Está uma bagunça
feio
sangrando
doendoEle conseguiu
destruir em poucos dias
aquilo que eu preparei
por anosSem saber por que
eu varria a casa
mais que o necessário e
espirrava perfume nos quartosTodas as vezes que ele vinha
Ele olhava, mas voltava para bater na porta dela
Que só abria as janelas pra ele
abria para dizer adeuspatético
eu via tudo daqui
nunca deixei a porta aberta
mas também nunca trancava
pra ele saber que podia voltar sempre que quisesse
era meu amigo
tambémAté o dia em que ele cansou
de bater na porta dela
e começou a bater em outrasInclusive na minha
ele entrou
sentou
apreciou bastante a casaEncontrou conforto quando precisava
uma vez ele derrubou um copo d'água
molhou todo o chão da cozinha
mas eu limpei tão rápido que
ele nem percebeuPor um tempo
a casa ficou tão especial para nós dois
que eu comecei a chamar
de lar,
euMas acontece que tanta coisa
foi quebrando ao longo dos
dias
que eu nem sabia mais por onde
começar
Eu me perdi na bagunça que ele
fez
Não conseguia mais me encontrarAté o dia em que ele saiu sem
olhar para trás
levando o que achou que podia
e foi se deitar na escada da casa dela
ela saiu
estava meio estranha
mas saiuO que eles fizeram naquela escada
quando eu vi
eu só consegui
quebrar mais a casadoía
mas eu não conseguia
parar de quebrar
até que caí no chão frio
e lá permanecipor tanto tempo que acordei
congelada
me levantei
peguei uma garrafa de vinho.l
as chaves da casa e saí
tranquei a porta e nunca mais volteimuitos se aproximaram
para reconstruí-la
mas um lar em que ninguém
habita
jamais será
um lar novamente.