Eleição e Vitória(?)

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Todos defendiam convictamente o que era o perfume certo, o perfume ideal. Vez ou outra aparecia uns que sugeriam um perfume pensando em todos em vez de pensar somente no que lhe agrada. Como também aparecia uns que diziam que independente do resultado não iriam deixar de usar o perfume que lhe agrada.

No entanto, mais interessado do que os usuários do transporte pública no resultado da eleição estava os próprios fabricantes de perfumes.

O que parecia uma disputa popular na verdade era uma corrida incessante para ter em mãos todos os milhares de clientes que utilizaram aquela linha e que, consequentemente, iriam comprar o perfume vencedor

E assim se fez a corrida na campanha eleitoral.

Uns perfumes se diziam os representantes do aroma tradicional. Aquele aroma que quem o escolhe são os que tem caráter e boa índole. São pessoas de bem e por isso se identificam com a essência daquele perfume.

Alguns perfumes usavam a ideia de que o seu aroma era o aroma oficial do reino dos céus, que aquele cheiro era o cheiro de quem realmente era devoto de Deus e que optar por outro significava negar o senhor.

Outros perfumes adotaram a defesa da causa das minorias, em suas campanhas usavam constantemente a imagem estereotipadas de gays, lésbicas, travestis e transexuais afim de conquistar esse público.

Havia também quem defendia o fim dessa eleição. Dizia que tudo isso não passava de baboseira e, se houvesse mais ônibus, nada disso seria necessário. Entretanto os membros desse grupo divergiam muitos quanto aos métodos de se fazer essa campanha anti-eleição e por isso não eram eficazes.

Então a campanha iria chegando ao fim, a data da eleição ia se aproximando e a disputa se intensificava. Chegara ao ponto de haver brigas, amizades desfeitas e outras construídas conforme havia agrupamentos dos que defendiam determinados perfumes.

Finalmente chegara o dia da eleição e, com muita aflição e esperança, os usuários eleitores, em sua maioria, escolheram o perfume que comprou a briga das minorias.

Este foi o vencedor. Triunfou sobre todos os outros.

Os que eram contra esse perfume tiveram de engolir, aceitar a escolha deste. A rejeição deles não significava que o aroma era ruim ou que incomodava de alguma forma. Era apenas pela causa que este defendia.

Os fabricantes de perfume perdedores lamentaram a derrota, enquanto a vencedora comemorava a onda de riqueza que estava por vir. Obviamente este era o único interesse por trás da defesa da causa.

Enquanto aos eleitores que deram a vitória para este perfume? Puderam estar sempre contentes com o uso do perfume em todas as manhãs. Tiveram a satisfação de esfregar na cara de todos os moralistas o símbolo daquele aroma. E, enfim, sentiram-se representados, vitoriosos às seis e pouca da manhã, exprimidos além do limite naquela massa homogênea.  

O Aroma do Ônibus LotadoWhere stories live. Discover now