Capítulo 2

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Duas semanas. Esse foi o tempo que se passou desde a última operação em que ela esteve presente. Metade de um mês havia se passado e, agora, a Rainha Vermelha parecia entediada. Mas aquilo viria a mudar. Mais rápido do que poderia imaginar.

Sentada em seu escritório, a Rainha estava separada da movimentação de seu bando por uma simples porta. Seus homens e mulheres tendiam a não decepcionar a chefe. Alguns se preparavam para missões, checando seus armamentos e rezando para quem bem entendessem. Outros voltavam de seus trabalhos, estacionando carros e caminhões no estacionamento, descarregando as novas mercadorias e os pagamentos pelos serviços prestados à sociedade, prosseguindo para o bar ou para a enfermaria. Às vezes para os dois. A ordem não parecia importar muito.

Compra e venda de armas. Compra e venda de drogas. Proteção para os que pagassem. Conflitos contra a polícia que mais agia como uma milícia que saia para caçar bruxas. Era disso do que a Máfia da Rainha Vermelha vivia. Era assim que sobreviviam a cada dia.

Não havia outro jeito. Ela não acreditava que havia um lugar melhor para se viver. Fugir daquelas terras cinzentas e sem leis era um sonho para muitos. Mas não era possível. Entrar nas grandes cidades não era permitido. Mesmo que alguém escalasse os muros, não conseguiria se misturar ao povo de lá. A podridão de lá era diferente. Era disfarçada, ignorada, completamente omitida em alguns casos. Era pior do que havia do lado de fora. E a Rainha sabia disso como ninguém. Não pretendia colocar os pés dela de novo naquele lugar imundo.

Uma batida leve na porta. Um momento de hesitação. Outras duas vieram rapidamente. Aquilo foi o suficiente para trazer a Rainha de volta à realidade, escapando de seu transe induzido pelo tédio da papelada em sua mesa.

Alexander se levantou. O gigante estava num canto, quieto, dormindo com seu sono leve. A Rainha às vezes não se lembrava da presença de seu guardião silencioso. Ela calmamente acompanhou o andar pesado do amigo até a porta do escritório. Abruptamente, ele abriu a porta.

A mulher do lado de fora foi surpreendida. Mesmo os mais antigos membros do bando se assustavam, mesmo um pouco, quando Alexander aparecia de repente diante deles.

— Tem alguém fora do esconderijo querendo entrar... — A mulher avisou. — Um policial. Sozinho. Parece ter uns cinquenta e poucos anos. Disse que te conhecia pessoalmente. Um tal de...

— Martin. — A Rainha presumiu. — Mande ele vir.

Aí estava um homem que ela não via fazia tempos. Mas ela tinha certeza que, eventualmente, acabariam se vendo de novo.

Poucos instantes se passaram e lá estava ele, no que era considerado o coração da base da máfia, cercado por curiosos que murmuravam o quão insano ele deveria ser.

Cabelos grisalhos. Barba rala também grisalha. Olhar sério. Expressão mal-humorada. Um metro e noventa de altura. Porte físico de um lutador. Uniforme azul-marinho. Distintivo no peito. Não parecia se importar com os mafiosos que o escoltaram até o lugar, nem mesmo com as armas apontadas para ele.

— Espero que não esteja se sentindo desconfortável. — A Rainha esboçou um sorriso. — Eles são meio desconfiados com sua gente, então não leve pro pessoal.

— É bom que eles estejam mesmo. — Martin retrucou.

— Acha que você tá na posição de se fazer de forte? — Um mafioso magricela indagou, rindo, cutucando a nuca do policial com seu revólver. — Hein?

Então, tudo aconteceu muito rápido. Um braço de Martin envolveu o pescoço do mafioso, sufocando-o, enquanto o revólver, agora na mão do policial, apontava para uma têmpora do magrelo.

Rainha VermelhaOnde histórias criam vida. Descubra agora