Capítulo 1

169 23 24
                                    


 Hoje era pra ser mais um dia normal – acordar, comer qualquer coisa que não estivesse apodrecendo na geladeira, ou com sorte algo que John comprara na padaria mais cedo; depois tentar achar um caso que não fosse extremamente chato e entediante e, com sorte, talvez um assassinato surgisse. – e tinha tudo para ser só mais um dia. Com exceção de que não era.

Levantei e o flat estava estranhamente silencioso; John ainda não havia acordado, e eram quase onze da manhã de um dia de semana. Não havia nada que indicasse que ele houvesse saído, logo, eu não precisava ir ao seu quarto para saber se ele estava lá. Se ele tivesse tirado o dia de folga, ele provavelmente estaria passeando com Rosie em algum parque por aí, ou conversando com Mrs. Hudson enquanto os dois bebiam chá. Não era um dia de folga. Ele simplesmente não tinha ido trabalhar. Só bastou olhar para o calendário por dois segundos para confirmar o que eu já sabia: Hoje, especificamente hoje, faz um ano que Mary morreu, e eu vi John chorar pela primeira vez. Decidi que não o acordaria, muito menos o importunaria perguntando por casos. O deixaria fazer o que quisesse e o ajudaria se precisasse – não sei como, nem com o quê, mas me parece o tipo de coisa que se faz nessas ocasiões. Era uma pena que Rosie não sabia disso, e acordou chorando sem motivo aparente, como bebês normalmente fazem por alguma razão que eu nunca vou entender. John surgiu na sala com Rosie em seus braços e um olhar cansado em seu rosto.

"Que horas são ?" Sua voz estava tão rouca que as palavras mal foram articuladas.

"Faltam exatos Cinco minutos para as onze horas."

Ele deu uma piscada longa e forte com os dois olhos, depois de abri-los novamente, arregalados, tentando se sentir menos sonolento.

"Preciso atender um paciente importante em uma hora, pode cuidar da Rosie pra mim ? Volto assim que terminar essa consulta." Ele disse colocando a frágil e estranhamente pequena bebê em meus braços e correndo em direção ao banheiro.

Quinze minutos depois, saiu apressado pela porta pedindo que eu chamasse a Mrs. Hudson se Rosie começasse a chorar por outro motivo que não fosse fome. Eu não entendia o fato de ela chorar por fome para começo de história; Ela era até que bem gordinha para um bebê. De qualquer modo, resolvi não questioná-lo, afinal a filha era dele. Eu era só um...Céus, eu era uma babá. John havia me feito de babá e eu nem sequer protestara contra. Não era a primeira vez, e eu tinha a plena certeza que não seria a última. Olhei para a miniatura do que um dia seria uma garota e ela sorriu para mim. Parecia achar o meu rosto extremamente engraçado.

Aquela tarde foi uma das mais longas da minha vida, por motivos que eu tentei listar só para passar o tempo. 1) Eu estava preso, num flat que começara a me parecer pequeno, sem nada que pudesse me distrair; sem casos, sem enigmas, sem coisas para memorizar, e nem ao menos podia atirar na parede ou coisas do gênero, porque Rosie não era forte o suficiente para ouvi-los sem chorar ou ter problemas auditivos permanentes. O que nos leva ao 2) Rosie era um bebê extremamente entediante. Eu sabia os horários em que ela comia, então ela não tinha tempo de chorar por isso, mas ela também não chorava por mais nada. Ela só brincava quieta com seu ursinho de pelúcia novo e ria casualmente de mim andando em círculos ou de um passarinho que passasse pela janela. A graça de brincar com ela havia se perdido muito tempo atrás, e ela não me apresentava nem sequer um problema para que eu pudesse ocupar minha mente. Nem ao menos aqueles refluxos estranhos que a maioria dos bebês têm depois de comer. E 3) John havia me dito que voltaria depois de uma única consulta, e já haviam se passado quatro horas desde então. Onde quer que ele estivesse, Tudo o que eu queria á essa altura era que qualquer pessoa – qualquer pessoa mesmo; Lestrade, Molly, Mycroft, Donovan ou até mesmo Anderson. Sim, Anderson. Esse era o meu nível de desespero. - entrasse de repente pela porta daquele flat me dizendo que alguém muito próximo dela acabara de morrer e ela precisava da minha ajuda urgentemente, mesmo que eu levasse um bebê comigo para a cena do crime.

Another YearOnde histórias criam vida. Descubra agora