Hoje eu acordei.
De novo.
Eu tinha jurado para mim mesma que ontem seria meu último dia, mas infelizmente, não foi.
E agora que me vejo aqui, olhando a luz da manhã entrar pelas cortinas brancas, mas nem tão brancas devido a poeira, sentindo meu peito subir e descer com a respiração calma que tenho, sentindo o meu coração bombear sangue por todo o corpo, sentindo o sangue correndo nas minha veias... Eu sinto... Que todas aquelas lágrimas da noite passada foram em vão.
Como fui idiota em pensar que se eu conseguisse chorar bastante, toda a tristeza do meu peito iria embora... De novo!?
Talvez fora pelas mil rezas que fiz a mil seres supremos de querer não acordar na próxima manhã. Ou, talvez, o arrepio que me pareceu mais um alívio ao pegar no sono me fizera acreditar que eu não acordaria hoje.
E estar acordada agora, sentindo a vida correr por todo o meu corpo, me fez sentir a tristeza. Não audaciosamente a maior tristeza do mundo, mas a tristeza.
Afinal estar vivo sem um motivo para viver é o mesmo que estar morto.
Estar vivo apenas por estar não me parece aproveitoso.
Viver penas para invejar as pessoas que conseguiram alguma coisa na vida e que estam felizes não me parece certo.
Não é viver quando tudo o que faz é estar trancada num quarto, onde a tanto tempo não saí que já era notável as camadas de poeira pelo chão.
Esse quarto era tão imundo quanto seu inútil dono, que esperara pacientemente pela morte pela vida inteira.
Quando eu finalmente decidi me levantar, quando eu finalmente decidi que eu desistiria da tristeza para tentar conquistar a felicidade...
Me levantei e agora percebi que já era tarde de mais.
Percebi no momento em que levantei e senti leveza, como se eu flutuasse.
Percebi no momento em que levantei, sem causar um único movimento naquela cama, que já não dava mais tempo pra me dar uma chance.
Pois quando olhei para ela de novo, eu vi meu corpo.
O fato de ter ficado tanto tempo ali sem realmente reparar o tempo a fez sorrir, não um sorriso fingido como os outros, era mais um sorriso sincero de alívio e felicidade. Pois não aguentaria saber os dias contados, não aguentaria saber que viveu sendo um fardo por tanto tempo.
Então esse tempo todo já havia se livrado do título de fardo que se autodenominava.
Isso era um alívio para mim.
E enfim eu pude ir, sem arrependimentos, apenas aquele de ter vivido tanto.
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Tristeza
Short StoryApenas um capítulo, sem começo nem fim. Sem passado nem futuro. Um pequeno desabafo do que eu tanto imagino ao acordar.