E, aqui estou eu... deitada na minha cama, triste, de novo. Detesto experienciar esta tristeza. É horrivelmente doentia e leva-me, repetidamente, a recaídas emocionais que duram horas ou até dias.
Passei um mês de paz e sossego (finalmente, após quase dois anos) e quase que me esqueci o quanto esta dor pode ocupar a minha mente de forma tão forte, bruta e intensa - às vezes até parece que estou a experienciar mais tristeza do que nunca - e me deixa entorpecida, desesperada, vazia.
Ontem à noite, agarrei no telemóvel e abri o Twitter, apenas porque não havia mais nada a fazer. Passeava preguiçosamente pela timeline, favoritando algumas fotos, retweetando algumas frases e parei. Parei num tweet que me chamou à atenção e que me fez sair, quase de imediato, do "transe" em que me encontrava - era de um amigo chegado. Esse rapaz havia citado um tweet de uma qualquer miúda que eu nem sequer conheço e pareciam estar extremamente chegados. Sei que parece desesperado, louco ou ridículo da minha parte mas não me agradou, logo, confrontei-o. "Nós temos algo", respondeu-me.
Nós temos algo.
Há quanto tempo tinham eles algo? Porque raio não me disse ele que estava interessado em alguém?
Senti-me traída, como não sentia há muito tempo. Não são ciúmes, não é desespero... É traição pura por parte daquele individuo que eu considero ser meu amigo.
Tentei abstrair-me daquilo e aconcheguei-me na cama, pronta para dormir, finalmente.
Ele ligou-me.
Falámos durante quase 3 horas.
Não tocámos uma única vez mais naquele assunto e eu continuava a sentir-me traída, por sua causa. Mas, o que iria fazer? Não me queixaria ou ele acharia que estou interessada nele e isso não é verdade.
Dormi, por fim, à 01 hora e 45 minutos da madrugada.
O dia de hoje chegou.
Fui acordada pela minha mãe, quase a mandei para um sítio não agradável - dormira pouco, e mal, o que levara os meus sentidos a encontrarem-se totalmente sobrecarregados - e sentia que iria perder a cabeça com a luz, os sons e os cheiros que ocupavam o meu apartamento. É Páscoa, Cristo renasceu e, com ele, claramente renasceram as malditas enxaquecas que me martelavam a cabeça.
Eu, simplesmente, acordei sem paciência para nada nem ninguém mas tinha de ajudar a minha progenitora com as preparações para a refeição.
Coloquei a toalha, os talheres, os pratos, os copos, os guardanapos. Sentia que ia cair com cada passo.
Fatiei a broa de milho e fiz a salada, sem levantar a cabeça uma única vez. Quando a levantei, até me senti tonta.
A minha mãe ordenou que me sentasse porque, claramente, "não estava bem". Respondi-lhe torto, algo que me garantiu ouvi-la gritar comigo sobre como "Ela não me educou desta forma" mas, eu simplesmente retirei-lhe a faca que entretanto me roubara e comecei a preparar as entradas.
Não tinha paciência para discutir com ela.
Enchi a tigela de água do meu animal de estimação.
Enchi os copos com as bebidas.
Sentei-me, finalmente, e, enfim, comemos.
Quando começava a arrumar a louça e a colocá-la no lava-louças, ouço a sua voz "Não vais sair com o teu pai?".
Não. Eu não vou sair com o meu pai. Nós saíramos no dia anterior porque eu queria passar a Páscoa com ela e o meu avô.
"É que eu vou sair e não queria que ficasses aqui sozinha."
E, de novo, respondi-lhe torto.
"Pronto, eu fico. Mas se é para estares toda a tarde no telemóvel, mais vale ires para o teu quarto."
Fartei-me de imediato. Ela que faça como ela queira, eu não quero saber. É dia de Páscoa, mas se ela prefere ir dar um passeio e gastar as minhas poupanças para universidade, em vez de estar com a família dela, ela que o vá fazer.
Fechei-me no quarto, algo constante quando estou triste.
