Daddy Issues

Thank you.

   "Vivo constantemente dividido entre me matar e matar todos à minha volta.”

   Acordar cedo sempre fora um sacrifício para Finn, mas acordar cedo para ir ao colégio era mil vezes pior. Primeiramente, sua mãe adentrou seu quarto gritando consigo por estar atrasado, e depois, sequer conseguiu tomar seu café em paz. Seus pais insistiam que ele precisava fazer algo mais que ir para a escola e ficar trancado no quarto, mas o mesmo mal tinha vontade de levantar da cama. De qualquer forma, era obrigado a fazer isso para ir estudar, por isso apressou-se em chegar na escola, onde já encontrou seu novo e único amigo.

ㅡ Ei, dude. Dormiu bem? ㅡ Grazer disparou, abrindo o armário ao lado do seu. ㅡ Sua cara está péssima.

   Finn revirou os olhos, já acostumado com as bobagens que Jack dizia, mesmo que só se conhecessem fazia uma semana. Abriu o armário e pegou um de seus livros, de história, fechando a porta de metal logo em seguida e virando-se para o Grazer.

ㅡ Eu fui dormir tarde e acordei cedo.

ㅡ Imaginei que fosse isso mesmo. ㅡ O castanho negou com a cabeça, pronto para dar uma bronca no cacheado quando notou que o olhar deste agora estava preso em um outro alguém.

   Millie passava por eles, carregando seu melhor sorriso e uma pilha de livros que certamente estavam muito pesados para seus braços delicados. Aquela era a oportunidade perfeita para falar com ela, sendo assim, Finn aproximou-se e tirou todo aquele peso da mesma, surpreendendo-a inicialmente.

ㅡ Obrigada, Finn.

ㅡ De nada, Millie. ㅡ Ele sorriu, esperando a mesma abrir a porta do armário azul para guardar todos aqueles livros. ㅡ Por que tantos livros?

ㅡ Ah, bem... tenho que fazer uma pesquisa mais tarde, peguei estes na biblioteca.

   Ele assentiu, resolvendo ajuda-la, e fora neste momento que ambas as mãos se tocaram ao segurar o mesmo livro de capa dura. O olhar da Brown cruzou o dele, parecendo ligeiramente desconcertada com aquele simples toque. Era como se fosse uma chama acessa, enquanto Finn era um cubo de gelo. Quando se tocavam, ocorria uma onda imensa de eletricidade. Um choque.

   Eram muito diferentes, isso era claro como água, mas isso não estava impedindo o Wolfhard de começar a se aproximar dela. Millie não achava ruím que ele estivesse tentando fazer amizades, mas o mesmo não era o tipo de pessoa que seus pais permitiriam ao seu lado. Mal saberia o que dizer caso fosse vista com ele naquele dia na floresta, provavelmente ficaria de castigo por ter saído com um desconhecido para o meio do mato, e pior, para ouvir hard rock.

ㅡ Quer sair comigo?

ㅡ O quê? ㅡ Ela piscou, um tanto confusa com a frase repentina dele, desviando seu olhar para disfarçar tal coisa. Não acreditava que Finn estava mesmo lhe chamando para sair. ㅡ Eu não posso.

ㅡ Não pode ou não quer?

ㅡ Os dois.

ㅡ Por que não? ㅡ Ele perguntou, observando ela fechar a porta do armário e virar-se para si. Novamente estava o encarando com aqueles olhos intensos. ㅡ Tem medo de apaixonar por mim, srta. Brown?

   A castanha revirou os olhos, tentando não rir da situação. Finn parecia uma criança tentando ganhar algo as custas de chantagem emocional. Talvez esse fosse o problema; Millie sempre cedia.

ㅡ Eu tenho compromissos a semana inteira, Finn. Eu não posso, me desculpa.

ㅡ O que vai fazer hoje?

ㅡ Eu vou visitar um lar para idosos. ㅡ Ela respondeu, dando de ombros. Sempre fazia aquele tipo de coisa e adorava. Até porque, acabava aprendendo muito com os idosos.