Como tudo começou

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Deitado em meu quarto, ainda estava tentando entender como isso poderia ter acontecido. Como eu, Arthur Henrique, o cara mais popular da escola, estava sentindo tanta atração por ele? Não fazia sentido. Eu nunca tinha me apaixonado por ninguém, mas todas as minhas namoradas sempre foram meninas populares e bonitas. Eu não era gay, tinha certeza que não. Por que isso estava acontecendo?
Interrompo meus pensamentos ao perceber que meu despertador começou a tocar, supostamente para me acordar. Tinha passado a noite pensando, e não ficara nem um pouco menos confuso. Desliguei meu despertador e rapidamente segui para o banheiro, onde tomei um banho quente. Ao sair do chuveiro, penteei meus curtos cabelos loiro-escuros e me encarei no espelho. O que meus amigos pensariam? O que a escola pensaria se soubesse de algo?
Ainda me olhando no espelho, meus pensamentos me levam de volta para os momentos do dia anterior.
Estava sentado, terminando de copiar o dever de química do caderno de minha melhor amiga, quando ele entrou na sala, usando uma touca que imediatamente senti vontade de zoar. Era verde-musgo e tinha palavras escritas em japonês. Dá para ser mais vergonhoso que isso? A resposta é sim, já que por cima do uniforme, ele usava um casaco que devia ser cinco tamanhos maior que ele, e com uma imagem de algum anime impopular. Seu cabelo castanho estava mal-penteado e sua magreza nunca deixava de me impressionar. Mas, antes de falar qualquer coisa, reparei em algo que nunca tinha reparado antes. Ele tinha os olhos mais azuis que eu já tinha visto. Paulo caminhou até minha cadeira, me olhando fixamente.
- Quer tirar uma foto? Assim dura mais tempo, seu boiola. - falei, com ódio na voz, apesar de estar muito nervoso. Ninguém nunca tinha me encarado dessa maneira.
- Desculpa. - disse ele, envergonhado. Me senti imediatamente mal e gesticulei para a carteira à minha esquerda.
Ele sentou ao meu lado, me observando enquanto eu escrevia as últimas linhas do dever. Ao terminar, conferi o relógio e percebi que ainda faltavam vinte minutos para a aula começar. Então, levantei a cabeça e vi Paulo desviar o olhar muito rapidamente. Ele estava me encarando esse tempo todo? E porque me senti tão bem ao saber disso?
- Está tudo bem? - pergunto, com medo da resposta.
- Seus olhos... são muito bonitos. - ele respondeu, corando fortemente através das bochechas pálidas.
Não sabia o que responder, e não pude evitar que um pequeno sorriso se formasse em meu rosto. Sem falar nada, e sem pensar, aproximei meu rosto do dele. Ele mordeu os lábios, e ficamos em silêncio pelo que pareceu uma eternidade. Então, o sinal tocou e separei nossos rostos rapidamente, tentando entender o que havia acontecido, o que eu estava sentindo, e por que meu coração batia tão rapidamente. Os alunos entraram na sala, conversando e sem perceber nada do que estava acontecendo, e Paulo se recolheu para os fundos da sala, rapidamente.
Ao voltar ao tempo presente, decido que não me sinto bem o suficiente para ir à escola hoje. Volto para a cama, chamando minha mãe, que me deixa faltar, já que estava sentindo uma dor de cabeça forte.
Qual seria sua reação se ela soubesse que Paulo Ferreira, ou melhor, seus lábios,
estavam causando essa dor de cabeça?

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