Capítulo I

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"Um livro? Contando tudo o que aconteceu naquele ano? TUDO?Não sei se essa ideia me agrada, mas pensando bem... Acho que pode ser um bom jeito de ver toda história através dos olhos dela."


EU SEMPRE DESEJEI VER A NEVE.

Isso mesmo: neve. Não, eu não estou drogada, também não tenho nenhum tipo de demência e óbvio, eu moro no Brasil.

Cara, eu sou carioca.

Muito provavelmente você já ouviu falar na minha cidade.

Linda? Com certeza.

Encantadora? Sem dúvida.

Mas quente, como o Rio é quente.

No inverno, raras vezes faz menos de 16 graus e, quando faz, todo mundo sai colocando casaco e pegando gripe. O outono é tranquilo, com mais dias frescos que qualquer outra coisa, mas na primavera a cidade já parece verão.

Há dias consecutivos que o calor beira os 40 graus.

Você deve estar se perguntando: mas e a praia? As montanhas? As mil coisas que se tem para fazer por lá? Bem, por 17 anos eu morei na Baixada Fluminense. Isso quer dizer na parte menos privilegiada da cidade. Para chegar à praia leva-se no mínimo duas horas, saindo e entrando de ônibus.

Uma verdadeira viagem.

Ah, claro. Lá nós também temos cachoeiras que ficam relativamente perto, mas as estradas não são nada boas. O que significa 40 minutos em um ônibus precário chacoalhando pela estrada de barro.

E tem o fator pobreza.

Não, eu não sou nenhuma metida à rica, só sou reservada. Simplesmente nasci no lugar errado, ok?

Mas se você fosse até a pequena trilha de água da cachoeira e a visse ficar abarrotada de gente pulando, gritando, fazendo churrasco e levando cachorro, ia querer sair correndo...

Pois é, assumo que eu fui lá uma vez.

Era um dia muito quente. Nossos vizinhos recém-mudados queriam conhecer o lugar e acabei indo de carona. Vi tudo isso com meus próprios olhos e vou te contar uma coisa, de carro nós demoramos quase o mesmo tempo que de ônibus, por causa dos buracos pela estrada. Fora que o ar do carro não deu vazão.

Chegando lá, aquele formigueiro sem tamanho. Eu nem vi a cor da água, mas deu para perceber que a coisa estava feia. Além do amontoado de pessoas ao redor, por todo lado se viam coisas jogadas no chão. Eram latinhas, garrafas pets, embalagem de marmita de alumínio... Talvez, se eu fosse uma recicladora de lixo, poderia até enriquecer dando uma limpa naquela área. Em menos de 10 minutos todos nós entramos no carro e voltamos para casa.

Os meus vizinhos, eu acabei percebendo, também não eram muito fãs de pobreza. O carro da família era um modelo do ano e impecável, o terreno que compraram ao lado da nossa casa ficou em obra por um ano mais ou menos e hoje a casa deles é enorme, toda em estilo colonial. O seu Jorge e a dona Ana eram um casal jovem de quase 40 anos, que tem uma filhinha linda chamada Clarinha, que naquela época havia acabado de completar sete anos.

Mas vamos começar direito.

Você deve estar se perguntando quem sou eu...

Eu me chamo Raquel Duarte e em breve completarei 19 anos. Sou a filha única do seu Carlos Duarte e posso te garantir que não existe pai mais maravilhoso no mundo.

Minha mãe se chamava Ariel. Acho o nome lindo e por isso meu personagem infantil preferido sempre foi A Pequena Sereia, mesmo depois que aquele sabão em pó idiota surgiu. Deveria ser proibido pôr nome de gente em marca de produto...

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⏰ Last updated: Feb 24, 2018 ⏰

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Aqueça Meu CoraçãoWhere stories live. Discover now