Um euro.

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Faltam quatro minutos para a chegada do autocarro. Já estou sentada na paragem faz quinze.
As minhas sensações estão ligeiramente sobrecarregadas, mas, sinceramente, prefiro tê-las nesse estado do que aturar os meus pensamentos. Foi um mau dia hoje... aconteceram coisas que me deixaram exausta emocionalmente.
Brinco com a moeda que tinha na mão. Um euro, suficiente para a viagem, coçando a sua superfície com o polegar enquanto o meu olhar desfocado observa a estrada. Já passaram quatro carrinhas brancas nos últimos minutos. Não sei porque as contei, mas suponho que tudo é mais interessante quando se tenta evitar um assunto qualquer.
A mulher adulta que se sentou ao meu lado está a almoçar e o cheiro forte da bifana que tem entre o pão está a incomodar-me. Seria de esperar que em pleno século XXI as pessoas tivessem a decência de não comer numa paragem de autocarro mas, enfim, não o têm.
Outra carrinha, esta é cinzenta.
O cantar de um galo. Tinha-me esquecido que há um pequeno quintal com galos, nesta zona. Costumavam acordar-me às seis da manhã quando, há menos de um mês, eu morava num prédio não muito distante da paragem.
Um homem e uma mulher, vestidos de forma profissional, passaram à nossa frente.
Rodei a moeda nos dedos e engoli em seco. Tirei da mochila roxa duas garrafas de água. Uma delas, vazia, foi rapidamente colocada no lixo. A que restava foi aberta e bebi da mesma enquanto me voltava a sentar. Acariciei a moeda de novo. Uma mota passou, vibrando todos nós, passageiros silenciosos, que esperamos o autocarro.
Uma pequena aragem de vento, que me livrou por segundos do calor que sentia com a minha parka preta sobre o colo.
Olhei a mulher ao meu lado. Um Ice Tea na mão, do qual bebida repetidamente.
Fora da paragem, quatro idosos, três homens, uma mulher. Um homem adulto de casaco de cabedal e óculos espelhados.
Olhei o chão, as minhas sapatilhas e de novo a estrada.
Um bufar mecânico e o transporte verde e branco surge à nossa frente. Idosos primeiro, o homem adulto com óculos espelhados de seguida, depois eu. A mulher que almoçava não entrou.
O condutor, velho, também, olhou-me. Tomou-me a moeda da mão e deu-me um bilhete para o local onde ia. Antes de me sentar, fui ligeiramente projetada pelo autocarro que arrancou. Não caí (sorte).
Sentei-me, a minha mão direita na barra superior onde o botão vermelho de Stop esperava pelo meu toque.
A paragem afastava-se lentamente.
Cheirava estranhamente a azeite.
Outra paragem, uma rapariga subiu.
Outra paragem, eu desci.
Passei a estrada (na passadeira, claro) e desci a rua. Não tinha estímulos.
Perdera os meus auriculares no dia anterior. Nada de música, nada de conversas, nada de nada.
Nem sequer uma moeda de um euro.
Só o alcatrão da estrada e os meus pés.
Subi uma rua adjacente. Passaram por mim dois carros.
Os meus pensamentos voltavam. As lágrimas enchiam-me os olhos castanhos. Um suspiro. Passei a manga da camisola pelo rosto.
Não choraria no meio da rua.
Mais um carro, a alta velocidade.
Um cão a ladrar.
Escadas.
Abri a pesada porta do prédio. Escadas. Escadas. Dois lances delas.
Lágrimas nos olhos, de novo. Forcei um sorriso.
- Olá avô.
- Já chegaste? Já almoçaste?
- Já, hoje saí cedo.
Pousei as chaves.
Percorri o corredor frio.
Entrei no quarto quente.
Porta fechada.
Porta trancada.
Mochila num canto, sapatilhas noutro, a parka no chão.
Deitei-me na cama.
Chorei em paz.

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