Estava coçando minha xereca, que implorava por um banho, quando a piranha da minha prima, Jaqueline, entrou no meu quarto fazendo um escândalo, como sempre.
"Brenda, mulher, você não sabe o que tá rolando lá fora!", gritou, empolgada.
"Ah, eu sei. É mais um paredão daquele cuzão do Rodrigo, aquela desgraça que fica me queixando", respondi, com desdém.
"Ih, garota, é por isso que acham você é sapatona!"
Fiquei com vontade de esganar aquela puta quando ela disse isso. Não achava que eu fosse lésbica, mas compreendia os homens em relação aos prazeres do corpo feminino.
"Se ser hétero é ficar com quem eu não quero só por ficar, prefiro realmente ser sapatona. Eu não vou, e pronto"
"Poxa, prima, mas vai por mim! Fernando vai tá lá!", ela me olhou com olhar de cachorrinho abandonado com lepra.
"Certo. Eu vou. Mas não me deixe sozinha naquele antro de doenças venéreas"
Ela bateu palminhas em comemoração.
Nem tomei banho, afinal, quem se limpa pra entrar no esgoto?
Então, descemos as escadas e fomos para o paredão do babaca.Não demorou nem cinco minutos pra aquela cachorra me deixar sozinha respirando ar contaminado com AIDS pra ir dar uns pegas em Fernando no beco.
Me encostei no carro, apesar de a música de cu em volume de e fiquei só observando gente inútil fazendo coisas inúteis. Foi aí quando o mais inútil de todos os inúteis surgiu com um cooler cheio Skol Beats verde. Pessoas de merda, bebida de merda. Só podia.
Quando ele me viu, fez uma cara de susto, deixou o cooler no chão e foi correndo até o grupo de traficantes e cafetões que ele chama de amigos.
Obviamente, estavam falando de mim, afinal, as olhadas deles eram tão discretas como se eu estivesse com a tcheca na rua.
Depois de um tempo, ele veio em minha direção, espichando tanto a postura que parecia que tava com uma piroca enfiada no rabo.
Ele olhou na minha cara por alguns segundos, aí suspirou e disse:
"E aí, finalmente vai me dar uma chance? Sabia que não ia resistir ao meu charme"
"Não, obrigada. Prefiro escorregar num tobogã de gilettes e depois cair numa piscina de álcool do que ficar com você"
"Olha aqui, se veio pro meu paredão pra ser cu doce, era melhor nem ter vindo", ele começou a gritar, chamando a atenção de todos.
"Na verdade, nem queria tá aqui, mas se você faz questão, pode deixar que desse caralho eu saio é agora", gritei, mais alto ainda.
Se ele sabia ser barraqueiro, eu também sabia.
Chutei o cooler de Skol Beats só por drama, o que não foi boa ideia, porque fez meu pé doer pra porra.
Assim, simplesmente subi a rua em direção a minha casa sem olhar pra trás.