MAIS UMA VEZ, ME ENGANEI

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27/04/2021, Torre World Center, 16:31, subsolo.

A viagem de uber durou pouco mais de dez minutos, mas tanto pra Luiza, quanto pra Valentina, pareceram horas dentro daquele carro. Nem o motorista, que a todo momento tentava puxar assunto, conseguiu deixar a situação mais confortável.

O jovem rapaz deixou as mulheres na entrada da garagem, a pedido de Valentina, que não gostava de transitar pelo hall e chamar a atenção das pessoas que trabalhavam e transitavam naquele prédio.

As duas andaram lado a lado em direção ao elevador. A advogada se apressou em apertar o botão, enquanto a publicitária fixou seu olhar no visor que indicava em que andar a caixa metálica se encontrava.

— Você tá de carro? - a publicitária rompeu o silêncio. O olhar continuava fixo no visor a sua frente.

— Não. - Luiza se limitou a responder.

— Quer uma carona? - Valentina perguntou. Não havia intenção alguma em sua voz.

— Então vai ser assim? - a advogada questionou, com um claro desconforto em sua fala. A morena também olhava em direção a caixa metálica.

— Assim como?

— Sério, Valentina? - Luiza parecia incrédula com a atitude da mulher de olhos verdes — Você vai mesmo fazer isso? Você vai fingir que não aconteceu nada hoje? - ela virou o rosto e seu olhar agora estava fixo na mulher ao seu lado.

— Eu não preciso fingir. Não aconteceu nada hoje, Luiza. - Valen disse, e apesar do seu tom de voz calmo, a outra mulher a conhecia o suficiente pra reconhecer o resquício de ansiedade no seu tom de voz.

— Tem razão, não aconteceu nada, absolutamente nada. Sou eu que devo tá ficando maluca. - o tom debochado da morena incomodou a publicitária, que virou o rosto pra olhá-la — Aliás, eu tô completamente equivocada, completamente fora de mim, certa tá você, como sempre. Então, parabéns, Valentina Albuquerque.

— Vai agir assim?

— Assim como? - a advogada imitou a resposta que a outra mulher havia dado antes.

Antes que Valentina pudesse responder, o elevador parou e abriu as portas. A mulher se apressou a entrar e foi seguida pela outra.

— Falando desse jeito debochado. - Valen disse assim que a caixa metálica fechou e começou a subir.

— Esqueci que só você pode ser debochada. - Luiza riu, mas não havia humor no seu tom de voz. — Até porquê, você é a única que sempre pôde fazer tudo na nossa relação.

— Cê só pode tá de sacanagem, Luiza. - dessa vez, quem riu sem humor foi Valentina.

— Porque? Eu por acaso tô mentindo? - o semblante da advogada era sério. Parecia até que ela estava defendendo uma de suas causas trabalhistas.

— Quer saber? Pense o que quiser. - a publicitária deu de ombros e encostou as costas no espelho do elevador — Eu não vou discutir com você.

A gargalhada de Luiza ecoou pelo espaço e adentrou nos ouvidos da outra mulher — Isso, foge. Foge do assunto, Valentina. É a sua especialidade.

— Logo você falando sobre fugir? - foi a vez da publicitária gargalhar. — Você não tem moral nenhuma pra falar de mim, Luiza. Se enxerga.

— Se enxerga você, estúpida. - Luiza devolveu a ofensa.

As duas mulheres se olharam. As expressões em seus rostos era um misto de raiva, tensão e palavras por dizer. O clima que havia se instalado entre as duas era derivado de cicatrizes causadas por anos de silêncio.

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⏰ Última atualização: Oct 11, 2023 ⏰

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