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 Enquanto Oliver descia as escadas apressadamente, sua mãe enxugava os pratos que estavam na pia. A jovem corria em direção ao ponto de ônibus, do outro lado de sua calçada, onde esperaria por uma hora caso não pegasse o próximo ônibus. 

Sua mãe olhou pela janela do segundo andar de sua casa, onde ficava a cozinha mal planejada, e ria do jeito desengonçado da filha. Dona Almir olhou a mesa e viu que a filha esquecera seu telefone - para variar - e começou a gritar:


- Oliver, você deixou o celular aqui de novo! - Como Oliver odiava os gritos de sua mãe... Ela sempre fingia não escutá-los. - Ei! - Ela insistiu enquanto observava a filha atravessar a rua. - Você vai dobrar hoje de novo? - Oliver levantou as mãos e fez sinal de positivo ao mesmo tempo que corria pela frente do ônibus fazendo-o parar.


- Não foi dessa vez, Marcelo. - Ela falava ao motorista forçando uma intimidade que não tinham. Ele riu quando ela passou pela roleta e não podia mais ver seu rosto bolachudo.


O ônibus seguiu o trajeto de todos os dias, chegando finalmente ao destino de Oliver: uma rua repleta de bares. Já era meio dia e estavam todos lotados. Todas as mesas, feitas de madeira com estilo mais rústico até às de plástico com estampas de cervejas famosas, eram envolvidas por, no mínimo, quatro pessoas que riam sem motivo aparente e aquilo enchia Oliver de ânimo. Ela amava ver os sorrisos de desconhecidos um pouco alcoolizados.


Oliver subiu aquela rua estreita e bastante íngreme, até chegar no seu local de trabalho, o Bar do Seu Jorge. Na verdade, o bar se chama Burguesinha, mas "Seu Jorge" demonstra mais seriedade, ela acha, apesar de o dono do bar se chamar Emanuel. Felizmente, Emanuel não liga mais por errarem seu nome.

- Atrasada...


- Desculpa, Seu Jorge. Não vai se repetir. - Ela colocou o avental preto.


- Você disse isso ontem, Oliver... - Ele fez um sinal para que ela se aproximasse. - Olha, você devia decidir o que quer...


- Me desculpa mesmo. Eu não vou mais me atrasar. Por favor, preciso desse emprego.


- Precisa mesmo? - Os dois sabiam que aquilo era mentira, mas ele não disse mais nada.


Ela começou a servir as pessoas que estavam no bar. Sexta-feira era um dia muito movimentado, talvez por isso Seu Jorge estivesse com menos paciência que de costume. Convenhamos, aquele homem era um posso de longanimidade, ninguém teria a mesma paciência que ele tem com Oliver. Atrasos constantes e mais faltas do que deveria nos últimos dois anos. Ela não era a melhor garçonete que ele já teve, apesar de ser uma ótima amiga.


O dia passou como todos os outros. Oliver serviu os clientes, limpou as bancadas e mesas, foi à cozinha inúmeras vezes pegar os novos pedidos, ouviu cantadas inapropriadas e histórias tristes de bêbados, expulsou uns caras do banheiro de vez em quando... Tudo isso até dar 8 horas da noite, seu horário de saída.


- Já sabe, Seu Jorge. Se ela ligar, eu cobri o Jonatas. - Seu Jorge balançou a cabeça para os lados em tom de reprovação.


Oliver tirou seu avental, pegou uma sacola que estava embaixo de um dos balcões e foi em direção ao banheiro trocar de roupa. Colocou seu terno azul marinho barato e seu óculos escuros falsificado e voltou a subir a rua estreita de bares. 

Em sua contramão desciam alguns jovens de uma faculdade próxima dali, uns 6 advogados comemorando uma despedida de solteiro, e alguns garis que varriam a rua de cima para baixo. À medida que as pessoas se despediam de seus ambientes de trabalho, Oliver Stan se via cada vez mais próxima de seu segundo emprego.  

Oliver StanOnde histórias criam vida. Descubra agora