A primeira conversa

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Sofia
O Matheus acabou me chamando para conversar, ele era bem tímido e um pouco lerdo, o que me irritava um pouco. Mas tirando isso, ele era bem legal. Ele me indicou várias séries e conversávamos sobre os assuntos mais aleatórios existentes. Ele me chamava por volta das 18:00 horas e conversávamos até o amanhecer, porque gostava de me mandar foto do nascer do sol.
Depois de uns dias conversando, eu sonhei com ele. Foi um sonho lindo, mas já que não haviamos nos visto, seu rosto estava meio abstrato. O sonho foi assim: Eu estava com meus amigos no shopping, e quando o vi, sai correndo em direção a ele, e nos abraçamos muito forte, tão forte que ele me fez flutuar colocando todo o meu peso sobre ele.
Mas foi nesse sonho que eu percebi o quanto estava gostando dele, e para mim, isso não poderia acontecer, até porque nunca tínhamos nos visto pessoalmente e eu não sabia se duraria só uma noite. Essa era minha pior dúvida.
- Ei, ainda 'tá' acordada? -Matheus mandou essa mensagem para mim às 6:47 da matina.
- Sim, estava vendo aquela série que me indicou. -respondi.
- Ah, desculpa atrapalhar, mas é que eu queria te mandar essa foto antes de dormir. Estou caindo de sono.
Quando abro a foto, era o nascer do sol, a única parte ruim de chegar esse horário é que parávamos de conversar e íamos dormir. Mas era lindo porque ele se lembrava de mim.
Tantas atitudes fofas me deixavam confusa, porque ele poderia estar me iludindo ou gostando de mim, e se fosse a primeira opção, estragaria tudo, porque eu já estava apegada.
Resolvi dormir e esfriar minha cabeça, sonhei com flores e gaivotas, foi lindo até as flores as devorarem.

No dia seguinte, uma linda tarde de terça-feira, Matheus resolve me mandar um texto:
Eu estou gostando muito de conversar com você, obrigada por ser tão legal comigo. Mesmo te conhecendo a pouco tempo, eu já te amo. Espero que nossa amizade seja muito duradoura.
O QUE?! ELE ME CHAMOU DE "AMIGA"? ELE SÓ PODE ESTAR BRINCANDO!
Ignorei totalmente seu "eu te amo" e mandei somente dois corações. Ele continuou conversando comigo como se nada tivesse acontecido, mas eu fui muito seca com ele.
Ele percebeu que eu estava seca, e foi perguntar para Caio o que havia acontecido comigo, e como eu já tinha dedurado para o mesmo, Matheus acabou ficando ciente da besteira que fez.
- Sofia, desculpa por ter te falado aquilo, quando me referi á amizade, estava querendo dizer alguma coisa sobre amigos coloridos, não sei. Sou péssimo em demonstrar o que sinto com palavras, mas saiba que eu gosto sim de você. -mandou Matheus.
- Tudo bem, eu te entendo. Também gosto muito de você. -respondi.
Foi nesse momento que senti que não iria ser só um beijo, sabia que no mínimo ele iria querer me ver mais vezes, nem que fosse sem compromisso. Mas eu continuava com pensamentos pessimistas, para caso desse certo, eu ficasse surpresa positivamente.
Depois do almoço, recebo uma mensagem no grupo das meninas:
- Gente, já está tudo certo para a festa, então tentem colocar o máximo de pessoas possível. -disse Rebecca.
Nós estávamos organizando uma festa  a fantasia no condomínio de Amanda, e já que o Matheus não me chamava para sair, resolvi o colocar no grupo da festa.
- Vi que você me adicionou no grupo. -ele mandou minutos depois.
- É, você vai poder ir? -perguntei.
- Não sei, acho que tenho uma festa de aniversário nesse dia.
- Ah, tudo bem então.
Eu fiquei muito mal, todas as expectativas que havia criado foram embora em segundos. Será que ele está com tanto controle assim sobre mim? Faz menos de um mês que começamos a conversar, é impossível uma pessoa se apegar tão rápido, certo?
