apartamento. - admitiu, se sentira mais leve falando tais palavras. - E eu sei que você me amava também, então se tinha esse peso na consciência te impedindo de ir pro outro lado, pode partir agora. - o vento soprou trazendo algumas folhas secas, o ar parecia mais gélido. - Mas mesmo te amando, eu sei que é hora de dizer adeus, desta vez de verdade.

O homem  notou um vulto caminhando em sua direção, não precisava olhar para saber quem era. Havia avisado Bruce que iria visitar seu túmulo, o que era um código para "Vá me buscar e se certificar que eu não tenha um ataque de pânico no cemitério". Logo o amigo parou, um pouco distante, apenas o observando e esperando que ele terminasse.

- Eu... Estou sóbrio tem três meses, achei importante te dizer, ou ao menos o meu nível de sobriedade. - achou melhor corrigir, pois para si, era impossível não beber ao menos um gole, embora após a morte de Steve garrafas e mais garrafas tivessem sido esvaziadas. - Voltei a trabalhar com meu pai nas indústrias, então acho que estou aos poucos conseguindo me erguer.

Tão jovem, ele tinha apenas 23 anos quando morreu, eles tinham muito a viver.

"Eu quero ser policial para ajudar as pessoas, Tony. Deixar a minha marca." Steve havia dito certa vez.

- E em sua homenagem, criei a Fundação Stark-Rogers, para ajudar aquelas crianças do Queens. - assim como Brooklyn, de onde Steve viera, o bairro não era tão agradável, e tinham crianças promissoras, crianças que só precisavam de uma chance.  - Pela escola vamos buscar alunos promissores para ganhar a bolsa acadêmica, acho que você gostaria de ter visto a cara dos pirralhos quando souberam disso.

Seu pai gostava bastante de Steve, por isso o havia dado total apoio e força, havia aceitado seu luto. Havia sido a primeira vez que vira Howard Stark ser tão gentil consigo. Havia dado apoio a algo que não daria retorno financeiro a empresa, mas que certamente faria a vida de tantas pessoas mudar para melhor. A vida de Steve melhorara por uma bolsa esportiva, mas aquelas crianças que só tinham sua mente para os ajudar, teriam uma chance.

- Tony, respira fundo. - lembrou-lhe Bruce, tranquilo como de costume, ele podia ver os ombros do amigo tremendo, e lhe surpreendera que ainda não tivesse chorado.

- Sei que não conquistou a vida que queria, mas ao menos isso fiz por você, pode não importar tanto, mas ao menos assim seu nome vai ser lembrado. Sua própria marca no mundo. - concluiu por fim, antes de pousar a mão na pedra fria sobre o nome do amado. - Eu virei mais vezes. - prometeu, antes de ficar de pé lentamente.

- Pode dirigir para casa? - indagou Bruce apoiando seu corpo. Havia ficado feliz quando Tony voltara a receber os amigos, após três meses se isolando completamente. E ficara mais feliz por o ver aos poucos voltar a sua vida.

- Sim, não precisava ter vindo. - essa era sua forma de dizer "obrigado por ter vindo e se preocupar comigo." - Eu vou ficar bem, Bruce. Eu vou ficar bem. - garantiu, antes de caminhar para fora do cemitério. Seu peito estava mais leve, e apesar de não saber ainda, Tony iria superar a morte do amado. Pois superar não era esquecer, não era deixar de amar. Era seguir em frente, assim como ele começara a fazer.

-x-
Era para ter sido uma one-shot, mas me perguntei após todo esse tempo como o Tony estava.

Mas é só isso, beijos sweethearts!

I Miss You (Stony)Onde histórias criam vida. Descubra agora