Loki hesitou em levantar da cama. Não estava cansado, apenas tentava estender aquela sensação tediosa de paz e tranquilidade pelo máximo de tempo possível. Não queria que sua mente estivesse trabalhando estratégias tão arduamente, de novo e de novo, não queria estar revendo e analisando cada mínimo detalhe do seu plano ridículo. Na verdade, queria apenas fechar os olhos e sumir.
Mas ao seu lado estava um dos únicos motivos que o fazia insistir em se levantar: sua esposa, Sigyn, com os cabelos negros desarrumados e ainda imersa em um sono profundo, sua única amiga e aliada permanente. O casamento existia apenas legalmente e ritualisticamente, porque depois de tantos milênios juntos o amor fraternal foi o que realmente prevaleceu entre ambos e, mesmo com três filhos que ainda nem chegaram na idade adulta, Loki agora encontrava nela uma força que jamais encontraria na relação amorosa que tentaram ter um dia.
Por Sigyn que Loki levantaria e cometeria aquela loucura em forma de plano. Por ela e por Thor.
Suspirou involuntariamente. Como se deixou levar tão facilmente pelos sentimentos? Em que parte de sua vida medíocre começou a se importar tanto com o irmão e por quê esses sentimentos não sumiram quando o ódio surgiu? Sacudiu a cabeça, buscando ser sensato. Foi invejoso, manipulador e arrogante durante sua vida inteira, sempre buscando força e vingança por eventos que lhe ocorreram no passado, como poderia negar ter sentimentos tão fortes e descontrolados se foi movido por ressentimentos tantas vezes?
― Está pensando em Thor? ― Sigyn sussurrou sonolenta ao seu lado.
Loki revirou os olhos e a olhou com indiferença.
― Claro que não.
― Você sempre suspira quando pensa nele.
― Me faz parecer uma garotinha apaixonada.
― Bom... você está apaixonado.
― Não diga isso nem de brincadeira, Sigyn ― o deus repreendeu, sério.
― Não banque o idiota insensível comigo de novo ― Sigyn pediu rindo suavemente, esticando a mão para acariciar o rosto pálido do marido ― Nós dois sabemos que é verdade. Você o ama.
― Eu não o amo, nunca amei e nunca amarei.
Sigyn sorriu novamente e o olhou, pensativa.
― Do que tem medo?
― Como assim? ― Loki questionou franzindo o cenho.
― Do que tem medo, Loki? ― ela insistiu neutra ― Acha que admitir em voz alta vai desencadear algum tipo de desastre? Que Thor vai entrar por aquela porta e espancá-lo até que diga que é apenas uma de suas brincadeiras?
Loki respirou fundo e pegou a mão dela que acariciava seu rosto, beijando-a em seguida. Seus sentimentos por Thor nunca foram precisos ou certos e sempre lhe trouxeram mais problemas do que qualquer trapaça que um dia já cometeu, sendo fatal ou não. Eram sensações que oscilavam entre inveja, raiva, mágoa e dor, mas havia sempre algo lá no fundo, persistente, que o impedia de ver, permitir ou causar dor ou a morte do irmão.
Era uma sensação irritante que Sigyn chamava de amor.
― Tenho medo de admitir para mim mesmo ― confessou sincero.
Não conhecia muito sobre o amor, pelo menos não esse tipo de amor, consequentemente nunca teria certeza sobre seus sentimentos... e nem queria ter. Confessar, admitir, seria como congelar aquele sentimento em seu coração, gravando-o, tornando-o permanente e real. Era tudo o que não queria. Loki queria a incerteza, a chance de pensar no sim e no não, a chance de dizer a si mesmo que Thor não sentiria tanta falta assim.
― Sou sua melhor amiga, Loki. Estarei aqui quando você estiver pronto.