Quando levei o bolo de Matheus, logo fui contar para as meninas. Não teve nenhum rancor entre mim e Amanda, ela nem estava tão interessada assim nele, e para falar a verdade, ela tinha muitos garotos para ficar, então ele não fez falta nenhuma a ela. Pelo menos era o que eu achava.
Já Amanda era o oposto de Rebecca, as duas tinham o mesmo perfil, mas o cabelo de Rebecca era maior, mais escuro e liso. Mas Rebecca nunca havia beijado, na verdade, ela dizia que ficou com um garoto quando estava na quinta série, mas não acreditávamos muito.

Estava com a vista meio embaçada pois tinha acabado de acordar, tive que chegar bem pertinho do relógio para ver que horas eram graças aos meus dois grau de miopia. Eram duas da tarde. Eu amava acordar tarde, porque queria dizer que fiquei conversando com Matheus de madrugada, e que vai demorar menos tempo para chegar seis horas. Merda, acho que estou começando a delirar.
Escutei o som de notificação em meu celular horrível e com a tela toda quebrada, era Matheus. Me peguei sorrindo no mesmo instante, não era voluntário, era como respirar ou piscar. Eu acho que o amor é isso: você sorrir involuntariamente simplesmente por amar incondicionalmente.
-Eu estava pensando, eu falei uma besteira muito grande naquele texto, eu vou fazer outro um pouco melhor.-ele disse.
-Obrigada por ter me perdoado, às vezes eu digo coisas que nem eu entendo, mas saiba que conversar com você melhora bastante o meu dia. Eu te amo.
Ele repetiu o "eu te amo" que havia falado no primeiro texto. Será que ele está tão obcecado por um "também te amo"?
-Também gosto muito de conversar com você. Entendo que você não saiba se expressar tão bem graças á sua timidez. Também te amo. -respondi mesmo sabendo que o que ele me disse foi da boca para fora ou falta de criatividade para o texto, até porque ninguém é capaz de amar em um mês, principalmente uma pessoa que nunca viu.
-Ah, já estaca esquecendo. O aniversário do meu amigo vai ser sexta, não sábado, então poderei ir à sua festa. -ele falou.
Quando percebi estava pulando que nem uma louca pela casa.
-Que bom, estou ansiosa para te ver. -falei tentando parecer o mais plena possível.
Como sempre, fui contar para as meninas e para Caio o que aconteceu. Conversar com eles já faziam parte da minha rotina, e aquelas três conversas no topo da minha tela quebrada faziam que todos os meus problemas pessoais sumissem por algumas horas, pelo menos na minha cabeça. Não gostava de me apegar muito, mas eu continuava sendo sempre a garotinha insegura do segundo ano que era louca por um porto seguro.
-Sofia, vai se arrumar. -gritou minha mãe da cozinha para que eu pudesse escutar do quarto.
Era o aniversário de um amigo dos meus pais que eu estava sendo obrigada a ir, e se tem uma coisa que eu odeio é ficar entediada.
Enquanto estava me maquiando, minha irmã mais nova abre a porta do meu quarto e fala:
-So, faz uma maquiagem em mim?
-Posso até fazer, mas somente com sombras claras e um batom.
-E blush!
-Sombra, batom e blush. Nada mais.
Fiz nela um olho rosa clarinho, e ela amou. Saiu espalhando pela casa que eu havia a maquiado e passou minutos fingindo que era modelo no espelho.
-Vamos logo, gente. Já são 19:26! -disse meu pai com um tom impaciente.
Fomos até o aniversário ao som de Beatles no carro, e cantei mais alto que minhas cordas aguentavam quando começou a tocar Yesterday.
Chegando lá foi tudo a mesma coisa:
"Ah, que menina linda!"
"Já deve ter namorado, né?"
"Beijar na boca só depois dos trinta, hein."
"Quer refrigerante?"
"Se um dia te magoarem, pode me ligar que eu me resolvo com ele."
Sempre me irritou essa história de homem para todo lado, eu não posso ser bonita e solteira? Outra coisa que também sempre me tirou do sério, é oferecerem só refrigerante, e o pior, não comprar nada além de refrigerante e cerveja! Eu odeio refrigerante! O que custa comprar um suco?
Já estava sem paciência de estar naquela festa, queria ir embora o mais rápido possível. Enquanto cutuco minha mãe falando que quero ir, meu celular acaba a bateria. Era só o que me faltava.
