Prólogo

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  “I AM SHERLOCKED”, bastava está única senha, uma única palavra, um básico conjunto de letras como S-H-E-R, para a Dominatrix, pelo menos era assim que a conheciam ou quase todo mundo, para os mais íntimos poderiam  chamá-la simplesmente de “The Woman”, a mulher, que um dia, já chegou perto do grande cérebro do maior detetive de todos os tempos.

   O plano de Irene Adler correra bem desde o início, seu telefone estava em segurança, todos os dados que comprometiam o governo britânico e até mesmo a vida de Mycroft, estavam armazenados no pequeno aparelho, uma bomba que poderia ser acionada a qualquer momento pela mulher.

    Após longos mistérios e contradições entre Irene e Sherlock, que poderiam ser considerados um casal, já que os dois eram bem peculiares em certas ações e John nunca vira uma mulher se envolver daquele jeito com Sherlock. Na maioria das vezes, o amigo nunca prestara atenção nas mulheres a sua volta ou se quer pensava em namoro, fazendo John chegar a pensar que o amigo era gay.

   Mas com a chegada daquela mulher, todas as opiniões de John se esvaíram, Sherlock gostava e se envolvia com as habilidades e deduções de Irene, seus joguinhos e seu jeito sensual e perigoso de ser, mas como sempre, a esperteza do detetive superou a da moça.

    Sherlock estava sentado pensativo em sua poltrona. Sabia que havia sido derrotado por uma mulher que lhe provocara  sentimentos e certas atrações. Mycroft na mesa, conversava com Irene sobre sua segurança futura, para proteger a si e ao celular, que dizia ser sua vida.

    – Agradeço pela consultoria criminal. – Se levanta.

   –  Faremos de tudo por sua proteção. – Mycroft levanta logo em seguida.

    Antes que a moça pudesse pegar suas coisas e sair, tendo a certeza de sua segurança, se vira para os Holmes afirmando que normalmente são conhecidos por “O Homem de Gelo”, referindo-se ao Holmes mais velho e “O Virgem”, se voltando agora para o mais novo.

   – Trago lembranças de Moriarty. – Disse a mulher já de saída e dando um sorriso malicioso para Sherlock. – Adorei esse jogo.

   – ESPERE! – Sherlock se levanta e encara a morena. – NÃO.

  Tanto a moça quanto Mycroft se entreolham sem entender.

   – Não o que? – Irene se aproxima do cacheado, que a fita com o olhar.

  –  Chegou muito perto. – Se aproxima ainda mais.- Mas não. Se envolveu de mais e deixou que seus sentimentos a fizessem se perder e acabar por cair na própria armadilha, acabou aproveitando demais.

   – Não existe nada que seja demais. – a moça o encara e começa a sorrir, expressando um olhar de desespero.

   – E não há. – O detetive avança ainda mais. – Eu te entendo, a ânsia pelo jogo, a euforia pela ação, a aventura, posso entender isso. Mas o sentimento, isso foi uma coisa que não pude esperar de você.

   – Sentimento? – A morena repetiu incrédula. – Não acha que estou apaixonada por você? Acha? Isso é ridículo. – Faz uma pausa. – Você pode ser o grande Sherlock Holmes, que soluciona crimes e anda com um chapéu engraçado, mas não é capaz de saber dos meus sentimentos. – Essas últimas palavras saíram com um tom de desespero em sua voz.

  Sherlock se aproxima, ficando a milímetros do corpo da mulher, seu rosto roçava nas bochechas de Irene e disse cuidadosamente suas deduções em seu ouvido, como se estivesse pronunciando uma fórmula ou algo que jamais alguém pudesse descobrir.

  –  Chequei seu pulso, batimentos cardíacos acelerados, pupilas dilatadas. – se inclina para trás e pega o celular próximo à mulher. – John acha que o amor é um mistério para mim, mas a química é muito simples e destrutiva. – Se afasta e começa a apertar alguns botões no teclado do celular.

