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  - Você tem sido nossa salvação! - Disse a mulher quando a sexta sessão já estava quase acabando.


- Nada disso seria possível se vocês dois não quisessem... - Disse Oliver. Eles não viram o rubor de suas bochechas provocado pelo sentimento de gratificação. O escuro servia para muitas coisas.


- A gente se conectou e se conheceu muito mais depois que começamos a falar um com outro sem medo. - Disse o homem que usava a mesma camiseta da primeira sessão. Ele não ligava muito para aparência ao contrário de sua esposa. - Até entramos em sites online com outros casais. O engraçado é que a gente sempre quis, mas nunca tivemos coragem de dizer um ao outro. - Eles riram frouxo. Já não se sentiam inseguros perto de sua conselheira.


- O diálogo é a chave de tudo. - Oliver amava frases curtas que diziam muita coisa. - Mas, e aí? Como foi a experiência?


- Foi maravilhosa! - A esposa exclamou. - Tem um casal que quer nos encontrar, acredita?


- Mas isso a gente ainda tá vendo. - O homem falou com menos entusiasmo.


- Um passo de cada vez. Vocês têm muito tempo... Bom, por hoje é só. Semana que vem nos encontramos de novo e acho que já pode ser a última sessão.


- Ah. - O casal disse junto em um mais tom triste.


- Vamos sentir falta. - Disse a mulher.


- É verdade. - Confirmou o homem.


- Agora vocês não precisam mais de mim, fiquem felizes por isso! - Disse Oliver levando-os até a porta. - Não faltem a próxima quarta! Até!


- Está bem... Até semana que vem. Boa noite! - Disseram enquanto iam para o elevador, "animadinhos" como sempre. Que noite longa.


Ao escutar o barulho do elevador fechar, Oliver suspirou aliviada, estava livre para tirar o sutiã que tanto a apertava e dormir ali mesmo, no chão. Eles eram o último casal da noite e ela só sabia agradecer a Deus. Estava muito cansada. Parece que todo o tempo que ela não conseguiu dormir nos últimos dois anos estava retornando com juros nesse mês e meio que estava morando no consultório ou talvez fosse a solidão pesando seus olhos e fazendo ela fugir daquela realidade infeliz. Ela não sabia dizer. Ela só queria dormir e não pensar.


Em uma dessas noites, o celular tocou importunando seu sono. Era seu pai, mas ela não atendeu. Depois, ligaram novamente, mas era seu irmão mais novo.


- Como você tá?


- Tô bem. Não se preocupa.


- O pai tá arrependido e a mãe finge que não sente sua falta.


- Não posso mais morar aí. Preciso construir meu futuro sozinha. Não tem nada a ver com eles, tá? - Ela pausou, pensando se aquilo era ou não verdade. - Olha, diz para eles que eu tô na casa de uma amiga da faculdade.


- Que faculdade?


- Ah, é. - Pensou. - Do curso de inglês que comecei. Se eu falar que tô na Beca eles veem atrás de mim. - Ela sempre soube mentir bem. Nunca revelaria a ninguém seu real paradeiro e sabia que seu irmão diria o que ela dissesse e eles não se preocupariam mais. Beca era sua melhor amiga, eles pensavam.


- Tá bom. - Desligou. Ele não era um poço de educação.


Com a ligação do seu irmão mais novo, Oliver teve um insight. Ela percebeu que agora poderia realizar seu sonho de se formar em uma graduação. Ainda não tinha pensado em alugar as outras salas do nono andar, mas percebeu que assim poderia ter uma renda extra e pagar uma boa faculdade para aprimorar seus conhecimentos.


- Já me matriculei. - Disse ela enquanto limpava o balcão.


- Começa quando?


- Acho que semana que vem.


- Mas já!? - Exclamou Seu Jorge pensando que iria perder sua funcionária favorita. Ela era sua melhor amiga, na verdade.


- Eu vou estudar na faculdade aqui perto. Venho aqui todos os dias te ver, mas não vou poder mais trabalhar aqui, senão não vou aguentar. - Ela abraçou com um dos braços seu chefe baixinho e ele fez cara de descontentamento.


- Tá. Eu não queria. Mas tô feliz por você! - Sorriu. - Finalmente minha filha postiça vai estudar. - Seu Jorge a rodopiou no alto. Ela riu. - Uma rodada por minha conta! - Oliver viu os clientes indo ao delírio ao mesmo tempo que observou sua mãe chegar e a encarar com um olhar punitivo.


- Vem aqui. - Chamou Dona Almir discretamente. - Então é na casa dele que você tá, né? Bem que seu pai disse e eu não acreditei.


- Não, mãe! Nada a ver! Eu tô na casa de uma amiga.


- Para de mentir, Oliver. Tá tudo muito claro agora. - Disse quase como um cochicho. Era importante para Dona Almir que ninguém soubesse das atitudes de sua filha. - Esse abraço aí... Não sei, não...


- Mãe! Olha o que tá dizendo! - Oliver não acreditava no que sua mãe acabara de dizer.


- Eu ia te chamar pra voltar para casa, mas já vi que ficar aqui na bagunça com os homens que você quer. - Começou a choramingar.


- Não acredito que cê tá dizendo isso pra mim.


- Toma. - Entregou umas roupas dela numa mochila e saiu sem se despedir. Oliver observou sua mãe sair como se fosse alguma pegadinha que o destino pregara.


Oliver começou a correr em direção ao consultório, sem dar atenção ao Seu Jorge e as outras pessoas gritarem. Seus olhos se cobriram de tanta lágrima que não enxergava um palmo a sua frente. Estava desolada. Sua própria família a via com olhos de escuridão e não viam o bem que ela emanava às pessoas em sua volta. Ela começou a questionar se ela era realmente ruim. Conforme os pensamentos vinham, sua velocidade aumentava e ela estava cada vez mais perto de chegar e se esconder no seu canto particular. Ela nem viu quando o carro chegou...

Oliver StanOnde histórias criam vida. Descubra agora