Conversei com o meu amigo, sobre ontem. Nem toquei nesta situação da minha progenitora, não vale a pena. Perguntei-lhe sobre a "tal miúda" e, segundos depois, na etiquetas das mensagens, no meu Twitter, estava um chat de grupo entre ele, eu e a miúda - com quem ele tem "algo". Experimentei conversar um pouco.
Rapidamente a conversa entre eles progrediu para lamechices e coisas "pirosas" que detesto. Brinquei um pouco com eles sobre isso, vendo-os rir.
Uma mensagem privada, para ele.
Será que já lhe contou de nós, no passado?
"Não e ela nem deve saber. Ficaria com ciúmes".
Tive de me levantar da cama e caminhar em volta do quarto.
Sinto-me tão emocional.
Não gosto de ver aquele maldito grupo, aquelas mensagens amorosas, aqueles tweets fodidos em que se gabam da sua "relação".
Abri as definições do grupo.
Sair da conversa.
Chega..
.
.
"Porque saíste?"
Perguntam depois de me adicionarem de novo à conversa.
Definições.
Sair da conversa.
"Não saias, senão levas"
Disse ela, ainda achando que isto é uma brincadeira.
Eu não sairia, se não tivesse motivos.
Definições.
Sair da conversa.
Os meus motivos são válidos. Eu não estou bem e não gosto desta situação e não quero falar com eles.
"Vai falar com ela"
Ordenou (ou pediu? Não sei dizer) ele numa mensagem privada.
Não irei.
"Foda-se, vais falar com ela, sim!"
Ele não é capaz de me obrigar. Não o irei fazer.
"Estás irritada?"
Perguntou ele, de novo.
Não. Muito pelo contrário. Sinto-me tão vazia de emoções, neste momento. Só tenho lágrimas.
Lágrimas.
Lágrimas.
"Porque estás a agir assim? Porque não queres falar?"
"Porque estás assim comigo? Tens ciúmes?"
"Fala comigo! Peço-te!"
Não.
Lágrimas.
Não me apetece, logo, não irei.
"Diz-me algo."
Ele desesperou.
"Confia em mim, estávamos tão bem hoje de manhã..."
Não quero falar.
"Porque não?"
Só me quero afastar de todos.
Lágrimas.
Soluços.
Lágrimas.
Tantas lágrimas que a última mensagem dele parecia desfocada.
"Adoro-te..."
Desliguei o wi-fi e o telemóvel.
Porque é que eu não consigo parar? Eu quero parar de chorar. Quero deixar de sentir esta dor.
Eu estou a magoar todos à minha volta.
Até a minha mãe. A minha madrinha contou-me que a minha progenitora se sente posta de parte por minha causa, porque "já não lhe conto nada".
O que teria eu para lhe contar? Que, muito provavelmente, preciso de ir a um psicólogo porque não sei lidar com os meus sentimentos e emoções? Como é que se iria iniciar uma conversa dessas?
- Olha, mãe, eu acho que estou profundamente doente mentalmente por causa dos últimos 4 anos da minha vida, em que tu e o pai estiveram em processos de divórcio por causa da tua depressão, podemos ir a um psicólogo?
Como se iria sentir ela por saber que a filha preciosa dela, eu, estou tão quebrada como ela?
Não.
Eu não quero isso.
Não a irei magoar mais. Já chegam os erros que cometo diariamente. Ela não precisa de mais desilusões na vida dela.
Está decidido. Irei simplesmente sentar-me aqui e acalmar-me e, quando ela voltar, estará tudo bem. Certo?
Certo?.
.
.
Encostei as minhas costas à parede gelada.
Respirei.
Já se passou quase uma hora.
Iniciei o telemóvel.
Coloquei o PIN.
Liguei o wi-fi.
Não há uma única notificação de mensagem dele.
Abri o Twitter.
"Podemos falar?"
Perguntou ela no chat privado que os seguidores têm.
Respirei fundo.
Não, não podemos.
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RandomIsto não é um livro. Muito menos um diário. Sinceramente, não sei o que isto é. Só quero ver se escrever aqui me liberta da tristeza que sinto. - 22/02/2018