Daddy Issues

Faith.

  “Coisas boas são narradas depressa e não há muito que ouvir sobre elas, enquanto desconfortáveis podem dar uma boa história.”

   Era mais um dia chuvoso e enlameado na pequena cidade de Forks, mais conhecida por seu clima úmido e frio. Aquilo não parecia ser um problema para os moradores da cidade, mas era um enorme para o novo residente. Finn observava tudo através do vidro embaçado da janela, torcendo mentalmente para que chegassem logo ou para que alguma luz de Deus os fizessem tomar a decisão de voltar para Los Angeles. Não que acreditasse em Deus, mas esperava que algo entrasse na cabeça de seus pais para desistirem daquela idéia absurda de mudança. No entanto, não foi isso que aconteceu.

   Quando o carro fora estacionado em frente a sua nova casa, Wolfhard suspirou pesadamente, certo de que as coisas só tinham mais chances de piorar, e ele estava certo. Assim que saiu do veículo, escorregou na calçada molhada e caiu de bunda. Quis gritar em plenos pulmões que já odiava aquele lugar, mas se conteve, apenas levantando-se e batendo com as palmas das mãos em suas calças. Praguejou mentalmente e rumou para dentro da casa - que já estava aberta graças aos seus pais -.

ㅡ Querido, o seu... ㅡ Antes que sua mãe pudesse terminar a frase, o garoto já havia subido as escadas as pressas. Estava chateado com seus progenitores. ㅡ Acha que ele vai se acostumar?

ㅡ Fique tranquila, Mary. Ele é adolescente, tinha mais liberdade e coisas para fazer em Los Angeles, mas vai se habituar. ㅡ Eric proferiu, suspirando. A verdade era que se sentia culpado por ter, de certa forma, arrancando seu filho da vida que ele levava.

   A família Wolfhard tinha uma boa vida algum tempo atrás. Eram donos de uma editora e poderiam se dizer "classe alta", mas com a caída das vendas, começaram a falir. Antes que isso pudesse acontecer, o casal resolvera vender tudo o que tinham - incluindo a casa consideravelmente grande que viviam - e começar uma nova vida em outro lugar. Forks não era a primeira escolha, mas era melhor opção que Seattle e alem disso, os preços nos imóveis haviam caído muito. Ali seria o lugar ideal para recomeçarem, mas o jovem Finn não pensava daquela forma.

   Havia deixado tudo em Los Angeles; seus amigos, sua escola, sua banda e até uma possível namorada. Não conseguia entender o motivo de precisarem se mudar para tão longe, e talvez nem quisesse, pois se achava muito jovem para se preocupar com aquele tipo de coisa, afinal, tinha apenas dezesseis anos. Sendo assim, apenas continuou a procurar por seu quarto, supondo ser o último do corredor, e estava certo.

ㅡ Nada mal. ㅡ Murmurou baixinho ao analisar o cômodo. ㅡ Mas poderia ser melhor.

   A verdade era que estava procurando defeitos para poder reclamar, mesmo que isso não fosse mudar nada em sua situação. As paredes do cômodo eram em tom azul marinho, com alguns pedaços em branco e diversas prateleiras com objetos decorativos. Imaginou que uma criança fosse a antiga dona do quarto, pois encontrou até brinquedos - carrinhos, bonecos, e etc - em sua tour pelo quarto.

ㅡ Filho, podemos conversar?

ㅡ Eu quero ficar sozinho. ㅡ Ele respondeu o homem parado em sua porta, soando um tanto rude. ㅡ Acho que vocês já destruíram muito a minha vida.

ㅡ Sabe que fizemos isso para o seu bem, Finn.

   O garoto revirou as orbes, pouco ligando se aquilo era muito infantil ou não. Para ser sincero, ligava para absolutamente nada agora. Vendo que não conseguiria dialogar com seu filho, Eric se retirou, resolvendo deixar o adolescente sozinho em seu próprio mundo, perdido em pensamentos. Tudo o que Finn queria era ir embora, mas isso não era uma opção.

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   As horas pareciam se arrastar, e por mais que a vontade de Finn fosse levantar daquele banco e ir embora, não podia, pois tinha que esperar sua mãe terminar sua matricula na nova escola. Nada ali havia lhe agradado, mas Mary insistira para o filho ir dar uma volta pelo colégio enquanto tratava daqueles assuntos. Wolfhard vagou pelos corredores sem qualquer interesse, passando por algumas salas vazias até esbarrar por acidente em algo, ou melhor, alguém. O impacto fora tão grande que acabou por cair para trás, assim como a pessoa em sua frente.