Entre Sonhos e Rabiscos - desenhos, dicas e mini-blog!

A Escrava e a Fera - sobre romantização e o tão falado "politicamente correto"

Em primeiro lugar, preciso deixar claro que não li o livro. Na verdade, fui uma daquelas pessoas que "pegou o bonde andando" através de outros autores a favor e contra a autora de A Escrava e a Fera. Se não sabe do que estou falando, abra esses dois links e depois volte ao texto: 

https://www.buzzfeed.com/ramosaline/livro-escrava-fera-racismo?utm_term=.tcwqGEgKY#.owzwaJe9B 

http://www.dreamsandbooks.com/2018/02/li-e-digo-escrava-e-fera-e-uma-mancha-na-literatura-nacional.html     

Como eu sei que na internet, todo mundo aumenta um ponto, fui correr atrás da bendita polêmica e de quem de fato leu o livro, apontando onde havia conteúdo racista e problemático, além de analisar como a autora se posicionou. As coisas que constatei foram:

1) sim, o livro tem muitos problemas, o conteúdo caracteriza racismo e a autora não parece reconhece-los. Eu não sei a que ponto ela é inocente (porque infelizmente ninguém nasce desconstruído) ou se houve desleixo.

2) muitas pessoas ameaçaram-na, mandaram mensagens pesadas e, independente de ter sido pela web, mesmo que tenha sido da boca para fora, essas ameaças configuram crime. Uma coisa é resenhar/avaliar um autor/obra como bom ou ruim, e outra é atacar a pessoa pessoalmente.

3) a revolta foi indo de boca em boca até surgir uma lista de autores que, por apoiarem a autora, não deveriam ser mais resenhados (e no mundo literário, resenhas de blogs ajudam muito). E os autores que a defenderam estão sendo perseguidos e/ou beneficiados com essa polêmica.

4) há muitas pessoas apoiando a obra, criticando uma suporta censura e alegando que o "politicamente correto" está matando a literatura.

Foram sobre essas constatações que acabei parando tudo para escrever.

Talvez você não saiba que as pessoas de pele negra ainda sofram com racismo de tão internalizado que ele está na sociedade brasileira. Quando o assunto entra em vítimas de abuso sexual, a situação piora mais ainda. Coisas como romantização de violência, sexual ou não, racismo, discursos de ódio, estão tão presentes no cotidiano em filmes, novelas e livros, que nem sempre somos capazes de percebe-los, especialmente se estivermos do lado privilegiado. Logo, sem perceber, acabamos por repeti-los. Todavia, acredito que o conhecimento ainda é a melhor forma de desconstrução e é por isso que estou escrevendo. Afinal, como autores, nós exercemos muita influência na vida das pessoas.

Se você acha que livros ou história não têm poder, faça uma pausa. Respire e recorde-se de um nome: a Bíblia sagrada. Quer livro mais influente? A história de um profeta que foi torturado por pregar amor ao próximo atravessou o mundo e se tornou um marco a ponto de alterar a forma com que contamos os séculos. Modificou leis, sociedades e é motivo de guerras até hoje. Um exemplo mais próximo do nosso tempo: Mein kampf, de Hittler. Um verdadeiro discurso de ódio materializado em trocentas páginas que foi capaz de convencer parte de uma sociedade a odiar quem não fosse "Alemão puro" e a comunidade Judia. Não se tratava apenas de excluir as pessoas do convívio (o que já seria horrível), o livro de Hittler serviu para JUSTIFICAR a violência contra eles. Outro exemplo mais próximo ainda: Harry Potter. Pesquisas comprovaram que a geração de pessoas que leu a saga de J K Rownling se tornaram pessoas mais empáticas, mais tolerantes e até mesmo capazes de enxergar as manifestações de extremismo e rejeitá-los. Estamos falando de livros que mudaram pessoas. Se você ainda está achando que estou exagerando, pegue-se de exemplo. Não houve um livro que não te fez mudar de opinião? Ou desperta-lhe um sonho? Quem sabe até reunir seus melhores amigos, um grande amor, por causa de uma simples história? Um conto que o fez desejar fazer algo diferente? Acredite quando eu digo que livros tem poder, que histórias das mais inocentes causam efeito. Senão, por que escrever fábulas para ensinar moral a crianças? Por que lecionar com livros?