Eu não me incomodava com a fumaça, mesmo assim, sempre recusava o convite de um trago.
Enquanto estávamos juntos, sempre me perguntei o motivo de ele abandonar os cigarros pela metade.
"Gosto até certo ponto, depois me enjoo, e apago".
Na manhã seguinte ao dia que ele foi embora, acordei sozinho na cama.
Na mesinha, estava a carteira, e um cigarro pela metade, onde já havia corrido por sua meia parte, uma chama.
Quando a saudade me abraçou, puxei um cigarro da carteira.
Ventava na varanda.
Arrepiei-me.Acendi o isqueiro,
E com a outra mão, protegi o fogo, com a mesma urgência que protegia meu amor por ele.
Um carinho, na preocupação de manter a pequena luz acesa.O primeiro trago me confundiu, não foi por mim compreendido.
O segundo, me apertou a garganta, e eu quase chorei.
No terceiro, vi um sorriso se formar no canto da minha boca, pois finalmente havia percebido.Era eu o último cigarro que ele deixou pela metade.
Fumei inteiro, e percebi o que acontecia.
Ele, que era experiente, não conseguia amar até o fim.Enquanto eu
Conseguia.
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AMOR: fogo, fumaça, cinza e brasa.
PoetryEscrevi essas linhas sobre alguém do passado, que ainda amo no presente. O mesmo que me inspirou a escrever Sinestesia e Abstinência. É, de certa forma, um piloto, pra saber como os leitores recebem a esses textos mais curtinhos. Não sei se é românt...