COSTA DO MAR. FAUSTO E MEFISTÓFELES
FAUSTO:
Demônio, estou entediado.
MEFISTÓFELES:
O que fazer, Fausto?
Este é o limite, ninguém transgride.
Este é o destino de todo ser humano.
Ninguém pode evitá-lo, porque todos os racionais se aborrecem:
Alguns, por estarem muito desocupados,
Outros, porque estão ocupados demais;
Alguns porque têm muita ou pouca fé;
Alguns estão completamente saciados, e outros, ainda não conseguiram se satisfazer;
E todo mundo vive e boceja, e espera por todos, bocejando,
O túmulo.
Por que você não deveria bocejar também?FAUSTO:
A piada está obsoleta. Distração é o que eu quero, então me encontre uma.
MEFISTÓFELES:
Apenas se contente com os argumentos da razão.
Escreva em seu livro este pequeno verso: Fastidium est quies - tédio
Não é senão, o repouso da alma
Eu sou um psicólogo... Isso é ciência!...
Diga-me, então, Fausto,
Quando você não esteve entediado?
Você não se lembra? Pense.
Quando você dorme, lendo Virgilio, sendo necessário chicotadas para despertar?
Ou quando com rosas você alimenta os favores das meninas, com todo seu ardor embriagado em uma festa que você dedicou a elas?
Ou quando você caiu em ótimos sonhos, sonhos profundos
Ou quando foi submerso pela reflexão sobre os sofismas da ciência?
Lembro-me que naquele momento, finalmente, entediado, você me chamou e, do fogo de gehena, vim até você.
Eu me esforcei como um palhaço para agradá-lo;
Eu o levei a bruxas e espíritos malignos.
E para que? O tempo que você desperdiçou só serviu para entedia-lo mais:
A glória que você desejava, você a alcançou ;
Você queria se apaixonar - você fez isso.
Você teve da vida o que a vida pode oferecer.
Você foi feliz?FAUSTO:
Ah, vá embora!
Não abra minha ferida secreta.
A sabedoria é infértil.
Naquele conhecimento profundo nada vive; Eu amaldiçoo a luz falsa que dá,
E quanto à fama, seu brilho aleatório logo desaparece.
A fama mundana é tão oca quanto os sonhos...
Há, ao que parece, uma bênção real: a união, a aliança de duas almas ...MEFISTÓFELES:
A primeira tentativa de amor, certo?
Posso saber a quem você alude?
Por acaso é Gretchen?FAUSTO:
Oh, sonho maravilhoso!
Oh, chama de puro amor!
Lá no delicioso crepúsculo,
Debaixo das folhas, onde, minha cabeça descansando naquele peito macio.
Meu cansaço tomou vôo.
Lá estava feliz...MEFISTÓFELES:
Você está sonhando, Fausto, em plena luz do dia! Você está em auto-enganação.
Você se engana com lembranças prazerosas.
Não era eu, Mefistófeles, que insistiu em conseguir essa beleza divina?
Não fui eu quem na hora mais escura da meia-noite, trouxe-a para você?
Minhas obras. Eu me diverti com o fruto do meu esforço assíduo, olhando para vocês furtivamente.
Sim, lembro-me de tudo, tudo.
Quando sua bela amante estava
Profundamente extasiada,
Você mergulhava com sua alma na meditação, a qual, como vimos,
vem do tédio.
Meu filósofo, o que você pensou no momento em que ninguém pensa?
Você quer que eu te conte?FAUSTO
Conte-me sobre isso.
MEFISTÓFELES:
Pensavas: "Meu cordeiro obediente!
Oh! Avidamente desejava por você!"
Com que astúcia suscitei devaneios de amor na menina de coração puro!
E ingenuamente ela se entregou a paixão involuntária...
Amor desinteressado.
Por que então tenho meu peito cheio de tristeza e de tédio angustiante?...
Sentindo prazer total,
Eu olho para ela agora, uma vítima da compulsão do meu capricho, com uma aversão insuperável.
Assim como um tolo malicioso,
Mata um mendigo na floresta e observa o corpo rasgado.
Depois de um breve prazer, se enfurece, a corrupção está o cortando tímidamente..."
Depois de tudo isso, você chega à conclusão...FAUSTO:
Criação infernal! Corra para longe da minha vista!
MEFISTÓFELES:
Te deixo, mas antes dê-me uma tarefa, sem uma causa, você sabe, de você não me atrevo a ir embora
Não costumo, como sabes, partir sem ter recebido alguma missão.
Não posso perder tempo em vão.FAUSTO:
O que é aquela coisa branca na água? Responda!
MEFISTÓFELES:
Um navio espanhol
para a Holanda.
Ele carrega a bordo centenas de almas sórdidas, dois macacos, ouro em barris e chocolate.
Além disso, uma doença moderna que nos foi dada recentemente.FAUSTO:
Afunde a todos!
MEFISTÓFELES:
Imediatamente!
(Desaparece)
FIM
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Uma cena de Fausto
PoetryPoema escrito pelo poeta russo Alexander Pushkin em 1826, notável pelo diálogo de Fausto com o demônio Mefistófeles.