Uma hora depois meus pais tiveram a brilhante ideia de sair de lá. Melhor ideia que já tiveram.
Quando cheguei em casa coloquei meu celular para carregar e fui tomar um banho. Após o banho, conversei com Matheus e fui dormir depois do nascer do sol, como sempre.
Acordo duas horas da tarde. Converso com Matheus. Durmo seis da manhã.
Essa rotina se repetiu por dias, até que em um deles tive que ir com as meninas num bairro muito humilde e cheio de lojas baratas para comprar tudo para o grande dia. Eu, Amanda e Rebecca fomos juntas e encontramos Fernanda só depois em uma loja porque ela estava no ballet. A gente comprou tudo com o dinheiro dos ingressos e depois fomos para o condomínio de Rebecca para programar um pouco mais a festa. Todas nós fomos, menos Bruna, ela normalmente sentia preguiça.
-Eiii! -disse uma voz masculina.
Quando virei estava Leo, o garoto mais atraente existente. Sempre o achei muito lindo. Ele tinha uns olhos castanhos e cabelos castanhos claro, era bem baixo e magrelo para a idade, mas não sei como, ele tinha algo a mais que me fazia pirar. Ele estava junto de seus amigos. Victor também estava, mas eu nem liguei para ele.
-Nós estamos ocupadas, Leo. -disse Rebecca, que provavelmente tinha muita intimidade com ele, até porque moravam no mesmo condomínio desde sempre.
-Relaxa aí, Becca. A gente só veio ver o que estão fazendo.
-Organizando as pulseirasm -eu disse enquanto terminava de ajeitar uma delas.
-Só entra quem tiver ela, né?
-Sim.
-Bom saber. -ele disse com um sorriso malicioso. Automaticamente eu sabia que ele iria fazer alguma coisa, mas só conseguia pensar o quanto ele era bonito.
-Parem! -acordo da realidade com esse grito de Amanda. Os garotos estavam tentando roubar as pulseiras.
Eu, Amanda e Rebecca nos dividimos e por sorte conseguimos pegar todas. O Victor era o que mais estava rindo de nossa cara, e ele estava me irritando profundamente. Eu ficava me auto julgando na minha mente enquanto olhava para ele. Eu merecia coisa bem melhor. Ele era meio loiro, tinha olhos claros, boca muito grande e um pouco gordo, mas não era nem um pouco bonito.
Já era dia dez de dezembro e a festa era dia dezessete. Eu sentia borboletas no estômago quase saírem pela boca quando pensava nisso, e eu não sabia o porquê, era só um garoto como todos os outros! A gente vai ficar numa festa e pronto. A gente  só vai ficar numa festa, Sofia. A gente só vai ficar numa festa. Não crie expectativas.
Voltando para casa eu só conseguia pensar nele, eu já estava com nojo de mim de tanto grude. Eu estava parecendo aquelas princesinhas da Disney, já não me aguentava mais.
-Estou ansioso para te ver. Qual vai ser sua fantasia? -mandou Matheus enquanto estava pensando no mesmo.
-Não posso falar, desculpa. Mas eu e as meninas vamos iguais. -respondi.
-Eu não vou com nenhuma, até porque vocês disseram que quem não quisesse ir fantasiado não precisa, certo?
-Sim, mas iria ser engraçado te ver fantasiado.
-Concordo.
Eu sempre gostei muito de astrologia, e já estava querendo fazer essa pergunta há um tempo:
-Qual o seu signo?
-Escorpião. Mas não acredito muito nessas coisas. -ele respondeu.
-Não acredito! Escorpião é meu ascendente. Eu sou câncer.
Fiquei muito feliz por ele ser escorpiano, porque câncer e escorpião combinam.
-Eu nem sei o que é ascendente. -ele falou num tom de brincadeira por mais que não fosse.
-Eu quero saber qual é seu ascendente, sabe que horas você nasceu?
-Não.
-Então não dá para ver.
-Por que?
-Porque não, ué.
-Mas por que não?
-Porque é impossível, Matheus.
-Mas eu quero saber o motivo.
-Procura no Google.
Logo após esse diálogo lerdo, estranho e engraçado, nós rimos e ele me perguntou:
-Você terminou de ver aquela série?
