Ascenção e decadência

A lenda de Asmoth

Meu despertador me acorda com um ruído bem alto, daqueles ensurdecedores.

- Caio da cama espantado - Você podia ter escolhido um Lo-Fi pra me acordar...

- Desculpe Sr. Zorey, mas você não costuma acordar com frequências inferiores à 5.000 Hz - responde a inteligência artificial.

- Eu tenho que concordar... - falo me levantando e me espreguiçando - Tenho tarefas pra hoje?

- Aula às 15:00, jantar com a Srt. Medel ás 19:30, treino às 22:00 - o sistema mostra a agenda no computador.

- Não pode adiar o encontro? - Tiro minha roupa entrando no banheiro e aciono um dispositivo na parede. Do chão começa a fluir, através de pequenas brechas, um vapor capaz de eliminar rapidamente 90% de toda sujeira na superfície do meu corpo. - Quer adiar pela terceira vez? Vai magoar sua namorada não acha?

- Eu já disse que ela é só uma amiga... - Resmungo -

Saio do banheiro depois de um tempo e visto minha roupa. Em Nilric todos possuem apenas uma roupa com uma tecnologia capaz de se alterar estruturalmente através de partículas especiais que podem se tornar um pijama, um terno, um maiô ou até mesmo uma armadura.

- Vou ao colégio agora. Certifique-se de manter a segurança do meu quarto. Tranque portas e janelas e abra apenas para quem o falar a senha, "água dura, quando bóia, tanto mexe até que fura" - saio do quarto acionando o sistema de segurança.

Ando pelas ruas e observo as pessoas andando ao meu redor. Todas concentradas em dispositivos chamados "Wyatt": chips implantados no cérebro, como um telefone dentro da cabeça. É útil e interessante mas desde que foi lançado as pessoas se distanciaram ainda mais uma das outras. Sou um dos poucos que ainda prefere o uso do Smartphone.

Chego ao colégio. Há dois anos atrás ainda era possível ver brigas , casais se pegando no intervalo, paqueras, entre muitas outras coisas idiotas que os adolescentes costumam fazer, mas que ainda assim me faziam falta.
A vida neste reino é luxuosa e fácil. Talvez esse seja o maior problema, nada é tão empolgante pra mim que me faça sair da rotina. Penso que talvez eu não devesse ter abandonado as forças especiais para ter uma vida normal. Não conseguia me acostumar sendo apenas um cidadão comum em Nilric.

Ando até minha sala de aula e ao entrar percebo todos os alunos vivendo no seu próprio mundo virtual. É estranho quando as pessoas estão conectadas ao Wyatt, algumas ficam tão concentradas que fazem cara de pateta. É engraçado.

Dou um tapa na testa de um dos colegas que estava reproduzindo a tal cara de pateta - Acorda! - Falo rindo - O colega se assusta e se desconecta do dispositivo -

- Já chega Bryan, sente-se agora! - Ordena o professor se levantando de sua mesa - Quer mesmo causar problemas na minha aula? Suas notas já estão bem baixas. Que tal pedir desculpas?

- Eu não gosto muito de receber ordens de pessoas estúpidas como você - Encaro o professor - Você nem sequer levanta pra dar aula!

Uma tensão se alastra pela sala, os alunos boquiabertos, o professor Johnson fica vermelho sem saber que palavras usar para defender sua autoridade (ele não estava acostumado a ser desafiado) e eu apenas continuo o encarando. -

- Não consegue ficar longe de problemas não é mesmo? Acho que tá no sangue... - fala uma moça jovem na entrada da sala.

- Tá falando de mim? Justo você, a mais problemática! - sorrio ao perceber a presença de minha irmã e vou até ela abraça-la.

Katrina Taerion. Minha irmã e uma das garotas mais famosas e invejadas do reino. Além de ser uma das guerreiras mais poderosas, é capitã e dona de uma rara beleza: cabelos brancos, longos e brilhantes; olhos com uma cor suave e verde, pele branca, corpo escultural e desejada pela maioria dos homens. Mas Katrina diferente do que a maioria pensa, não é um ser dócil e gentil. Pelo contrário, a maioria das vezes é mal-humorada e orgulhosa, entre muitos outros defeitos. Mesmo sendo um pouco mais nova que eu ela é bem ocupada com as tarefas no exército, por isso não nos vemos com muita frequência.