20 de setembro de 1992
- Francisco estamos indo para casa. - Minha mãe ainda estava chorosa após o enterro de seu pai, meu avó Constantine. - Vou até o parque.- Não se demore. - Meu pai diz com o rosto impassível de sempre. - Tudo bem pai.- Vamos Roberto, quero ir para casa. - Ela se apoia em meu pai mais que o necessário fazendo com que ele quase caia.Eles formavam um casal engraçado. Minha mãe era baixa e acima do peso e meu pai, alto como uma escada e magro como um espeto de churrasco. Os dois hoje estavam de preto da cabeças aos pés. O que favorecia um pouco minha mãe, mas fazia meu pai ficar ainda mais mirrado.Dessa mistura nasci eu. Agora com meus dezesseis anos. Alguém normal, apenas mais um jovem na multidão. O maldito terno me apertava. Ainda era do ano passado quando uma tia distante havia batido as botas e eu usará esse mesmo terno. Meu avó merecia mais que um terno usado em seu enterro, mas eu no fundo que eu poderia ter ido vestido de palhaço com um nariz vermelho gigante e uma flor na lapela que ele não se importaria. Meu avó era feito de um material diferente. Dizia a ele que ele não era desse mundo. Não podia ser. Ele ria quando não era para rir. Ria até chorar e claro, eu acabava rindo junto. Ele brincava comigo quando era criança como se ele próprio fosse uma criança. E quando cresci, me apoiava em tudo que eu deseja ser. Passei por todas as fases desde astronauta até a minha atual, escritor. Meus pais torciam o nariz, mas meu avó não. Ele diz que eu poderia ser o que e quem eu quisesse ser. Caminhei em silencio pela rua. O cementério era perto do parque. Não sei o motivo para tal feito estranho, mas não me importava agora. Só queria me sentar e pensar ou não pensar em nada, apenas olhar o lago. Chego e observo algumas pessoas andarem por ali. Algumas com seus bebes no colo. Outras lendo. Outras rindo e conversando.Me sento em um banco de frente para o lago. Perto de mim, posso ver as flores que caem. Amarelas rodopiantes e belas. Caindo no chão como se jogassem e caíssem lentamente, esperando que alguém as salvasse. Mas não encontrando quem as pegassem, caiam e ficam ali, no chão calmas e ainda sim com mais vida que eu naquele instante.- Belo terno. - Ouço um voz feminina dizer a meu lado.Tiro os olhos das flores e olho para a garota do meu lado oposto.
- Nada como um enterro para se vestir bem.
- Concordo. - Ela diz e se senta a meu lado.
Observo seus cabelos negros e longos balançarem levemente ao vento. Sua calça jeans gasta, seus tênis All star preto e sua blusa de uma banda de rock que eu não conhecia. Ela saca um livro de sua bolsa de couro tipo carteiro.
Volto os olhos para as flores novamente. Vejo algumas caírem leves pairando até cair no chão.
- Foi a uma festa? - Ela pergunta depois de algum tempo de silencio.
Demoro um pouco para perceber que ela está falando comigo.
- Sim, a ultima festa do meu avó.
- Sinto muito. - Ela diz tirando os olhos do livro.
- Obrigado. - Digo me voltando para a árvore novamente.
- Como se sente? - Ouço ela fechar seu livro.
Me viro para encara-la.
- Como se tivesse tomado tantos remédios que não estou mais sentindo meu corpo.
Ela dá um meio sorriso.
- Eu entendo. Me senti assim também quando minha tia morreu.
- Sinto muito. - Digo sendo o mais sincero possível apesar de nunca te-la conhecido, também havia perdido pessoas que amava.
- Eu gostava da minha tia sabe.
- Eu amava meu avó.
- Ele estava doente?
- Não, apenas velhice mesmo. - Dou de ombros. - E sua tia?
- Se suicidou. - Ela diz com o que parecia tristeza na voz.
- Depressão? - Pergunto tentando não parecer curioso.
- Sim. Ela tinha um humor muito instável. Mas quando estava feliz ela era engraçada, divertida e maravilhosa.
- Entendo. Depressão é uma coisa complicada.
- Um dia vou achar a cura para a depressão e mais pessoas como eu não perderão mais pessoas como minha tia.
Assinto.
- Boa sorte.
Vejo ela sorrir em agradecimento.
Ela começa a guardar o seu livro.
- Está indo? - Me surpreendo com minha própria pergunta. Eu não fazia amizade tão fácil assim.
- Preciso. - Ela começa a se levantar e se virar para ir embora. - Nós vemos quando as flores caem.
Mal sabia eu que isso levaria mais tempo do que imaginava.
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Quando as flores caem.
Short StoryUma história de amor contada através dos anos quando as flores caem.