Uma criança indefesa e assustada, escondida no armário de seu quarto, em silêncio.
Tinha três anos de idade quando vi minha mãe ser assassinada.
Cenas que marcaram a minha vida de uma forma tão profunda que eu apenas escutava o silêncio das dores da minha alma.
Vi o brilho de seus olhos se apegarem, pessoas me retirando da poça de sangue que se formou ao seu redor e então vi crianças tão perdidas quanto eu, era um orfanato.
15 anos depois.
Me encontrava encostado na parede daquele maldito orfanato, olhando para o chão, com as mãos nos bolsos, no vazio do meu ser eu pensava todos os dias da minha vida quem eu era. Eu não sabia nada sobre meu passado, da onde vim.
Suspirei tirando do bolso um maço de cigarros e o isqueiro, ascendi enquanto colocava na boca e então comecei a tragar com tanta intensidade, a ilusão de que o cigarro preencheria o vazio que eu tinha não funcionava.
Eu continuava me sentindo um nada, dentro de mim tinha algo que eu não sabia o que era, mas aquilo afastava as pessoas de perto. Eu não conseguia sentir amor, tristeza ou qualquer coisa do tipo.
Eu apenas sentia um vazio imenso junto de uma raiva que eu não sabia da onde vinha, sempre fui um garoto quieto, nunca tive amigos nem no orfanato, nem na escola.
As crianças me olhavam com ar curioso, sofri bullying até um certo tempo.
Quando tinha doze anos, cansado das implicâncias dos garotos contra mim, em uma das nossas brigas eu pulei em cima dele e arranquei um pedacinho de sua orelha com o dente.
A Naoko diretora do orfanato ficou com ódio de mim, desde então fui suspenso da escola e acabei mudando da mesma anos mais tarde.
Nunca soube como vim parar aqui, sempre que perguntava para Naoko ela mudava de assunto, ou me deixava falando sozinho. Ela sempre me tratava com indiferença das outras crianças, com elas era tudo um amor, mas comigo não.
- Kyungsoo, já falei que não pode fumar aqui dentro por causa das crianças!! ~ ela dizia com uma régua na mão da qual usava para me bater de vez em quando.
A senhora baixinha de cabelos negros me olhava com o cenho franzido, ela conseguia ser mais baixa do que eu.
Não disse nada, só olhava pra cara dela ainda tragando o cigarro e soltando a fumaça pelo nariz como se o que ela dissesse não fizesse diferença pra mim e realmente não fazia.
Naoko imediatamente pegou o cigarro de minha boca e jogou no chão logo em seguida pisando no mesmo com seus sapatos pretos. Ela usava meia calça preta, sua saia chegava abaixo do joelho. Era de uma cor azul marinho, ela também usava um blazer da mesma cor com botões brancos e por dentro uma blusa branca, seu cabelo estava em um coque frouxo.
- Graças a Deus você já tem dezoito anos, pode ir embora daqui!, Arruma suas coisas e vá embora!. ~ ela ia saindo mas logo parou e se virou novamente para me olhar por alguns segundos.
Seu olhar era um amor maternal cheio de tristeza por eu agir daquela forma com ela. Naoko foi a única imagem de mãe que tinha em minha memória, mas algo me impedia de amá-la como uma, algo me impedia de ser doce com ela ou com qualquer pessoa, mas aquilo não significava que eu não fosse grato por ela me criar, eu apenas não sentia que aquele lugar era o meu destino, ser adotado um dia. Eu queria apenas viver minha vida, do meu jeito.
- Obrigado, Naoko.. ~ foi tudo o que eu disse a ela que sorrio com os olhos marejando, antes de sair e deixá-la para trás.
Passei pelo corredor onde haviam várias portas dos quartos das crianças, eu era o único mais velho entre elas.
Uma garotinha passou por mim correndo de uma outra garotinha, fiquei olhando por uns minutos pensando em como fui uma criança sem diversão alguma. Eu nunca sorria, pra mim não existia motivos.
Cheguei até o final do corredor onde ficava a porta do meu quarto, girei a maçaneta e entrei fechando a porta assim que passei por ela.
Encostei na porta e pensava para onde iria, não fazia ideia de quem era meu pai ou qualquer pessoa da minha família. Teria que arrumar um emprego e me virar.
Passei as mãos no rosto e fui até o armário começando a arrumar minhas coisas, finalmente ia embora desse inferno.
****
Depois de ter arrumado minhas coisas, com uma mochila nas costas cheguei até a sala encontrando algumas das crianças e Naoko conversando com um homem. Ela olhou para mim com o olhar triste e eu apenas fui saindo dali sem dizer tchau, só queria me ver livre e procurar respostas sobre minha vida. Estava disposto a descobrir quem era Do Kyungsoo e não ia parar até achar as respostas.
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Manchas Vermelhas
RandomApós quinze anos vivendo em uma vastidão de perguntas sem respostas sobre seu passado, Kyungsoo foi liberado do orfanato em busca de algo que pudesse calar as vozes que prendia seu coração em uma escuridão. Ele encontra em uma pessoa a possibilidade...