Estava novamente em sua sala, deitada, entediada. Queria poder sair e fazer algo, mas nada lhe era permitido. Ela era uma pequena criança, que só desejava poder caminhar na rua e tomar um sorvete. Mas não era permitido, seu pai não permitia.
Ela sabia que era errado, e como era errado. Mas estava na rua, estava vendo o sol, sorrindo com isso. Nunca pode sentir isso, o ar puro sem ser por sua janela. Mas nem tudo no mundo lá fora era bom, como o homem que encontrou. Ele lhe ofereceu sorvete, ela sempre quis sorvete.
Medo. Foi o que o outro lhe deu, ele havia a tocado, tocado do jeito que ela não queria. Ela apenas chorava, no canto do beco escuro. Queria seu pai, suas roupas, estava frio. Mas elas estavam rasgadas, não podia as usar. Ela pedia ajuda, mas ninguém podia ouvir sua voz. Era quase inexistente.
Uma mulher, ela lhe salvou, a menina não viu nada. Apenas quando acordou numa cama quentinha e com roupas grandes. A mulher era gentil, mas a menina não queria seus abraços, não queria seus toques. Ela temia qualquer mão que pudesse se aproximar de sua pele.
Ela não pode voltar para o pai, segundo a moça que começou a cuidar de si, ele tinha ido ao céu. Mas ela nunca entendeu de verdade. Ela queria saber, porque o papai tinha ido ao céu? Porque a deixou lá sozinha, com as pessoas querendo lhe tocar?
10 anos mais tarde.
A menina tinha crescido, ela estava estudando, conversava um pouco melhor. Mas ainda não podia ser tocada, ela não deixava ninguém se aproximar demais. Se a tocassem, ela chorava muito desesperada, só era acalmada pela moça que a criou, mas ainda sem poder a abraçar.
Fazia tempo que não sentia um abraço quentinho, qualquer tipo de contato lhe causava medo e pavor. Mas as pessoas usavam disso contra ela, sempre ousando lhe tocar, a fazendo chorar e rindo de sua cara. Até o sua super heroína aparecer.
Ela amava sua super heroína, ela ajudava, a protegia do toque dos outros. E mesmo que não pudesse a tocar, ela estava sempre sorrindo a ela. Mas ela ainda era meio triste, afinal, ela não podia a beijar. Não podia a tocar ou abraçar. Mesmo sendo sua heroína, ela ainda lhe dava medo.
- Está tudo bem?
A menina encarou o rosto a sua frente, a um boa distância pra si. Não queria que soubesse que estava meia distraída, pesando no seu medo, que a fazia se odiar. As vezes sentia falta de um abraço, mas só pensar em ter um, ela tremia. Talvez jamais pudesse ter algo legal, algo como queria ter.
- Sim, só estava meio distante.
- Você quase sempre está distante.
A menina riu, sabia que era verdade. Estavam passeando, tomando sorvete. Ela não sentia tanto medo das ruas com sua heroína consigo, mas sabia que ainda era perigoso. E por alguma razão, ela sentia que algo iria acontecer.
O erro, foi entrar dentro daquele loja, que em poucos minutos estava sendo assaltada. Ela querida proteção, mas não tinha. Apenas estava abaixada e sua heroína a sua frente. Ela chorava baixo, querendo sair de lá, fugir dos homens maus.
E quando pensou que poderia ir, sua heroína estava sendo levada. Eles queriam tocar sua heroína e ela não deixaria. Não queria isso, mas não sabia o que fazer. Não conseguia bater em ninguém, apenas chorar.
- Pa...pare! - respirava com dificuldade, querendo acabar com aquilo, livrar sua heroína - Me leve... Me leve com vocês no lugar dela...
No fim, ela viu a outra ser deixada ao chão, sorrindo com isso. Sempre teve um corpo bom, segundo sua mãe. Por isso, ela poderia servir mais a eles. Também por ser submissa. Ela foi tocada novamente, levada e tocada. Abandonada em um galpão, chorando, mas feliz, por salvar sua heroína dessa vez.
Ela não foi achada pela moça novamente, agora foram homens com uniformes, estranhos. Eles tentavam a tocar, mas ela gritava. Sua sorte era saber o número da moça que cuidava de si, eles chamaram ela. E a menina esteve tão feliz, tão feliz que talvez pudesse abraçar as mesmas. Mas tudo que ela conseguiu, foi chegar um pouco mais perto da menina chorando, a acalmando.
A menina passou a ter amigos que sempre usavam branco, eles eram legais, conversavam com ela e a faziam rir. Eles tentavam a fazer tocar, mas ela ainda não conseguia, apenas continuava indo ver eles, pois sua mamãe dizia que era bom.
Ela ainda tinha seus passeios de novo, junta de sua heroína. Agora, elas tomavam bem mais cuidado, a sua heroína levava algo para as proteger sempre. A menina gostava disso, que poder sair junto da outra de novo, mesmo temendo ir a loja.
- Gostou da vista?
Novamente foi tirada de seus devaneios, olhando a moça ao seu lado sorrindo. Ela via como a outra ficava bonita com o pôr do sol, de fato uma visão que ela tinha gostado. Apenas sorria, estava feliz de verdade de estar ao seu lado.
- É muito bonita.
Logo o rosto da heroína estava virado para frente, fazendo a menina encarar suas mãos. Sempre quis saber, como era sentir suas mãos, pensava que seriam protetoras como a outra era. Deveria parar de pensar nisso, só a fazia triste.
Mas por um momento, ela teve coragem, segurou sua mão fechando os olhos com força, sabia que talvez pudesse lhe causar medo e uma crise, mas queria tentar. Sentiu a outra virar a si, abrindo os olhos devagar sorrindo.
- É macia.
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Touch
ChickLitO toque era proibido, apesar de seu amor... Ela não podia ser tocada.