Capítulo 1: Primeiras impressões...mudam?

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A insegurança e o medo tomam conta de todo o meu ser. Este é um lugar novo, desconhecido e no qual eu não sei se desejo estar nesse exato momento. Esse é um colégio interno para pessoas como eu, que os pais já não suportam mais e, por isso, deixam a encargo da escola a obrigação de educar, ou ao menos de tentar. Eu estou em uma escola para jovens delinquentes. O motivo? Minha mãe me encontrou, aos beijos, com um garoto que vive em nosso bairro e ficou irritada com toda a história.

Tenho 17 anos e isso não deveria ser um problema para as famílias do século XXI. Sou jovem, quero viver as coisas, sentir, ver e conhecer o mundo. Mas, ao mesmo tempo, sou muito responsável, estudo, tiro boas notas, não bebo. Sou o exemplo da família. Ou... ao menos era. Não foi só a minha mãe ter me visto aos beijos com o menino da nossa rua que fez com que eu estivesse aqui nessa escola no início do ano letivo...foi a família toda.

Nós sempre fomos muito religiosos e, de acordo com a religião que seguimos, ficar beijando meninos por ai não faz parte do "Código de bons costumes" da religião. Simplesmente porque não acham certo. Não, não há nenhum tipo de explicação, nenhuma justificativa plausível para essa restrição. Eles só julgam errado e, por consequência, temos que aceitar o que é decretado e agir da forma considerada adequada. E a minha família aceita isso, vive isso. Todos. Meu pai, minha mãe, minha irmã mais velha e meus dois irmãos mais novos. Todos, menos eu.

Minha curiosidade a respeito de como era beijar um garoto tinha aumentado no último ano e, como se não pudesse mais ser contida em meu peito, se transformou em uma realidade. Caio foi quem eu beijei. Devo admitir: eu gostei. Gostei muito. Foi como se o ano novo tivesse chego mais cedo em casa, mas apenas para mim, eu pude sentir aquilo dentro, borbulhando e explodindo como fogos de artifício. Foi mágico e inesquecível.

No entanto, acabou. Minha mãe flagrou nós dois, puxou meu braço, nos separando, e me arrastou para casa. Chegando lá, fez com que eu sentasse sobre o sofá, chamou a família e contou a todos o que vira eu fazendo. Nessa noite, vi todos os seus olhares de reprovação e tive a certeza de que, nunca antes, sentira ou sentiria a dor que estava dilacerando o meu peito naquele momento. Uma coisa é não agradar desconhecidos, outra, bem diferente, é fazer isso com seus familiares. Dói, dói muito. A pior dor do mundo, pois não pode simplesmente ser curada com um curativo e uma boa dose de remédios. É algo que nos atinge internamente, em cheio, bem na nossa alma, na nossa essência.

Depois desse dia, meu pai decidiu que eu estudaria o próximo ano, o último do Ensino Médio, nesse internato para jovens desajustados. Toda essa atitude por parte da minha família pode parecer loucura, e não vou dizer que não o é. Mas para eles, as coisas são exatamente assim: não conversam, não propõem diálogos, não escutam. Todos são práticos: se precisam resolver algo, então preferem que uma solução seja colocada em prática imediatamente, pois assim o problema deixa de fazer parte de seus caminhos. Eles precisam disso. Assim, atitudes extremas como essa de me enviar para esse colégio são habituais. Eu já me acostumei. Isso não quer dizer que aceito, só me habituei, aceitei porque sabia que não mudariam de ideia.

Sabendo disso, posso voltar novamente ao momento presente, em que estou entrando pelo portão da minha nova escola e caminhando na direção da entrada principal, onde imagino ser o local ao qual devo me dirigir para poder receber as informações de que preciso a respeito do lugar. Esse internato, devo explicar, não é literalmente destinado a jovens desajustados, ao menos não é essa a propaganda que eles fazem. Essa ideia é, na verdade, decorrente da opinião pública, que passou a vê-lo dessa forma porque a maioria dos alunos teve problemas com a família e, portanto, foi enviada para cá, sem direito a voltar para casa nos fins de semana.

Olhando a partir dessa perspectiva, imaginamos que a vida aqui dentro não seja a das mais felizes. Para mim, entretanto, não sinto um grande incômodo. Na verdade, creio que as coisas não serão tão ruins assim quando superar meu medo e insegurança iniciais. Isso ocorre porque, ao meu ver, o ano que passarei aqui será como se tivesse tirando férias...férias da minha família. Em meio a eles, sempre senti que não faço, realmente, parte de suas realidades. Minhas crenças, meus gostos e meus desejos são bem diferentes dos deles. Apesar de ser um modelo da família, dentro de mim, desejava constantemente poder me ver livre de tudo aquilo, ao menos uma vez. Eu não gosto de ir à igreja escutar sermões que julgam as pessoas e dizem que elas vão para o inferno por gostarem disso ou daquilo ou por fazerem isso ou aquilo. A ideia não me agrada e não consigo fazer com que ela entre em minha cabeça.

In love...In love?Where stories live. Discover now