   – Sempre achei que o amor fosse uma desvantagem perigosa. – Após terminar de digitar, seus olhos azuis esverdeados se voltam para a face da mulher. – Obrigado por me provar isso.

     E estava feito, Sherlock vira a tela do celular em direção ao rosto de Irene, mostrando-lhe a seguinte senha tão óbvia, mas que foi um grande desafio para o moreno.

     A vida de Adler estava ali, completamente destruída, dados descobertos, sua segurança arruinada como é óbvio, não duraria nem seis meses viva.

    E foi após aquela noite que a mulher foi abrigada a se refugiar nos Estados Unidos da América em um serviço de proteção a testemunha, mudara de nome e identidade, mas acabou sendo pega pelos terroristas que a decapitaram.

     Mas nem tudo era verdade, de algum modo Sherlock conseguira se infiltrar nos planos no irmão, sem ninguém desconfiar se misturou em meio aos terroristas e salvou sua vida, ou seja, a ânsia e o desespero de Sherlock por pensar em perder aquela mulher genial não cabia em sua mente.

    Alguns meses após o detetive ter feito o maior ato heroico de sua vida, Mycroft se encontrara com John para lhe informar da suposta morte de Irene.
  
     O amigo avisara Sherlock sobre o acontecido. John segurava um pacote com alguns documentos de Irene, mas um item em especial chamou a atenção de Sherlock.

    – Me dê o celular. – esticou a mão para que o amigo pudesse lhe entregar o aparelho.

   –  Não tem mais nada. Conseguiram apagar todos os arquivos. – John diz já se retirando da sala.

  – Por favor. – O moreno apenas estendia a mão para o amigo.

    Após alguns segundos de própria relutância do loiro, John cedeu e lhe entregou o celular, bufou e saiu para entregar os arquivos para Mycroft.

    Assim que o amigo saiu, Sherlock se levantou, colocou o telefone no bolso da calça social e pegou o seu sobre a mesa repleta de fórmulas e experimentos científicos.

     Caminha até a janela e checa no celular as mensagens que vinha trocando com Irene nos últimos meses até parar em uma, a última mensagem “Adeus senhor Holmes.”

      O olhar do moreno se voltou perdidamente para a rua deserta da noite de Londres, sorri, pega o celular que estava em seu bolso, com um misto de emoções joga-o no ar fazendo com que a queda seja certeira em sua mão. Deixa escapar uma palavra de seus pensamentos.

   – A Mulher. – Abre a gaveta e guarda cuidadosamente o celular com a consciência tranquila de que ela estava viva em algum lugar.

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Tempos depois...

   Mesma gaveta esta, que hoje, após alguns anos, Sherlock a encara como se fosse o maior pesadelo de sua vida, um sentimento guardado, o maior medo do detetive estava ali diante de sua face, o telefone de Irene que lhe trazia a tona seu maior inimigo, o amor e a real consciência de que também era humano.

    Fechou a gaveta com tamanha força, gerando um eco único na sala e quebrando o silêncio perturbador. Dirigiu -se para sua boa e velha poltrona, se jogou no acento, observando a imagem vazia da poltrona de John.

    Mas por mais que fosse o ser que fosse, Sherlock não escapou do cruel veneno que é o amor. Ao pegar o jornal, antes mesmo que começasse a ler as notícias, seu celular anunciara o som jamais inesquecível pelo detetive.

    Com mãos trêmulas pegou o aparelho e leu a seguinte mensagem.

   “Feliz aniversário Sherlock”

   Logo uma outra frase pairou pela sua cabeça e uma lembrança daquela noite dominou sua mente, o fazendo encostar a cabeça na parte superior da poltrona, fechou os olhos, a imagem clara da mulher em prantos com lágrimas ameaçando cair de seus olhos e a frase que disse ao sair da sala, repetiu em um tom baixo com medo de que alguma mosca se quer que passasse por ali fosse capaz de escutar as seguintes palavras.

   – Desculpe pelo jantar. – lágrimas cortaram sua face, agora mais humana que o normal.


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