-Não. Estou no terceiro capítulo ainda.
-Você não assiste nada.
-Mas só você indica as séries.
-Tudo bem então, me indique alguma série.
-Não vou te indicar uma série, irei te indicar um filme, o nome dele é Querido John.
-É de que?
-Romance.
-Odeio.
-Foda-se.
Ninguém nunca iria entender nossas conversas, mal nos entendiamos.
Depois de horas conversando, chegou o nasceu do sol e fomos dormir.

Depois de mais sete dias na mesma rotina, chegou o dia dezesste.
Eu acordei com a ansiedade mais forte que um lutador profissional. Eram meio-dia, um pouco mais cedo que o normal porque tive que ir ao shopping com a minha mãe comprar a roupa e o sapato para a festa. Nós íamos de anjas e eu só tinha a asa e a aureola.
-Sofia, eu vou comprar a roupa e o sapato, só! -disse minha mãe, como se nunca havia avisado isso antes.
-Tá, tá, tá. -respondi.
Chegando ao shopping escolhi uma blusa de alcinha branca bem levinha e um branco tão claro que chegava a ser quase transparente. Meu short era branco com umas linhas para fora.
Quando estava comprando o sapato, falei:
-Preciso de um sapato com salto.
-Por que? -questionou minha mãe.
-Nada não. -tentei disfarçar. Havia falado isso porque Matheus era bem mais alto que eu e sempre zoávamos isso.
-Me fala, Sofia.
-Ah, é só um garoto.
-Alto?
-Sim.
-Qual o nome dele?
-Ai, mãe. Vamos focar em achar o que eu quero?
Finalmente consegui achar o sapato: marrom com um salto grosso médio. Perfeito.
Eu havia comprado roupas muito simples, mas eu realmente não queria muita coisa.
Quando deu 15 horas sai do shopping já almoçada e fui buscar Fernanda em sua casa. Minha mãe nos deu carona até o condomínio de Amanda.
-Precisamos ir ao mercado comprar as coisas. -disse Amanda.
-Não vai dar tempo. -respondeu Fernanda.
-Então vamos fazer o seguinte: eu e Sofia ficamos aqui arrumando o salão enquanto vocês duas vão ao mercado comprar o que falta.
Acabamos concordando com a ideia. Quando Amanda e Fernanda chegaram colocamos tudo na cozinha e terminamos alguns detalhes da organização.
Quando chegou a hora de nos arrumarmos, também tivemos que nos separar em duplas, mas dessa vez foi porque eu e Amanda não estávamos dando certo juntas. Ela era muito mimada, e eu não consigo ficar calada. Qualquer coisa que uma de nós falava a outra contestava, não tinha condições de ficar assim até a hora da festa.
Quando estávamos praticamente prontas, nos juntamos novamente. Mas eu ainda estava muito nervosa e minhas emoções estavam a flor da pele. Para tentar me acalmar, fui finalizar minha maquiagem, porque isso foi sempre muito terapéutico para mim, mas acabou piorando. Eu estava tentando fazer cinquenta vezes o mesmo delineado e nenhuma delas dava certo, então comecei a chorar falando que Matheus não ia ficar comigo porque eu estava horrível.
-Para de drama e tira esse delineado porque você fica melhor sem. -disse Fernanda.
Concordei com ela e tirei, realmente eu ficava melhor. Às vezes a sinceridade dela ajudava bastante. Mas ficar bonita não tirava o medo que eu estava de Matheus me beijar e nunca mais falar comigo, assim como Victor. Eu não queria que ele só falasse comigo para me beijar na festa, sem me dar atenção. E também não queria que ele me esquecesse, pois eu estava gostando dele. Ai meu Deus, eu estou gostando dele.
A festa começou, as pessoas estavam chegando e eu delirava cada vez mais a cada cabeça que aparecia. Minha ansiedade estava tomando conta de mim e as borboletas no estômago estavam quase saindo pelo meu nariz.
Eu estava dançando quando de repente senti algo diferente, a ansiedade aumentou e eu falei mesmo não tendo visto nem escutado nada:
-Ele chegou.

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⏰ Última atualização: Feb 27, 2018 ⏰

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