Erólico: Parte 1

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Victor saiu do último treino da noite exausto. Sua exaustão não se devia somente ao fato de sua carreira estar acabando como patinador, afinal, ele não era mais tão jovem aos 27 anos, mas também àquele sentimento de vazio em seu peito.

De que adiantaria treinar tanto e não possuir o espírito para tal? Sua coreografia estava

incompleta, ele pensava, relembrando sua conversa com seu treinador, Yakov:

- Qual o problema, Vitya?

- Eu não sei mais o que fazer, Yakov! Não me sinto bem patinando essa música.

- Mas a coreografia está perfeita!

- Os juízes vão olhar para mim e tudo que assistirão é um corpo patinando de um lado para o outro, fazendo movimentos mecânicos, esperando que alguém se convença com sua atuação.

- Você diz isso porque não sente que seus sentimentos estão integrados?

-Que sentimentos? Eu nem sei o que é Eros na prática. Passei minha vida inteira vivendo para a patinação. E mesmo que eu tenha ficado com várias pessoas, nunca me envolvi de fato com nenhuma delas. Eros para mim não é só sexo. É sedução, controle e a perda do controle. Não acho que eu tenha sentido isso antes.

- Vitya, nunca é tarde para descobrir coisas novas. Se você acha que só vai performar bem se experimentar o Eros, eu sugiro que não volte a treinar até encontrá-lo.

Yakov tinha razão, ele havia treinado mais um dia em vão, aperfeiçoando as técnicas, porém, dançando sem a alma.

O toque do celular tirou Victor de seus devaneios. Victor atendeu e ouviu a voz familiar.

- Vic, Sala e Mila estão te esperando, meu amor...

- Eu juro que me esqueci por causa do treino.

- Como alguém se esquece do casamento das amigas?

- Para começar, o casamento é árabe, não me pergunte o motivo. Depois, eu realmente estou desmotivado no momento, vou ser mais chato do que peso de papel.

- Você sabe que elas são excêntricas, Vic. Mas vão ficar muito magoadas se você não for.

- Vou ter que ficar grudado no bar a noite inteira. Só ficando muito bêbado eu vou aguentar essa noite, Chris.

Victor desligou e foi para casa. Ele merecia um banho e uma roupa bonita para contrastar com sua feição emburrada.

Se preparou como sempre, cuidando de seu corpo como um templo. Deu atenção especial aos seus cabelos longos e platinados, usando sua técnica especial com óleo de mamona. Não usaria terno aquela noite, apenas uma camisa social branca e uma calça jeans azul. Para completar, usou seu melhor perfume, que no fim da noite, estaria misturado ao cheiro de álcool em seu corpo.

Ele pediu um taxi e rumou à festa. Certamente, seria uma longa noite.

Ao chegar, Victor encontrou Chris, que o cumprimentou dizendo:

- Até casual você é de longe quem mais chama atenção aqui, Vic.

- Então realmente não é minha culpa. Eu só vim para beber.

- Vamos, eu te levo ao bar.

Ao chegarem ao bar, no qual tocava música árabe a pedido das noivas, Victor sentou e começou a observar os drinks mais pedidos, antes de começar a pedir os seus. O barman era um jovem moreno, de olhos pretos e sorriso fácil. Parecia uma criança, fato que fez Victor repensar sua estadia no bar.

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