Antes que notasse estava nos braços de Sigyn e aquela sim era uma sensação que conhecia bem, que o agradava e que não diminuía com o passar dos anos. Era um amor semelhante ao que sentia por sua mãe adotiva, Frigga, que ganhava um diferencial com Sigyn, principalmente, quando eventualmente trocavam beijos e se entregavam às necessidades carnais.
― Eu sei que precisa ir... ― Sigyn comentou se afastando, seus olhos agora estavam mais baixos e preocupados ― Mas prometa que vai voltar com vida.
― Não, Sigyn, não ― ele negou veementemente.
― Loki...
― Nunca quebrei nenhuma promessa que fiz a você, não vou me arriscar agora.
Sigyn bufou irritada e se moveu para ficar sobre o colo dele, prendendo-o ali temporariamente.
― O que eu preciso fazer para que fique? ― perguntou sedutoramente enquanto se inclinava na direção dele.
Loki sorriu e segurou o rosto dela entre suas mãos, beijando-a suavemente nos lábios.
― Confie em mim, amor.
Ela apenas balançou a cabeça em desistência e voltou à sua posição anterior. Loki finalmente levantou e se aproximou do espelho, desamassando suas roupas. Estava pronto há horas, faltava apenas um último suspiro de coragem.
― Mas seu plano é completamente louco! ― Sigyn insistiu um pouco mais determinada, sentando-se na cama ― E se os Vingadores negarem ajuda?
― Não preciso da ajuda de todos eles, mas se todos negarem... eu encontrarei um jeito, não se preocupe ― Loki garantiu ajeitando as mangas de seu sobretudo.
― E se Thanos conseguir se libertar? Não é muito mais seguro você ser sincero e contar tudo ao Thor?
― Se eu contar qualquer coisa ao Thor, ele vai querer enfrentar Ragnar cara a cara na primeira oportunidade que tiver, vai perder, Odin ficará sem um herdeiro e Asgard sem um futuro governante, o que deixará tudo mais fácil para Thanos.
― Quanta confiança no amor da sua vida... ― Sigyn tentou brincar.
― Conheço meu irmão. Ele é bruto, insensato e instintivo demais para o próprio bem.
Sigyn abaixou o olhar, incerta, e fitou as próprias mãos no cobertor escuro da cama antes de perguntar com temor:
― O quanto Ragnar é perigoso?
Loki deixou os ombros cederam e se aproximou da esposa, parando ao lado da cama e voltando a segurar o rosto dela entre suas mãos gélidas. Precisava soar confiante naquele momento.
― Ele é um enviado de Thanos, então é claro que é perigoso o suficiente para me matar. Mas tudo vai dar certo e eu vou ficar bem.
Subitamente Sigyn se ajoelhou na cama e o puxou para um beijo profundo e longo, permitindo que seu medo e sua preocupação fluíssem livremente.
― Vá, salve Asgard e Thor, mas também salve a si mesmo e não se esqueça da sua família.
― Eu nunca esqueceria ― Loki garantiu depositando um beijo firme em sua testa ― Entrarei em contato quando for seguro.
Afastou-se sem deixar sua determinação falhar e pegou seu cajado disfarçado sobre a mesinha ao lado da porta.
― Loki.
O deus virou parcialmente, encontrou os olhos escuros de Sigyn brilhando mais intensamente e esperou.
― Eu confio em você ― ela completou erguendo a mão esquerda e expondo a aliança dourada, como uma benção de despedida.
Loki apenas sorriu e acenou a cabeça levemente antes de lhe dar as costas e seguir seu caminho. Não muito longe dali conseguiria seu transporte para voltar a Asgard e iniciar o plano que provavelmente o mataria.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Lothur
FanfictionThanos ansiava pelo poder e, sem ter a liberdade que queria, decidiu agir através de Ragnar, um Asgardiano com a mente distorcida que almejava o poder tanto quanto o Titã Louco. Loki descobriu isso de uma maneira nada agradável e se viu forçado a a...