Capítulo 2 - O acordo

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A cabana da senhora Ranedaile era maravilhosa. Suas paredes eram floridas, as janelas de madeira, com quadrados de vidro... Trepadeiras floridas subiam até o telhado de madeira, transformando-a numa casa dos sonhos de qualquer criatura fantástica que ali pudesse existir.

Sim, ela *era* fantástica. Porque após o episódio da fotografia, a graciosa cabana mística, a cada semana que se passava, ia se tornando uma casa dos gritos. Quase todas semanas coisas quebravam lá dentro, murros em paredes eram dados, era tudo o que se podia ouvir, além dos gritos e rugidos dentro da moradia da Sra. Ranedaile.

O Cão estava furioso e descontava toda a sua raiva na sua esposa e na casa. Afinal, para ele, era dela a culpa das fotografias.

Quando os murros na parede começaram a se tornar cada vez mais próximos do seu corpo, Rane decidiu reagir. Como os olhos do Cão se mostraram sensíveis à luzes piscantes, ela comprou vários flashes de alta potência e os instalou nas árvores situadas próximas à cabana.

Depois foi à cidade, junto com Xinif, que estava coberto - como sempre -, em seu barzinho preferido, o _Sexto Sentido_, pediu uma cerveja gelada e ficou observando o movimento da rua, enquanto esperava a pessoa que iria ali encontrar.

Algumas pessoas a cumprimentavam, mas ela sabia que era por curiosidade, para tentar ver o corpo de Xinif. O fluxo de cumprimentos dobrou após o evento da fotografia. Todos sabia que Rane escondia algo/alguém naquela cabana e o fato dela esconder o corpo daquela pequena cria parecia dizer: "Xinif tem a ver com essa coisa".

Algumas especulações de cristãos estavam dizendo que Ranedaile era uma espécie de noiva do Diabo e a cria que ela carregava era o próprio anticristo. E por, segundo eles, não poder ser visto quando menor, Rane cobria-lhe o corpo para evitar o caos na cidade. Porque, apesar de tudo, até mesmo os que acreditavam nessas especulações, não duvidavam da bondade de Ranedaile. Esses acreditavam que: o Inimigo a estuprou, engravidou e forçou um casamento entre ambos para que o nascimento daquela cria horrenda desse certo. Fazendo com que ela se mudasse para o meio da floresta, para que fosse evitado tumultos, fofocas e possíveis agressões.

Mas... Esse era apenas um dos vários boatos que rondavam a mente do povo. Existiam vários e todos eram diferentes, porém similares em algum ponto. Ranedaile não dava a mínima, sabia que eles existiam, mas fingia que não. Virou até automático o ato de ao ouvir cochichos, colocar fones de ouvido e ouvir uma música qualquer do seu celular.

Aqueles boatos, segundo ela, não eram verdadeiros. Logo, não a interessava saber.

Por volta das 15:00, uma mulher se sentou na mesma mesa que Rane. Era Didi, uma das poucas pessoas que pareciam não se importar com a vida misteriosa de Rane e sua cabana e, por causa disso, Didi era considerada uma grande amiga.

Rane, que usava uma roupa de manga comprida, num dia ensolarado de verão, tocou na mão da amiga que parecia mais um travesseiro de penas, de tão macia e rechonchuda, e a apertou.

-Preciso da sua ajuda - ela suplicou -. Por favor. É tudo o que eu te peço. Pode me cobrar depois.

Didi ficou assustada de início, é óbvio, porém se acalmou e perguntou:

-O que foi, Rane? Em que posso ajudar?

O que veio a seguir foi tudo menos o que ela seria capaz de imaginar. Ranedaile mordeu os lábios, parecia extremamente assustada. Suava frio, seus olhos estavam arregalados de uma maneira controladas. O suficiente para fazê-la parecer estar em pânico.

A mulher do Cão se levantou e pediu para que Didi a seguisse com a cabeça. A segunda, mesmo receosa, a seguiu, sentindo os olhares as acompanhando.

Elas andaram durante algumas quadras e, então, Rane parou. Segurou o pano no rosto de Xinif, por causa do vento, e falou baixo:

-O Cão está bravo comigo. Ele acha que a culpa foi minha.

Didi não sabia o que dizer, ela não estava entendendo aquela conversa.

-Culpa pelo o que, Rane? - tentou falar da forma mais calma possível, num método de passar para ela a sua calmaria, mas o seu coração era impossível de esconder a sua frequência subindo mais a cada segundo - Do que você está falando?

-Das fotos, Didi! - ela começou a soluçar. Levou as mãos ao rosto e puxou forte a respiração, para que um choro não começasse ali mesmo - Aquelas malditas fotos! O Cão acha que é minha culpa e agora está agressivo comigo.

Didi arregalou os olhos. Será, então, que Cão era mesmo perigoso, como imaginavam?

-Ele é perigoso, Rane? - a mulher prendeu seus lábios entre os dentes e fez uma cara confusa e, logo depois, balançou a cabeça negativamente de forma forçada, como se estivesse negando aquela possibilidade até mesmo para si. Como se não pudesse dizer aquilo - Você está em perigo?

Ao ouvir essas palavras, Rane segurou rapidamente as mãos de Didi e as apertou. Sua respiração era rápida e tremida, como se ela quisesse respirar lentamente e o medo mais o nervosismo não deixasse.

-Por favor, Didi... - ela suplicou - Preciso da sua ajuda! Fico lhe devendo um favor depois!

Didi confirmou, receosa.

-Do que você precisa?

Rane retirou um papel e uma caneta do seu bolso e pediu para que sua amiga anotasse o seu endereço.

-Quando você ouvir batidas na porta... Você deverá correr até perto da minha cabana, ficar próxima à segunda placa de aviso e fazer qualquer barulho. O mais alto que puder. Quando a porta se abrir, corra em direção à uma árvore próxima à primeira placa. Essa árvore terá um "x" vermelho pintado, no chão terá um botão de mesma cor. Você só precisará pisar nele e continuar correndo até sair da floresta e pode ir para a sua casa.

Didi ficou receosa, mas mesmo assim anotou seu endereço no papel e a entregou.

-Eu vou estar correndo algum risco com isso, Rane? - perguntou apreensiva.

-Contanto que faça como eu lhe falei... - respondeu Ranedaile a alertando num tom um pouco mais calmo, porém ainda com a respiração pesada - Não.

Didi respirou fundo e disse:

-Tudo bem, então. Espero pelas suas batidas na porta.

Rane sorriu. Pensou até em responder aquele comentário, mas decidiu esperar para que ela visse com seus próprios olhos.

-Não serei eu quem baterá na porta - desistiu.

-Então quem será? - perguntou Didi.

Rane deu um riso rápido e disse:

-Ninguém.

Agora que a outra não tinha entendido nada mesmo, chegou até a se arrepiar. Ela frangiu o cenho e a olhou de um modo curioso e temeroso ao mesmo tempo.

-Como assim? - perguntou.

Então Rane respondeu antes de ir embora, a abraçando:

-Quando a hora chegar, você vai ver.

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⏰ Última atualização: Feb 03, 2018 ⏰

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