Unique

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Meus fones não estavam altos o bastante para abafar os sussurros distantes e eu já sabia que o motivo de toda aquela fofoca era uma garota encostada perto da porta do metrô, de cropped rosa e saia de botões marrom acompanhada de uma meia alta de rosas vermelhas em um vans vermelho e com uma maquiagem pesada e esquisita, presa em seu mundinho com aqueles fones patéticos.

Sim, aquela garota era eu.

Já estava acostumada com os olhares estranhos e os sussurros direcionados a mim, cheguei até a achar que eram só uma ilusão daquele turbilhão de vozes que ecoam sempre em minha mente sempre me alertando que sou uma falha na humanidade, mas sei que essas vozes não me deixaram sozinha.

Tirei o fone quando percebi que o metro estava parado no meio de um lugar que não dava para identificar pois só tinha uma parede de concreto em ambos os lados.

Que ótimo, paramos no meio de um túnel, pensei suspirando alto de cansaço.

Quando ia recolocar minha música, ouvi um sinal do metro acompanhado de uma voz alertando que estava ocorrendo uma rebelião na estação seguinte e que teríamos que aguardar até a mesma ser resolvida. Assim que o anúncio acabou, sabia que demoraria um século para o metrô voltar as atividades, então procurei algum banco para sentar e avistei um não tão longe ao lado de um garoto alto de cabelo roxo e expressão distante olhando para o concreto.

— Tem alguém sentado aqui? — Tentei perguntar da maneira mais educada possível, o que fez o garoto levar um leve susto.

— Não, pode se sentar. — Ele respondeu dando um sorriso sem mostrar os dentes e fechando um pouco seus olhos.

— Obrigado. — Agradeci sentando e me ajeitando para recolocar a música, porém, antes que eu pudesse dar o play, ele se virou para mim e iniciou uma conversa.

— Qual é seu nome?

— Lee Himary — Eu disse envergonhada olhando para o chão. Odiava meu nome, até ele fazia questão de ser esquisito.

— Uau, é bem diferente, eu adorei! — Ele disse empolgado, o que me fez ficar surpresa. — O meu é Kim Namjoon. — Concluiu estendendo a mão para fazer um comprimento e assim pude perceber que as mãos dele eram grandes e macias.

Depois disso, conversamos sobre varias coisas, sobre como ele sonhava em ser um rapper famoso mas nunca foi atrás pois sua família nunca o apoiou, sobre sua escola, seus amigos. E eu estava feliz por não falar sobre minha vida, acho que ele não iria gostar de ouvir estórias de uma fudida na vida que só faz detona tudo a sua volta apenas para se entreter.

— Sua vida é bastante agitada Namjoon, isso é muito legal.

— É só uma vida normal de aparências. — Ele disse olhando para o chão do vagão.

— Eu acho que te entendo. — Respondi com uma voz baixa e distante.

— Como você poderia me entender?

— Eu já cansei de ouvir dos outros que eu sou louca apenas por ser diferente. Tenho muita dor guardada dentro de mim, mas nunca posso demonstrar pois sempre fui obrigada a ser uma máquina para não magoar os outros, apenas para eles descontarem em mim e ter um respaldo positivo de mim, que seria um sorriso tão falso quanto à possibilidade de um dia eu ter uma auto-estima. — Quando parei de falar, percebi que tinha desabafado coisa até demais em cima de um desconhecido no metrô que não tem nenhuma ligação em minha vida.

Ele ficou um tempo calado apenas me encarando e depois me olhado de cima à baixo, me fazendo corar e pensar que ele iria fazer igual aquelas outras pessoas, apenas perceber o desastre natural que eu era. E quando eu ia levantar por vergonha, ele segurou minha mão e olhou novamente no fundo dos meus olhos e falou com sutileza:

— Como você pode não ter auto-estima quando está vestida de uma meia com rosas nela? É simplesmente genial! — Ele disse apontando para minhas meias e rindo, o que me fez acompanhar em uma risada de alívio com surpresa. — Mas por que você ia levantar?

— E-eu achei que você ia fazer igual todas as pessoas fazem. — Falhei em tentar demonstrar confiança na fala

— Você não pode ficar se importando com o que os outro falam de você, eles não sabem o que passam no seu coração para achar que tem o direito de te rotular.

— Eu sei, mas no fundo eles estão certos. Eu sou apenas uma porra de um furacão que destrói tudo que toca. — Comecei a sentir o nó se formar em minha garganta e as lágrimas ameaçarem a cair. — Eu só queria acordar desse pesadelo horrível.

Namjoon ficou um tempo calado, apenas observando as lágrimas teimosas rolarem sobre meu rosto e minha tentativa falha de esconder o mesmo olhando para minhas pernas, mas quando percebemos que o metrô começou a se movimentar novamente, ele pegou meu rosto com as duas mãos e limpou as lágrimas com um sorriso tímido em seu rosto e logo em seguida, colocou uma mão sobre meu ombro e a outra pegando a mochila dele.

— Himary, você não pode acordar pois isso não é um sonho! Isso é a vida real e a única pessoa que pode mudar o rumo que a mesma está indo, é você! — Após acabar de falar, pegou um caderno e uma caneta, anotando algo que parecia ser um número e arrancou a página me entregando. — Mas caso você queria um acompanhante para não passar por isso sozinha, sinta-se a vontade de me chamar!

Eu ainda estava sem fala quando ele levantou e desceu na próxima estação, apenas virando para dar tchau e sumindo completamente da minha vista.

You can't wake up Onde histórias criam vida. Descubra agora